Após o Ministério Público abrir procedimento administrativo em que cobra do município maior rigor na fiscalização sobre o funcionamento das academias de ginástica e centros de treinamento, empresários ouvidos pela reportagem demonstraram ainda mais preocupação com a situação financeira dos empreendimentos e outros afirmaram que o setor está sendo “perseguido”. Além de conceder prazo de 24 horas para que o prefeito Marcelo Belinati (PP) apresente os critérios técnicos que embasaram a permissão para a retomada dos cultos em igrejas, a promotora da 24ª Promotoria de Justiça de Londrina, Susana de Lacerda, também solicitou à Prefeitura que apresente um plano de fiscalização sobre esses estabelecimentos e pediu providências para o transporte público a algumas atividades empresariais.

Higienização dos equipamentos e limitação da capacidade para pequenos grupos vêm sendo adotadas.
Higienização dos equipamentos e limitação da capacidade para pequenos grupos vêm sendo adotadas. | Foto: Gustavo Carneiro

Entretanto, enquanto o decreto do governador Ratinho Júnior (PSD) do dia 20 de março permanece em vigor e o Coesp (Centro de Operações de Emergência em Saúde Pública), no dia 21 de maio, deliberou pela proibição do funcionamento desses estabelecimentos, alguns empresários decidiram "apostar" no que diz o decreto federal do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que incluiu as academias no rol de atividades essenciais e desencadeou um processo de "judicialização" sobre o setor.

É o caso do gestor de uma academia que fica na avenida Duque de Caxias e cuja reabertura parcial se deu há uma semana. Wagner Doirado, 36, lamentou que outros setores não estejam sendo tão “cobrados” quanto as academias. “Então eu acho que é um meio de estar em cima do nosso setor mesmo, não entendemos o porquê. A academia sempre trabalhou com higienização. Dificilmente você vê alguma academia desleixada em relação a isso. Estamos trabalhando com controle de alunos, aferição de temperatura, higienização desde a porta de entrada, espaçamento e os alunos estão bastante conscientes”, declarou.

No local, uma sala para a prática de outras modalidades com capacidade para a até dez alunos não tem sido mais utilizada. Já no salão onde até 40 clientes poderiam utilizar os aparelhos ao mesmo tempo hoje em dia a ocupação está limitada a 12 pessoas por turno, explicou. “Estamos trabalhando dentro do plano de contingência baseado no último que foi enviado à Prefeitura para análise do Coesp e seguindo o último plano da Associação Brasileira de Academias”, afirmou.

De acordo com a promotora Susana de Lacerda, as medidas levam em consideração o crescente número de casos em Londrina e a taxa de ocupação dos leitos hospitalares destinados ao atendimento pelo SUS (Sistema Único de Saúde).

Entretanto, para o proprietário de uma academia que contava com 380 alunos antes da pandemia do novo coronavírus e que pediu para não ter o nome divulgado, se o número de casos continuar crescendo no município “não será por culpa das academias”, avaliou. De acordo com ele, menos de 70 alunos voltaram aos treinos, seja por terem medo ou por terem a renda reduzida, o que levou muitos a solicitarem o estorno da cobrança dos valores investidos. Desde que retomou as atividades, na terceira semana de maio, após uma autorização judicial, o empresário vê grupos de seis ou sete pessoas treinarem no local que antes recebia até 40 alunos ao mesmo tempo e afirma que vive um momento de tensão causado pelo imbróglio judicial vivido pelo setor.

Na mesma situação se encontra o empresário Samuel dos Santos, 55, no ramo há 16 anos. Ele avaliou que 40% dos cerca de 450 alunos são idosos e estes foram orientados a não retornarem. De acordo com ele, a “propaganda” sobre a pandemia, em referência às notícias, já fez com que os alunos deixassem de comparecer. “Em nenhum momento vem mais de dez alunos, não está tendo aglomeração", disse.

No final da tarde desta quinta, imagens de um documento deixado pela Guarda Municipal de Londrina em uma academia passaram a circular nas redes sociais. O relato apontava que um estabelecimento estava em desacordo com a recomendação do Coesp e em "pleno funcionamento". Procurado, o secretário de Defesa Civil, Pedro Ramos, preferiu não comentar, mas fez uma menção à medida da 24ª Promotoria.