"Se eu tivesse focado só nas dificuldades, poderia ter desistido”, resumiu o gerente de vendas Guto Hill que concluiu a prova em 18 horas e 31 minutos. O trajeto de 130 km incluiu períodos de sol, chuva, terra, subidas e descidas em estradas rurais e também no asfalto. A 6ª edição do Desafio das Catedrais foi realizada neste final de semana. A largada foi dada às 19 horas de sexta-feira, em frente à Catedral de Maringá. Os participantes eram esperados no dia seguinte em frente à Catedral de Londrina.

Desafio das Catedrais: participantes de Maringá chegaram a Londrina depois de muitas horas de percurso sob sol e chuva
Desafio das Catedrais: participantes de Maringá chegaram a Londrina depois de muitas horas de percurso sob sol e chuva | Foto: Claudio Nonaca/ Divulgação

Ao todo, 126 pessoas se inscreveram. Apenas 37 concluíram a prova encarada mais como um desafio pessoal do que como uma competição. Não há premiação em dinheiro. O gerente de vendas de Cambé havia participado de uma edição anterior apenas para acompanhar um amigo interessado no desafio. “Há dois anos fiz 70 km. Dessa vez me preparei para terminar a prova, mas me surpreendi com o melhor tempo”, comemorou. Hill integra um grupo de corrida e caminhada de Rolândia. Alunos e o treinador participaram juntos do desafio.

Passada a comemoração, o dia seguinte foi um misto de dor e emoção pelo feito. “A dor deu só depois da chegada, mas agora dói tudo. Não tive lesões. Corri mais do que andei, mas é uma coisa imensurável. Se eu tivesse contado para mim mesmo que iria correr e ainda chegar em 18 horas de prova, eu não acreditaria.”

A empresária Flávia Maria Medri Festti fez o melhor tempo entre as mulheres: 21 horas e 49 minutos. Durante todo o percurso, ela teve o apoio do treinador que percorreu todo o trajeto ao lado dela orientando os momentos de corrida e de caminhada. “Todo mundo acha que caminhar é mais fácil, mas é muito mais difícil. Você sente a sola do pé queimar por causa do impacto que sofre no solo. Trabalhei minha cabeça para assimilar a dor quando surgiu, mas é mais uma prova de resistência mental do que física”, explicou.

A família também a ajudou nos quilômetros finais. “Foi muito emocionante. Faltavam uns 14 km quando os amigos e a família apareceram para ir junto comigo. Minha mãe é corredora também. Eu já estava com sono, mais de 30 horas sem dormir e muito anestesiada com a dor. Eles foram se revezando. Atrás da Catedral de Londrina, uma amiga gritou que eu era a primeira entre as mulheres. Aí corri no final e foi uma das maiores emoções da vida.”

O organizador do evento, Arnaldo Coelho de Amaral Filho, contou que cada chegada trazia exemplos de dedicação e persistência. “Cada um encara esse desafio com um propósito. É quase uma terapia. Temos a oportunidade de conversar com alguns deles no final e, nesse momento, a gente conhece as expectativas e os resultados de cada um. São muitas histórias de vida”, afirmou. Ele criou o evento após percorrer o Caminho de Santiago, na Espanha.

Uma das histórias mencionadas pelo organizador foi a do assistente social Márcio Antunes que completou a prova em homenagem à esposa. “Ela está fazendo tratamento contra um câncer. Foi muito duro receber a notícia, mas estamos encarando tudo com muita positividade e amor. Não há nada mais difícil que lutar pela vida. Em nenhum momento pensei em desistir”, garantiu Antunes. A chegada foi de muita emoção para toda a família que aguardou o assistente social na Catedral de Londrina. “Foi um momento ímpar e a certeza de que ela vai vencer essa batalha.”