Complexo do Alemão, onde bebê de oito meses morreu em março, foi palco de operação militar nesta segunda-feira
Complexo do Alemão, onde bebê de oito meses morreu em março, foi palco de operação militar nesta segunda-feira | Foto: Mauro Pimentel/AFP


Rio - Durante os cinco meses de intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro, dez crianças foram baleadas na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Duas delas morreram. Os dados são de um balanço divulgado pela organização não governamental Fogo Cruzado, que levanta e disponibiliza num aplicativo informações coletadas por usuários, imprensa e polícias.

Nas estatísticas da violência está Benjamin, de apenas um ano de vida, morto em seu carrinho de bebê, atingido durante um tiroteio em 16 de março, na favela Nova Brasília, no Complexo do Alemão, zona norte do Rio. Três semanas antes, o menino Marlon, de 10 anos, também perdeu a vida durante um tiroteio no Morro do Cantagalo, na zona sul da capital.

O número de tiroteios e disparos na região metropolitana saltaram 37% durante a intervenção federal, em relação aos cinco meses anteriores. De acordo com a organização, foram registrados 4.005 tiroteios e disparos entre 16 de fevereiro e 15 de julho, contra 2.924 entre 16 de setembro de 2017 e 15 de fevereiro deste ano. Desse total, 690 episódios (17%) contaram com a participação de agentes de segurança, ante os 316 (11% do total) verificados nos cinco meses anteriores.

O Observatório da Intervenção contabiliza que foram realizadas 280 operações monitoradas pelo Comando Conjunto da intervenção, que mobilizaram 105 mil agentes, nas quais foram apreendidas 260 armas de fogo, uma média de 0,9 arma por operação. Cada operação contou, em média, com 375 agentes envolvidos, embora algumas tenham mobilizado milhares de militares e policiais.

Uma menina, de 7 anos, foi a primeira criança vítima de tiro desde que foi assinado o decreto da intervenção, de acordo com os dados do Fogo Cruzado. Ela foi atingida durante um tiroteio no Imbariê, bairro de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, em 21 de fevereiro. A última foi um bebê, de apenas seis meses de vida, ferido por uma bala pedida em uma escola no Cosme Velho, zona sul da cidade.

Ao todo, 44 pessoas foram vítimas de bala perdida na Região Metropolitana do Rio em cinco meses de intervenção federal. Nove delas morreram.

O aplicativo Fogo Cruzado aponta que o número de mortos após a intervenção diminuiu quase 8%. Nas áreas com UPP (Unidades de Polícia Pacificadora), a queda foi de 33%. Mesmo assim, em toda a região metropolitana, 637 pessoas morreram em decorrência de disparos de armas de fogo nos cinco meses de intervenção federal

A organização também levantou o número de chacinas, que consideram tiroteios que terminaram com mais de três civis mortos, desde a edição do decreto de intervenção, no dia 16 de fevereiro. Foram 28 episódios, quase todos nas zonas norte e oeste e em municípios da região metropolitana. Segundo os dados do Fogo Cruzado, houve um total de 28 chacinas, 80% a mais que nos cinco meses anteriores, que resultaram na morte de 199 pessoas, um aumento de 128%.