Descobrimento de novos corpos eleva número de mortos a mais de 700
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quarta-feira, 29 de março de 2000
RUSHOJWA, Uganda, 30 (AE-AP) - A polícia de Uganda exumou nesta quinta-feira (30) 80 corpos, quase todos de crianças e mulheres, no complexo de uma seita apocalíptica cristã situado em uma colina onde vizinhos disseram que as pessoas "desapareciam" regularmente.
A última descoberta eleva para 724 o número de mortos relacionados à seita, faltando ainda um local a ser vasculhado, informou a polícia.
A investigação de hoje concentrou-se na vila de Rushojwa, nas montanhas do sudoeste de Uganda, que abrigava um agrupamento de quatro pequenas construções.
"Costumavam vir grupos de diferentes regiões e depois de alguns dias eles desapareciam", disse o vizinho Kensi Ntuaydubale, acrescentando que era de conhecimento geral na vila que "muitas pessoas" tinham morrido.
Enquanto isso, autoridades disseram ter detido para interrogatório um ex-funcionário público do subdistrito de Kanungu, onde centenas de pessoas morreram em um incêndio ocorrido numa capela pertencente ao Movimento de Restauração dos Dez Mandamentos de Deus há duas semanas.
O ministro do Interior Edward Rugumayo disse à Associated Press acreditar que o reverendo Amooti Mutazindwa "tem algumas informações úteis que ajudarão a polícia na investigação". Mutazindwa foi transferido a um distrito no centro-oeste de Uganda mais de um mês atrás.
Em entrevista divulgada hoje em Londres, o presidente de Uganda, Yoweri Museveni, acusou autoridades regionais em geral de abafar informações de inteligência dando conta das atividades da seita Dez Mandamentos.
Em Rushojwa, o cheiro de carne em decomposição empesteava o ar enquanto presos de uma cadeia local especialmente convocados para a tarefa cavavam a terra no complexo abandonado.
No final da tarde, quando a exumação terminou, os presos haviam retirado os corpos de 33 mulheres, 27 meninas, 17 meninos e três homens. Além disso, o crânio de um jovem foi encontrado.
O complexo pertencia ao membro da seita Joseph Nyamurinda, que desapareceu com 17 familiares três dias antes do incêndio de 17 de março na capela da seita em Kanungu, que matou 330 pessoas.
Acredita-se que Nyamurinda e seus familiares morreram no incêndio em Kanungu, 35 quilômetros a sudoeste de Rushojwa, afirmou o porta-voz da polícia Assuman Mugenyi.
Aquele incêndio deflagrou uma investigação da seita, e autoridades desde então descobriram pelo menos 724 corpos queimados na capela e enterrados em valas comuns em três complexos da seita.
Autoridades afirmam que a maioria dos mortos pertencia ao culto, que, acredita-se, tinha cerca de 1.000 seguidores.
As autoridades locais investigam dois dos líderes da seita - Cledonia Mwerinde e Joseph Kibwetere, um católico excomungado. O casal teria previsto que o mundo acabaria em 31 de dezembro de 1999. Como isso não aconteceu, as autoridades acreditam que os membros da seita exigiram que suas propriedades - doadas à seita - fossem devolvidas, se rebelaram e foram assassinados.
A idéia de suicídio coletivo envolvendo os membros da seita está agora totalmente descartada pelas autoridades, já que muitos corpos foram encontrados mutilados e estrangulados.
A polícia informou hoje que restava apenas um complexo para ser examinado, no vilarejo de Kyaka.