Onze pessoas, entre informantes e testemunhas de acusação, foram ouvidas na primeira audiência do processo que apura o atropelamento de um jovem de 22 anos na Gleba Palhano, bairro nobre da zona sul de Londrina, perto da meia-noite de 10 de outubro do ano passado. Por conta da pandemia, os depoimentos ocorreram de forma virtual na 1ª Vara Criminal, onde tramita o caso. O rapaz foi atropelado pelo motorista de um Hyundai/IX 35 na Rua Jerusalém, ao lado da Praça Pé-Vermelho.

Como a região é cercada de prédios, tudo foi filmado e em pouco tempo viralizou nas redes sociais. Os vídeos amadores, que foram provas importantes para a Delegacia de Homicídios, mostram algumas pessoas discutindo com o condutor. A vítima tenta abrir uma das portas para tirar a chave de ignição, mas é arremessada no chão após o acusado dar ré. Ele ainda passa por cima do jovem, socorrido pelos amigos. Alguns deles ainda tentam parar o homem, que foge em seguida.

Veja a gravação

De folga, um policial militar viu a confusão e quis impedir a fuga dando um tiro para o alto. O motorista responde a ação de tentativa de homicídio qualificado em liberdade. O rapaz atropelado foi ouvido durante a audiência criminal. Em 20 minutos, ele relatou que tudo começou quando viu o acusado brigando com a namorada na rotatória da avenida Maringá com a Ayrton Senna. "Estava com uns colegas no carro e vimos os dois discutindo. Paramos e ela pediu ajuda, dizendo que queria sua bolsa. Ele saiu e tentamos acalmá-la. Pediu que a levássemos para seu apartamento, ali na Gleba", disse.

A mulher seguiu com o grupo para a rua Jerusalém, onde se deparou com o namorado. "Ele estava com o carro dela na frente do prédio. Tentamos conversar, mas não deu certo. Ela só queria sua bolsa e outros objetos. O motorista deu uma volta no quarteirão e voltou bem nervoso. Foi aí que começou a confusão. Abri a porta do passageiro para pegar os pertences da moça, mas fui arremessado. Do jeito que caí, nem deu tempo de reagir. Vi ele passando por cima de mim, mas perdi a consciência logo depois", afirmou, respondendo algumas perguntas do promotor Tiago Gerardi.

Na sequência, foi a vez do advogado Mauro Sérgio Martins dos Santos, que representa a vítima, fazer uma única pergunta para seu cliente. "Ele manobrou ou jogou o carro contra você?". Sem pensar duas vezes, o jovem responde que "na hora que estava deitado, ele jogou o veículo". "Disso não tenho nenhuma dúvida", afirmou.

A vez da defesa

Na maior parte do depoimento, os advogados de defesa do ré, Marcos Ticianelli e Vinícius Canesin, questionam a versão do jovem. O principal ponto é o suposto pedido de ajuda da mulher ainda na rotatória. "Você viu ele acelerando a moto pra cima dela? E por que não disse isso em delegacia?", pergunta Ticianelli. "Eu falei pro delegado", rebateu.

O defensor indaga se o condutor teria sido agredido pelos jovens. "Você disse no inquérito que alguém teria dado um soco. Houve agressão? Quem fez isso? Por que ninguém falou na delegacia sobre esse fato?". O rapaz apenas responde que tentaram dar o soco, mas não se recorda quem seria. "Ele jogou a moto quando foi sair", comentou. Já na Jerusalém, a vítima reafirma que tentou conversar com o condutor. "Não aconteceu nenhuma agressão. Não vi nenhum hematoma nele", observou.

O que dizem os envolvidos

Para o advogado Mauro Martins, "a audiência veio a reforçar o que a defesa espera, a pronúncia do réu para o Tribunal do Júri pelas tentativas de homicídio qualificado. Todos foram unânimes em relação à dinâmica dos fatos. As imagens das câmeras de segurança, aliadas aos depoimentos, reforçam a acusação. Não há dúvidas que ele, utilizando-se de seu veículo, agiu na intenção de matar."

Já Ticianelli e Canesin informaram em nota que "a acusação não reflete a realidade dos fatos. Provaremos a inocência durante a instrução do processo." A próxima audiência do caso está marcada para 4 de outubro. Na ocasião, serão ouvidas testemunhas de acusação que faltaram, as de defesa e o motorista.