Rota de turnês internacionais de artistas da música, teatro e circo, Santiago foi o destino escolhido pelo casal londrinense Genilda e Walter Stabile Júnior, que chegou ao Chile na última quarta-feira (16). Na programação pela capital chilena, o show do violinista holandês André Rieu representava o auge de uma romântica viagem de férias e que incluía, também, passeios pelas famosas vinícolas.

No entanto, por pouco o casal não se deparou com os portões da Movistar Arena, local de três apresentações do ídolo, fechados. O show da última quinta-feira (17) seria o primeiro de quatro apresentações de Rieu em Santiago, mas foi o único realizado no país. Em seguida, a produção decidiu cancelar os outros três concertos devido aos atos violentos e a música deu lugar ao barulho das panelas e tiros do Exército. Shows de artistas como Bryan Adams e a estreia do filme “Pacto de Fuga” também foram cancelados.

As informações foram repassadas pela supervisora de vendas da agência de viagens Valentin, Fernanda Lochini. Segundo ela, o casal relatou não ter presenciado saques a supermercados e atos de violência, no entanto esteve em contato diversas vezes com a multidão de manifestantes e o Exército nas ruas da capital chilena. Diversos passeios precisaram ser reagendados.

"Eles enviaram um vídeo na frente do hotel e ele mostra o protesto atrás dele, pessoal batendo panelas, fazendo barulho. Assusta um pouco, mas eles não viram nenhum tipo de violência. Presenciaram durante os passeios carros queimados, mas não estavam queimando no momento em que passavam", explicou.

A FOLHA também conversou com Oswaldo Sanchez Reyes, morador de Quilpué, a 30 quilômetros de Valparaíso. Ele destacou que a maioria dos manifestantes é pacífica, mas que os atos estão sendo reprimidos "violentamente" pelos militares. E que ainda existem muitas "contradições" entre as declarações do presidente chileno, Sebastián Piñera, e a ministra dos Transportes, Gloria Hutt, situação que agravou o descontentamento da população.

"Hoje mais ou menos 80% da população trabalhadora do Chile ganha em torno de US$ 550. Aí tem outro problema porque o salário mínimo está em torno de US$ 420. Com essa aposentadoria não se consegue viver e ter acesso a saúde pública. Educação é a mesma história. A classe média não tem acesso à educação universitária. A população cansou", lamentou.

A jornalista chilena Francisca Aldunate, que é formada na UEL (Universidade Estadual de Londrina), explicou que o aumento das passagens foi - como no Brasil em 2013 - o "estopim" da insatisfação popular. Ela disse que, desde a redemocratização, em 1990, os fundos de pensão são administrados por empresas privadas de capital aberto que ficam com 10% dos salários dos trabalhadores - ante os 20% de forma voluntária que determinava a legislação anterior. Com a mudança nas regras, algumas empresas podem consider a expectativa de vida em até 106 anos, o que reduz o valor da aposentadoria. "E o que se estabeleceu é que se a empresa falhar nesse investimento, todos pagam."