As escolas estaduais do Paraná estão passando a utilizar o reconhecimento facial como forma de registrar a frequência escolar dos alunos. Passando por testes desde o ano passado, o software chegou em maio a 1.667 escolas estaduais que, a partir de agora, vão controlar as presenças e faltas dos alunos por meio de fotos da turma.

A expectativa é ter um ganho de quatro a cinco minutos por aula com esse novo modelo
A expectativa é ter um ganho de quatro a cinco minutos por aula com esse novo modelo | Foto: Lucas Fermin/Seed/AEN

De acordo com a Seed (Secretaria Estadual de Educação do Paraná), a expectativa é ter um ganho de quatro a cinco minutos por aula com esse novo modelo.

Claudio Aparecido de Oliveira, diretor de Tecnologia e Inovação da Seed, ressalta que o reconhecimento facial vem se tornando cada vez mais comum no dia a dia por ser mais rápido e eficiente. Como exemplo, cita que a tecnologia já é utilizada no controle de entrada e saída de trabalhadores, substituindo o cartão, crachá ou digital.

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“A motivação para que a gente tenha implantado o reconhecimento facial na rede de ensino é baseada na questão do ganho de tempo no registro de frequência em sala de aula”, explica.

Segundo ele, a equipe da Seed usou como base um estudo de 2015 do Banco Mundial, que diagnosticou que apenas 66% da hora aula é utilizada para a aprendizagem; o restante é destinado para outras atividades, incluindo a chamada nominal.

Com essa mudança, Oliveira estima um ganho que equivaleria a cerca de 15 horas a mais de aprendizagem durante o ano letivo. A carga horária da matriz curricular no ensino fundamental é de 800 horas-aula no ano e no ensino médio, de mil horas-aula anuais. A economia de tempo equivaleria a 1,5% da carga horária durante o ano letivo.

O projeto-piloto começou em janeiro de 2022 com 89 escolas, fechando no dia 3 de maio o restante das 1.667 escolas estaduais equipadas com fibra óptica. Segundo o diretor, nesse momento, ficaram de fora as escolas em que a conexão de internet ainda é por satélite, como em ilhas do litoral, escolas indígenas e quilombolas.

“[As 1.667 escolas] equivalem a 78% das escolas da rede e, por se tratarem das maiores escolas, nós já estamos atendendo 95% dos alunos”, explica. De acordo com Oliveira, a Seed tem um cronograma de migração da conexão via satélite para fibra óptica, o que vai permitir a inclusão das outras 471 escolas. Ele não detalhou prazos para que essa migração aconteça.

Oliveira explica que o software que faz o reconhecimento facial dos estudantes é o Sistema de Registro de Classe Online, que já vem sendo utilizado na rede desde 2014.

“Dentro do software, quando ele [o professor] abria o registro, aparecia uma lista para fazer a chamada nominal; agora, esse comando vai abrir a câmera do celular para que ele tire até quatro fotos da turma. A medida que ele vai tirando as fotos, vai aparecendo a porcentagem de alunos reconhecidos”, detalha. Os alunos que não forem reconhecidos automaticamente vão receber a presença de forma manual.

Sobre o celular utilizado para fazer o controle da frequência dos alunos, o diretor ressalta que os professores já têm a cultura de usar o aparelho para registrar faltas e presenças. Segundo ele, neste mês, começaram a ser distribuídos tablets para as escolas da rede, que poderão ser utilizados pelos professores. Entretanto, ele não informou a quantidade de equipamentos que serão disponibilizados.

Os professores que não têm ou não querem utilizar o celular próprio, o diretor ressalta que todas as salas de aula têm um equipamento chamado de Educatron, que é uma TV conectada a um minicomputador e uma webcam. Ele explica que os professores podem utilizar esse equipamento, mas ressalta que “não é fácil enquadrar todos os alunos como em um aparelho móvel”.

Desenvolvido pelo Celepar (Companhia de Tecnologia da Informação e Comunicação do Paraná), o reconhecimento facial vem sendo implantado de forma gradativa. Neste ano foram investidos R$ 1.042.557,15 no sistema, o que equivale a R$ 1,16 por aluno. No entanto, até o fim do ano, o diretor estima que a implantação completa do sistema deve custar mais de R$ 4 milhões. As fotos tiradas pelo professor não ficam armazenadas no dispositivo, já que vão diretamente para o sistema em forma de código.

'Plataformização'

Para a professora Adriana Medeiros Farias, do Departamento de Educação da UEL (Universidade Estadual de Londrina), a implementação da tecnologia de reconhecimento facial nas escolas é parte de um projeto amplo de “plataformização” da educação pública do Paraná.

Segundo ela, o uso do reconhecimento facial não é uma ferramenta vinculada a uma melhora na qualidade do registro da frequência escolar, mas nas metas estabelecidas pela Seed e que devem ser cumpridas pelas escolas. “Nesse controle, a gestão escolar está submetida a essas metas sob ameaça de uma destituição da gestão”, afirma.

Farias ressalta que, apesar de parecer positivo o uso de uma ferramenta tecnológica no ambiente escolar, essas mudanças são feitas sem a consulta aos docentes e na maioria das vezes sem estrutura, já que se utiliza de equipamentos particulares dos professores.

“O controle excessivo da atividade docente beira a coerção e a coação. Nesse momento, a rede pública estadual paranaense e seus trabalhadores estão completamente cerceados da sua autonomia didático-pedagógica e de uma gestão democrática participativa. Importante destacar que essa não é uma comemoração do ponto de vista do uso das tecnologias, mas é mais uma vez um instrumento que faz com que o trabalho docente tenha um controle externo, feito pelas plataformas, pela direção regional e por cobranças contínuas de metas que as escolas devem cumprir”, esclarece.