Um delegado e dois investigadores da Polícia Civil foram condenados por torturar suspeitos de envolvimento na morte da adolescente Tayná Adriane da Silva, 14. O crime ocorreu em 2013 na cidade de Colombo, Região Metropolitana de Curitiba. Conforme o promotor do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), Denilson Soares de Almeida, a decisão, ainda que em primeira instância, já comprova que houve o crime de tortura.

"A nossa tese de que os suspeitos foram torturados foi comprovada pela Justiça. A condenação, mesmo que não tenha sido de todos os denunciados, não deixa dúvidas de que efetivamente aqueles quatro rapazes foram torturados para que confessassem a prática do crime", declarou.

Tayná havia saído de casa para visitar um amigo. Dias após o desaparecimento, o corpo da adolescente foi encontrado em um matagal próximo a um parque de diversões instalado em Colombo. Exames comprovaram que a menina também sofreu violência sexual. Quatro funcionários do parque foram presos e teriam sido torturados na delegacia para confessar o crime. Logo após a denúncia de tortura, os quatro funcionários do parque de diversões entraram no programa de proteção a testemunhas.

A promotoria chegou a apresentar denúncia contra 21 pessoas que teriam envolvimento nos crimes de tortura. Porém, segundo o promotor, houve uma separação dos fatos registrados em Araucária e em Campo Largo. Nesta ação que tramitou na 1ª Vara Criminal de Colombo, 16 pessoas foram denunciadas, apenas três foram condenadas. A promotoria deve avaliar a possibilidade de recorrer da decisão em relação aos demais acusados.

O delegado Silvan Rodney Pereira foi condenado a 9 anos e 4 meses de prisão. A mesma pena foi aplicada a um dos investigadores. Já o outro servidor da Polícia Civil foi condenado a 15 anos e 4 meses. Por meio de nota, os advogados de defesa do delegado informaram que ainda não foram intimados sobre a condenação, mas devem recorrer ao Tribunal de Justiça. "Pelo que se teve acesso até este momento, já é possível constatar que o juízo condenatório está fundamentado em bases extremamente frágeis, na medida em que considerou como fontes de prova apenas a palavra das pretensas vítimas, prováveis autores do estupro e morte de Tayná, em detrimento a uma grande gama de evidências consistentes que demonstram a improcedência da acusação de tortura atribuída ao delegado".

A assessoria da Polícia Civil informou que o órgão também não foi notificado sobre a condenação, mas um processo administrativo disciplinar foi aberto para apurar possíveis desvios de conduta dos policiais.

Para a família de Tayná, os quatro funcionários do parque de diversões seriam os responsáveis pelo crime. A afirmação foi feita pelo advogado da família, Luís Gustavo Janiszewski. Segundo ele, como a Justiça não se manifestou em relação ao mérito da confissão dos suspeitos, as declarações poderiam ser utilizadas no oferecimento de uma denúncia.

"A família da Tayná não nega que os rapazes tenham sofrido lesões sérias, mas uma lesão como forma de 'castigo' pelo crime que cometeram. Se, em um primeiro momento, o inquérito da Tayná estava andando em 'banho-maria' esperando o desfecho da acusação contra os policiais, agora o caso ganha novo fôlego e o Ministério Público tem que se posicionar em relação a isso e oferecer a denúncia contra os quatro rapazes. […] Nunca existiu outra linha de investigação que não esta com base nesses quatro rapazes. A família pede socorro para que esse caso não fique impune", defendeu o advogado.

Janiszewski cobrou mais celeridade nas investigações e respostas do Ministério Público. Já o promotor do Gaeco considerou "compreensível" que a família tenha acreditado na versão apresentada em um primeiro momento pelos policiais. Porém, ele lembrou que a investigação ainda está em andamento. O crime é apurado pela Divisão de Homicídios em Curitiba e o inquérito não foi concluído.