Desocupação acaba em conflito
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terça-feira, 18 de janeiro de 2000
Marcos Zanatta
De Maringá
A Polícia Militar feriu dois sem-terra e uma criança e prendeu 21 coordenadores do acampamento ontem, durante desocupação da Fazenda Sandra, no município de Diamante do Norte (83 quilômetros a noroeste de Paranavaí). Em nota oficial, o MST afirma que foram 14 presos e 30 feridos. Mas estamos sem comunicação com nosso pessoal na região, afirmou um dos coordenadores no Movimento do Paraná.
Segundo versão de integrantes do acampamento, a polícia chegou com cerca de 500 homens pouco antes das 5 horas. Eles chegaram atirando e fazendo todo mundo deitar no chão. Bateram inclusive em crianças e mulheres contou o sem-terra Jorge de Souza, que morava no acampamento.
Souza contou ainda que os policiais soltaram muitas bombas de fumaça no meio dos acampados, antes de começar a prender e espancar os que ficaram perdidos com os tiros. Os feridos são Nivaldo de Souza e José Ferreira de Medeiros, com cortes na cabeça e o menino Alex dos Santos, com corte na perna. Os três foram atendidos no Hospital Santa Terezinha, de Nova Londrina, mas não ficaram internados.
Os detidos também foram levados para Nova Londrina, mas a delegacia não informou os nomes até o final da tarde. Segundo o advogado do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) na região, Avanilson Alves de Araújo, quatro sem-terra foram presos por posse de arma e o restante por resistência à ordem policial. Ele reclamou que a fiança ficou arbitrada em meio salário mínimo para liberar os presos. O que é muito para quem não tem nada, disse. O advogado tentava no final da tarde levantar o dinheiro junto a outros sem-terra e simpatizantes do MST na região.
Segundo Jorge de Souza a propriedade, que tem 961 alqueires, estava ocupada por 196 famílias desde outubro do ano passado. A área estava arrendada, diz. Os proprietários, ligados à empresária Angela Cristina Massi, de São Paulo, estavam com o mandado de segurança desde a invasão.
O que a direção do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Paraná considerou um massacre (em nota distribuída ontem à imprensa), o chefe do Estado Maior da Polícia Militar, coronel Sanderson Diovateli, definiu como cumprimento de um mandado judicial de reintegração de posse da Fazenda Sandra. A polícia tem que manter a ordem social, afirmou. Se os invasores não estivessem esperando a polícia com bombas e armas, o conflito teria sido evitado.
Um relatório preliminar, recebido por Diovateli no final da tarde de ontem, aponta que foram encontrados no acampamento um revólver calibre 38, uma escopeta calibre 12, uma garrucha, uma espingarda calibre 20, coquetéis molotov e bombas de cal com pedra.
Ainda de acordo com o relatório da polícia, foi encontrado no acampamento dos sem-terra 16 machados, 88 facões, 30 facas e 43 foices. Entre as munições, há relatos de dezesseis cartuchos calibre 12, doze cartuchos calibre 20 e oito cartuchos calibre 38. Todos foram deflagrados. Os números da PM mostram que houve três PMs e 11 sem-terra feridos. Outros 21 foram presos por porte ilegal de arma, esbulho e formação de quadrilha.
(Colaborou Emerson Cervi, de Curitiba)