Chega o segundo domingo de maio e, mais uma vez, filhos correm para as lojas à procura do presente perfeito para suas mães. O que levar? Uma bolsa, para que ela carregue todas suas qualidades? Um perfume, para que ela esteja envolta de uma essência pura? Flores, às quais podem tentar mas nunca serão tão lindas quanto ela? Ou um singelo cartão, que vai tentar, em palavras, exprimir o quanto eu a admiro? Seja a escolha simples ou rebuscada, a intenção é fazer com que a presenteada se sinta como a mãe mais amada do mundo – o que é verdade, para cada filho. Quem seria a melhor mãe do mundo senão nossa?

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De fato, não é novidade que o que importa de verdade não é o presente, mas sim esse amor, muito maior do que um mero laço sanguíneo. Às vezes, ser mãe nem depende de sangue, pois é mãe aquela que se dedica a criação de um filho. É cuidar, e ser cuidada. Amar e ser amada. É desafazer-se do que já sabia sobre si para descobrir duas novas pessoas: o filho e ela mesma, uma nova mulher. Ser mãe não é apenas colocar uma vida no mundo, mas dar vida ao mundo.

Há quem diga que uma mãe se alegra mais com as conquistas do filho do que com as dela própria. Nada mais natural, então, que o filho, quando perceber o tamanho do cuidado que recebe, não meça esforços para também agradar a mãe, em uma tentativa de igualar sua atenção à toda aquela que veio dela. Mas já deixo avisado que, nesse jogo, não há empates: sejamos gratos pelo trabalho de nossas mães, mas tendo em mente que nada que faremos pode se equiparar à maternidade.

Veja o quão plural é essa palavra. Maternidade. Ela não é apenas o lugar onde se cuida das mulheres grávidas ou de seus recém nascidos, é também o nome de uma trajetória na vida de muitas mulheres – 67 milhões só no Brasil, para ser mais exato, segundo o Instituto Data Popular. A palavra vem do latim “mater”, que significa mãe, mas, quando a gente brinca com o português, maternidade pode ter, dentro de si, um pedaço de ternura, outro de dádiva, ou ser uma prima de maturidade – tudo isso sem sair do espectro do que é ser mãe.

Afinal, o que poderia definir o que é ser mãe? Dar a luz? Ser mulher adulta? Estar próxima de seus filhos? Assim como a palavra em si, a maternidade tem significado em muitas faces, muito mais que 67 milhões. Por isso, a FOLHA convidou mães que viveram suas próprias maternidades de formas diversas para compartilhar suas vivências e mostrar que não há uma única resposta para essa questão.

Esse espaço é uma homenagem às mães biológicas, mães de coração, mães de muitos, mães de primeira viagem, mães solo, futuras mães e outras inúmeras mães que possam existir. Desejamos a todas vocês, neste segundo domingo de maio e em todos os dias que estão por vir, um muito obrigado e um feliz Dia das Mães!

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Quem é mãe de quem?

“Eu acredito que me tornei mais mulher depois de ser mãe”, reflete Vanessa Oliveira, 34 anos, ao lembrar do nascimento do primeiro filho, Leonardo, há 18 anos. Ainda adolescente à época, aprendeu muito sobre o que é ser mãe. O exemplo vem de sua própria mãe, Luíza Oliveira, de 59, e também da avó paterna, Lázara Oliveira, de 84.

Luiza, Vanessa, Maria Luiza e Lázara
Luiza, Vanessa, Maria Luiza e Lázara | Foto: Filipe Barbosa/Especial para a FOLHA

Luíza, que é merendeira, teve duas filhas, Vanessa e Daniele. No tempo em que eram meninas, Lázara já estava presente “Ela ajudou eu cuidar das duas”, conta Luíza, sobre a sogra - “Ela ajudava a levar para a escola, buscar. ‘Vixe’, ela fazia de tudo pelas minhas filhas”. Hoje, os papéis já são outros, são Luíza e Vanessa que cuidam de Lázara, com a ajuda da pequena Maria Luíza, que leva a avó em parte do seu nome.

Maria Luíza é a segunda filha de Vanessa. Aos 8 anos, senta-se ao lado da mãe, compartilhando das mesmas unhas bordôs, do mesmo cabelo tingido de roxo e do mesmo sorriso sincero. Com as mulheres da família aprendeu a cozinhar os quitutes favoritos, fazer pão, preparar o macarrão. Mas Luíza denúncia que a neta Maria prefere quando as avós o fazem, “de mão beijada”.

As quatro sentadas lado a lado, e ainda por cima com a coincidência do mesmo sobrenome, podem confundir quem observa. Quem é mãe de quem? Essa confusão chega até mesmo à cabeça de Maria Luíza, que convive com as mulheres todos os dias. “Eu nem sabia que ela era minha bisavó” – fala sobre Lázara – “Eu só chamava ela de Vó Lazinha”. E quem poderia dizer que ela está errada? Afinal, a bisavó continua sendo uma figura de avó e, de certa forma, uma figura de mãe.

As mães a sua volta

Alaídes Quesada dificilmente está só. “Parece conto de mentiroso, mas eu sou mãe de sete filhos” – conta a senhora de 85 anos, muito orgulhosa. “E qual a parte boa de ter sete filhos?”, pergunta a neta Daiane Quesada, 39 anos. “Qual é a parte boa? Ah, são todas!” – exclama Alaídes – “Quer mais? Maior felicidade do mundo!”.

Ivonete, Daiane, Patrícia, Maria de Fátima e Alaídes
Ivonete, Daiane, Patrícia, Maria de Fátima e Alaídes | Foto: Filipe Barbosa/Especial para a FOLHA

Na família Quesada, ser mãe é uma experiência compartilhada com outras mulheres. Daiane entende que a presença da mãe, das irmãs, das avós e das tias é uma riqueza para a mãe no nascimento de uma criança, “porque ou você conta com outro nesse processo ou você não consegue evoluir” – relata ela, resgatando os desafios da jornada de ser mãe – “maternidade é difícil, é complexa, é dura. Ao mesmo tempo que é mãe, a gente se se descobre como mulher”.

Sua irmã, Patrícia Quesada, é a mais nova mãe da família. No nascimento de sua filha Helena, três anos atrás, Patrícia precisou realizar uma série de escolhas quanto a sua vida pessoal: Eu vou continuar a trabalhar? Como vou fazer para cuidar de Helena enquanto eu estiver fora? São perguntas difíceis para uma jovem de, então, 24 anos. Trabalhando desde os quinze, ela concluiu que aquela não era a hora de encerrar suas atividades. “Eu precisei ter ajuda das pessoas para eu continuar a minha vida, para não para ali”. Ela é mãe solo, mas não está sozinha.

Assim, quando uma mãe partilha de sua trajetória com outras mulheres, aos poucos estas também se tornam mais mães. Muito antes de Daiane e Patrícia nascerem, sua mãe, Maria de Fátima Quesada, hoje com 65 anos, já enfrentava questões sobre maternidade. Quando a própria mãe, Alaídes, saía para ir à roça, era ela quem cuidava dos irmãos. “Essa aqui é a caçula” – diz Maria, apontando para Ivonete, apenas 11 anos mais nova do que ela – “A gente tinha que cuidar, era como se fosse também mãe”.

Ter ao seu lado mulheres dispostas a serem suporte criou uma teia maternal na família. Sempre essencial, o apoio passou a ser indispensável, “principalmente na pandemia, em que não tem escola” – destaca Patrícia. As mulheres da família Quesada mantém apertados seus laços de cuidado e afeto, em um exercício, a elas, necessário, e Daiane completa: “Essa coisa do criar, do maternar em família, em tribo, hoje mais do que nunca ganha um significado muito importante.”

Uma batalha de presente

Renata e Jeniffer Barbosa são semelhantes em seus traços mas também em suas histórias como mães. Renata teve Jeniffer aos 15 anos e hoje, aos 39, é formada em direito e ajuda a cuidar dos netos. Ela percebeu logo cedo que ser mãe é um processo que faz desvincular idade de capacidade. “Conforme a barriga vai crescendo, a gente vai ficando madura muito cedo” – reflete.

Aos 17 anos, Jeniffer descobriu na pele tudo o que a mãe contava, com a chegada de João Pedro, hoje com seis anos. Mais tarde veio Júlio César, agora com dois anos e meio. Esse é o lucro, para Renata: “Eu criei a minha filha e de presente, dois netos”.

Com essa nova etapa da vida, muitas coisas a que Jeniffer se dedicava precisaram ficar de lado, como os estudos. Mas, como Renata diz, “tem que ser forte, não pode desistir”. O plano de Jeniffer é dar atenção e carinho aos meninos, mas dar continuidade a vida pessoal em breve: “Assim que o Júlio César completar três anos eu pretendo voltar a trabalhar, fazer as minhas coisas. Porque agora a minha responsabilidade é os dois”.

Gargalhando, Jeniffer pergunta: “Você já tentou ir ao banheiro com duas crianças atrás?” Quando os filhos entram a na vida das mães, o tempo se torna uma preciosidade. Mas entre horas de cuidado, dores, noites mal dormidas e preocupações, Jeniffer entende que tudo vale a pena. Sua esperança é que ela e Renata sejam exemplos na formação dos meninos. “Eles vendo a mãe cuidando, no futuro eles serão ótimos pais” – prevê - “Quanto mais eles veem a mãe batalhando por eles, eles vão batalhar pelos filhos deles também”. Ainda que Renata esteja presente na criação dos netos, não deixa de rir em alívio ao olhar para a filha já com 23 anos: “o que eu mais tenho agora é tempo”.

O que não viu quando era mãe

Romeu nasceu em 21 de julho de 2020, em plena pandemia da Covid-19. A primeira pessoa a pegá-lo no colo foi a Ednamar Vasconcellos, sua avó. Ela, que é nutricionista, estava lá, no momento da operação pois o pai da criança estava com suspeita de Covid-19. Passou quatro dias internada junto com a filha, que se recuperava da cesárea. Com o neto, foi possível aproveitar muitas coisas que não havia aproveitado enquanto mãe: assistir ao pós parto do bebê, ver o cordão umbilical sendo cortado, acompanhar a pesagem do recém- nascido. “Se eu puder participar do nascimento dos outros netos, que Deus me ajude” – diz, esperançosa. Seu primeiro neto é filho da mais velha de seus quatro filhos, Isabella Vasconcellos, de 31 anos.

A recém-avó conta que, apesar da casa cheia, criar os quatro filhos foi relativamente tranquilo, já que entre a mais velha, Isabella, e a caçula, Raquel, a diferença de idades é de 13 anos – e ainda tem Giovana e Samuel no meio. Ednamar define ser avó como uma vivência surreal, porém leve, encantando-se em “saber que sua descendência está indo a frente” – conta.

O que ela mais estranha agora, com Romeu, é justamente a casa vazia. Antes, cada nascimento era cheio de festas e visitas. Mas com as restrições causadas pelo coronavírus, “agora, ninguém aparece”. Para que Isabella possa ir ao trabalho, já que não há como deixar a criança em um berçário, é Ednamar quem toma conta de Romeu no resto dia, além de ter sido ela quem ensinou a filha a amamentar. Ao mesmo tempo, a nutricionista ainda é filha e divide seu tempo para dar cuidados à própria mãe, mas tudo isso junto é, para ela “de preencher o coração”.

(supervisão de Patricia Maria Alves)

DIA DAS MÃES - RELEMBRE CUIDADOS

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| Foto: Folha Arte
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