São Paulo, 03 (AE) - Pelo menos 7.500 pessoas iniciaram o novo ano na fila para conseguir um emprego na Grande São Paulo. Hoje, primeiro dia útil de 2000, os centros de encaminhamento de desempregados das duas maiores centrais sindicais do País - Força Sindical e CUT - estavam lotados de pessoas tentando uma recolocação no mercado de trabalho.
"Vim logo no primeiro dia para não perder tempo, pois a situação está muito difícil", disse Luciano Izidoro Gonçalves, de 20 anos, desempregado há dois anos. Ele é um dos 4 mil desempregados que estiveram hoje no Centro de Solidariedade ao Trabalhador, no Bairro da Liberdade, na capital, mantido pela Força Sindical.
A região metropolitana de São Paulo encerrou 1999 com cerca de 1,6 milhão de desempregados. Segundo o convênio Seade-Dieese, o índice médio de desemprego, que em novembro estava em 18,6% da população economicamente ativa (PEA), será recorde da história da pesquisa, feita desde 1985.
Nos outros três centros ligados à Força Sindical em Santo André, Osasco e Guarulhos, 3 mil pessoas se concentraram desde o início da manhã em busca de um emprego. A Central de Trabalho e Renda da Central Única dos Trabalhadores (CUT) em Santo André, na região do ABC paulista, atendeu 560 pessoas. Dessas, 49 foram encaminhadas para entrevistas em empresas e 3 conseguiram trabalho.
O coordenador do Centro de Solidariedade ao Trabalhador do Bairro da Liberdade, Tadeu Moraes Souza, disse que hoje havia oferta de 300 vagas para repositores de supermercados, todas elas preenchidas. O trabalho, no entanto, é temporário.
Há quatro anos sem uma colocação fixa, Elaine Poli, de 38 anos, chegou ao centro às 7 horas. "Preciso urgente de um emprego pois tenho três filhos para sustentar", disse. Seu último emprego com carteira assinada foi como ajudante de cozinha em uma das lojas do Carrefour, onde trabalhou durante sete anos e ganhava R$ 330 por mês.
Elaine conseguiu uma vaga nas frentes de trabalho criadas pela Prefeitura de São Paulo, mas o serviço em uma escola, pelo qual recebia R$ 136, acabou em dezembro. Hoje era a sexta vez que ela comparecia ao centro da Força Sindical.
Após percorrer vários locais, Adilson Leite de Souza, de 50 anos, foi hoje pela primeira vez ao Centro de Solidariedade. Há seis meses, ele perdeu o emprego de porteiro em um edifício, onde ganhava R$ 313, e não conseguiu mais trabalho.
Ao seu lado, Jobelina Fiúza da Silva, de 26 anos, também esperava ser chamada para se cadastrar no serviço, uma espécie de agência em que as empresas, gratuitamente, oferecem vagas ou buscam profissionais.
Ela foi demitida em maio, após três anos trabalhando como auxiliar administrativa. Jobelina mora com a mãe e um irmão que também está desempregado há três meses.
Sem trabalho há menos de 15 dias, Ricardo Silva Santos, de 21 anos, não quis esperar e hoje mesmo saiu à procura de um novo emprego. Nos últimos oito meses ele trabalhou como teleoperador em uma empresa de telemarketing. "Preciso de um novo emprego logo para poder pagar a faculdade de ciências econômicas", afirmou. A mensalidade do curso é de R$ 360 e, mesmo com trabalho, ele precisa de ajuda da mãe para bancar as despesas.
Também desempregada há menos de um mês, a ex-auxiliar de escritório Luciana Brito da Costa, de 23 anos, foi cedo para a fila hoje. "No fim do ano a maioria das empresas só estava oferecendo trabalho temporário, mas acredito que agora é mais fácil conseguir algo por tempo mais longo", disse.
A previsão de alguns especialistas na área de trabalho é de que, mesmo que o País apresente crescimento de 4% no Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, como prevê o governo, o nível de desemprego continuará elevado. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) calcula que 7,3% da população economicamente ativa das seis maiores regiões metropolitanas do País estava sem emprego em novembro.