Londrina - Danças, cantos e rituais indígenas foram evocados na manhã de ontem em Londrina para celebrar o Dia do Índio. Durante a manifestação cultural, que aconteceu em frente ao Centro Cultural Caingangue (localizado às margens da Avenida Dez de Dezembro), integrantes da Aldeia Água Branca aproveitaram para reivindicar o direito de permanecer no fundo de vale próximo à Prefeitura de Londrina, onde residem há 15 anos.
"É um dia de festa. Por isso, pintamos os corpos com carvão e semente de urucum. E relembramos rituais cultuados por nossos antepassados e que são usados para reforçar nossa religiosidade e o respeito que temos por todos os elementos da natureza", salienta Renato Criri, um dos líderes da Aldeia Água Branca, tribo que tem cerca de 30 famílias vivendo em Londrina e o restante em uma área que faz divisa com a reserva Apucaraninha (distante 60 km de Londrina), onde residem outras 1,2 mil famílias indígenas.
O índio explicou que cada estilo de pintura corporal remete a situações específicas. "Existem pinturas que simbolizam a guerra, caça ou que servem para identificar lideranças das aldeias ou facilitam o reconhecimento de membros de uma mesma família. Já os cânticos servem para homenagearmos os espíritos que a gente acredita existirem nas árvores e em cada animal vivo", esclarece.
Apesar do clima de comemoração, os líderes da aldeia aproveitaram o evento para reivindicar o direito de permanecerem no fundo de vale, localizado próximo à Prefeitura de Londrina. "A promotoria do Meio Ambiente alega que essa é uma Área de Preservação Permanente e pede que a gente saia daqui. Mas vivemos aqui há 15 anos. Neste local a gente tem tudo o que precisa, pois podemos pescar no rio que atravessa o terreno onde moramos e fica próximo a lugares movimentados onde podemos vender os cestos artesanais que produzimos e que são nosso único sustento", argumenta Criri.
Outra reivindicação da comunidade indígena é a reabertura do Centro Cultural Caingangue. "Antigamente a gente podia vender nossos produtos no salão que foi construído pela própria prefeitura. O Centro Cultural servia de referência para divulgarmos nossa cultura, principalmente aos estudantes que nos visitavam. Mas faz meses que o local está trancado", reclama o líder indígena.
Recentemente a administração municipal tentou negociar a saída dos índios do fundo de vale oferecendo uma área na zona sul, próxima à Chácara São Miguel, mas a localização do terreno não foi aprovada pelos índios. "É um local distante e de acesso muito difícil, o que iria prejudicar a venda do nosso artesanato. Podemos até sair daqui, mas desde que seja para um lugar apropriado", salienta.
A celebração promovida pelos índios contou com a participação de integrantes da reserva Apucaraninha e raros espectadores. "Fiz questão de vir prestigiá-los. Acho importante dar apoio à causa e lembrar o poder público que esse é um espaço legítimo desta comunidade indígena", enfatiza Fábio Tuani, estudante do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Londrina (UEL). "Estou aqui como historiadora para reforçar a importância de preservar a cultura indígena. Afinal, os índios são os primeiros brasileiros que se têm notícia e sua importância histórica e cultural merece e deve ser preservada", conclui Bruna Rodrigues, estudante do curso de História da UEL.