Eleitores enfrentam enormes filas, calor e congestionamento Do enviado especial Roberto Lameirinhas
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sábado, 08 de abril de 2000
Lima, 09 (AE) - As filas eram imensas nos locais de votação. Algumas pessoas aguardaram, sob o escaldante sol de Lima, mais de uma hora para chegar à urna. "Parece coisa de louco, mas vim de Arequipa (sul do país) até aqui só para anular meu voto", disse Marcos Portillo, estudante, de 21 anos.
"Eu morava aqui há dois anos e não mudei meu domicílio eleitoral justamente para ter um pretexto para vir a Lima. Não acredito que Toledo seja uma boa opção para o país e tenho certeza de que Fujimori também não é. Então, melhor votar nulo."
Na mesma fila, o motorista de táxi Norberto Pillar, de 46 anos
tentava convencer o jovem a mudar de idéia e votar em Fujimori. "Não jogue seu voto no lixo. Vote no Chino. Já imaginou se o Sendero (Luminoso) voltar a matar gente na sua Arequipa como acontecia antes?", argumentava.
Depois, voltando-se para a reportagem da Agência Estado, deixou claro o racismo dos limenhos em relação aos moradores das serras, com fortes traços indígenas: "Pode escrever aí: Toledo é um cholo, e cholos e negros não podem nunca chegar ao poder. Negros querem ser como brancos e cholos querem ser gringos."
O estudante, aparentemente de origem indígena, virou-se com olhar de clara desaprovação. "Perdão, não quis te ofender", desculpou-se o taxista. A conversa terminou por aí.
Em alguns lugares, o excesso de veículos e de pessoas nas ruas causou congestionamentos. Passar de carro pelos arredores do Estádio Municipal de Lima, o local de votação com o maior número de eleitores escritos era praticamente impossível. A lei que proíbe a distribuição de propaganda política era rigorosamente respeitada. Não havia nenhum cabo eleitoral fazendo campanha.
A mesma atitude verificava-se em relação à lei seca. Desde a zero hora de sexta-feira e até o meio-dia de amanhã, a venda de bebidas alcoólicas estava proibida.
"Ninguém se atreve a desafiar a lei seca", disse Rudi Zenga, gerente do café Dime Di Si, em Miraflores. "Alguns donos de restaurantes e bares preferem manter os estabelecimentos fechados a sujeitar-se às pesadas multas por violação de lei."