Detento morre com suspeita de cólera
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quinta-feira, 20 de janeiro de 2000
Agência Estado
De Recife
Emanuel Gomes da Silva, 31 anos, detido no Presídio Aníbal Bruno, em Recife, morreu, ontem à noite, no Hospital Otávio de Freitas com suspeita de cólera. Outros 12 presos da mesma unidade apresentam os sintomas da doença; nove deles estão sendo tratados no hospital e os outros três na enfermaria do presídio. Amostras dos alimentos consumidos no presídio e da água dos pavilhões, cozinha, enfermaria e poços artesianos foram coletados para análise bacteriológica. A água do esgoto será examinada para saber se está contaminada com o vibrião colérico. Os presos com suspeita da doença foram submetidos ao exame swab retal para confirmação do contágio.
A hipótese levantada ontem no local é de que a falta de cloração da água dos poços artesianos responsáveis pelo abastecimento do Aníbal Bruno - o maior do Estado - poderia ter causado a contaminação. A água dos poços não era clorada, explicou o diretor da Vigilância Sanitária da Secretaria Estadual de Saúde, Jaime Brito. O diretor inspecionou ontem o local. Diante das péssimas condições de higiene das celas, a água deveria ter uma cloração de 0,5 mg por litro como forma de prevenção, comentou. O abastecimento através dos poços foi suspenso temporariamente. Só está sendo usada água da Companhia Estadual de Saneamento (Compesa), que é distribuída na região metropolitana num rigoroso esquema de racionamento.
O presídio recebeu 120 litros de soro e 1,2 mil comprimidos de Bactrim (indicado para o tratamento da doença), além de reforço de colchões para aumentar a capacidade da enfermaria local para atender a novos casos de emergência. Segundo dados da Secretaria da Saúde, Pernambuco registrou 2.315 casos de cólera no ano passado, com 49 óbitos. Neste ano, foram registrados dois casos.
O Presídio Aníbal Bruno tem 2.693 presos à espera de julgamento, abrigando um número cinco vezes maior que a sua capacidade, para 500 pessoas. A suspeita de cólera fez o diretor do sistema peniténciário do Estado, coronel Geraldo Severiano, suspender, ontem pela manhã, o encontro íntimo dos presos. Sua intenção era evitar contaminação, mas o tumulto provocado pela decisão foi tão grande, que ele voltou atrás. Tive receio de uma rebelião, afirmou ele.