São Paulo, 20 (AE) - Há pelo menos 90% de chance de a causa do descarrilamento do trem do metrô, ocorrido segunda-feira, na Estação Santana, da Linha Norte-Sul, ter sido o desgate nos trilhos e nas rodas. A opinião é do professor-titular do Instituto Militar de Engenharia do Rio de Janeiro, Fernando MacDowell. Especialista na área, ele participou do planejamento e construção do metrô carioca e estudou, com técnicos europeus, a relação entre o tipo de trilho metroviário, as vibrações e os acidentes.
As prováveis causas da soltura do disco de freio do quinto vagão do trem paulistano são decorrentes, segundo ele, do tipo de trilho instalado na Linha Norte-Sul - de origem americana, denominado área - , considerado ultrapassado. E não há, diz o professor, manutenção "humanamente" possível para evitar o problema. "A manutenção do metrô de São Paulo é uma das melhores do mundo; o que é necessário é modernizar antigos sistemas."
MacDowell explica que, à medida que o trilho se desgasta, são formadas calosidades nas rodas. Os calos, em contato com o trilho, em outras viagens, provocam um aumento de três a quatro vezes no valor do peso fixado para o funcionamento do maquinário
o que faz aumentar as vibrações. Essas vibrações, por sua vez, provocam rompimentos e solturas de peças, como no acidente.
O descarrilamento é mais recorrente quando o trem está a uma velocidade baixa e próximo das estações, como o quinto vagão que descarrilou em Santana. A maioria desses acidentes ocorre quando a velocidade está em torno de 30 quilômetros por hora.
Para evitar a formação dos calos seria necessária uma manutenção a cada 10 mil quilômetros rodados, uma metragem quase insignificante para os exigidos trens paulistanos. A limpeza tem de ser feita em tornos de rodeiro (eixo), máquinas que "limpam" os calos e evitam problemas.
A Companhia do Metropolitano (Metrô) já está usando em outras linhas um outro sistema de trilhos, denominado UIC, de origem francesa, que não provoca o calejamento das rodas.
Por meio de nota, o Metrô informou hoje que a razão específica da falha só será possível após análise detalhada. A companhia diz lamentar os pronunciamentos do Sindicato dos Metroviários, sobre falta de manutenção, "que refletem irresponsabilidade e má-fé". Informou também que o Departamento de Manutenção já iniciou procedimento preventivo de inspeção nos discos de freio de toda a frota.