SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - "A gente veio falar sobre extermínio". É assim que começa o filme "Pandemia do Sistema", documentário que estreia nesta terça-feira (4) e que investiga como o coronavírus afetou a realidade nas favelas de São Paulo.

Dirigido pela cineasta Naná Prudêncio, o filme acompanha a realidade de moradores de favelas e ocupações por toda a cidade, como Heliópolis, Brasilândia, Morro dos Macacos, Fazenda da Juta, da Ilha e Godoy.

Na tela, histórias de moradores que não puderam parar de trabalhar presencialmente, que cuidam de até dez crianças em casa, que estão sem emprego e que não conseguiram acessar o auxílio emergencial de R$ 600 oferecido pelo governo.

Em comum, há ideia de que "se a gente não se ajudar, ninguém ajuda", resumida por Rafa Abranches, uma das entrevistadas do Parque Dorotéia, na zona sul da cidade, e repetida, com outras formulações, por outros personagens do filme.

Embora já tenha virado lugar comum dizer que a pandemia do coronavírus serviu para escancarar problemas que já existiam, o documentário mostra que em poucos lugares isso está mais claro do que nas favelas da cidade mais rica do país, como afirma Nego Marcos, de Taboão. "É um sucateamento que vem acontecendo há anos", diz.

O vírus é novo, mas o medo da rua vem de muito tempo e é bem conhecido por negros e travestis que vivem o isolamento social há 500 anos, nas palavras de Matuzza, da Casa Chama, que acolhe a população transgênero.

"Existem corpos escolhidos pelo estado para viver numa pandemia, num isolamento eterno, que não é de agora", diz ela. "Nos é tirado o direito de sair na rua e permanecer vivo. Esse medo que a sociedade em geral está tendo de sair de casa agora é um medo que para a gente existe desde sempre. A gente não sabe se sai de casa e volta vivo", resume.

O filme estreia nesta terça, às 19h, online, no endereço facebook.com/almapretajornalismo. Na sequência, haverá um debate com Douglas Belchior (Uneafro Brasil), Luana Vieira (Pagode Na Disciplina) e Raimunda Boaventura, mediado por Semayat Oliveira (Nós, mulheres da periferia).