São Paulo - O currículo público e obrigatório para todos cientistas do Brasil, o Lattes, terá um campo a mais nos próximos dias. Ao lado de informações sobre produção bibliográfica e participação em congressos, por exemplo, pesquisadoras mulheres também poderão preencher uma área nova indicando períodos de licença-maternidade. A nova seção, chamada "Licenças", poderá ser preenchida opcionalmente por pesquisadoras mulheres a partir do dia 15 de abril.

Imagem ilustrativa da imagem Currículo Lattes passará a ter nova seção para indicar período de licença-maternidade
| Foto: Reprodução

A criação dessa área é uma demanda antiga de cientistas brasileiras, intensificada há alguns anos anos. Foi uma das principais propostas levantadas no primeiro Simpósio Brasileiro sobre Maternidade e Ciência, que aconteceu em Porto Alegre em 2018.

De lá, saiu a campanha #maternidadenolattes. Também partiu do evento uma série de conversas sobre a questão da licença-maternidade nos currículos com o CNPq, agência federal de fomento à pesquisa científica, ligada ao Ministério da Ciência, que administra o Lattes.

O currículo Lattes compila mais de sete milhões de currículos, atualizados regularmente por pesquisadores profissionais de todo o País e por cientistas em formação na pós-graduação -nesse último caso, mais da metade dos matriculados (54,5%) são mulheres.

Os dados do Lattes dão base a decisões importantes na área científica no Brasil. Programas de pós-graduação e agências públicas de fomento à ciência, por exemplo, se baseiam nas informações do Lattes para escolher quem será aprovado em um processo seletivo.

O Lattes também é usado em concursos públicos para pesquisadores e docentes em universidades e institutos de pesquisa e, constantemente, na promoção de carreira desses profissionais.

A questão é que hoje o currículo Lattes das cientistas que tiveram filhos têm pausas descontextualizadas na sua formação e produção acadêmica, o que pode ser muito prejudicial nas avaliações. Na prática, são quedas de produção científica sem "causa" aparente. Por causa disso, algumas cientistas mulheres que tiveram filhos passaram a trazer a informação de maneira improvisada no texto de abertura dos seus currículos Lattes (uma espécie de resumo, de autoria própria).

O início do Lattes da bióloga Fernanda Staniscuaski, da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), por exemplo, informa que ela trabalha com aquaporinas de plantas e que fez estágio de pós-doutorado na Universidade de Toronto (Canadá). Conclui assim: "mãe de três filhos, esteve em licença-maternidade em 2013, 2015 e 2018."

Staniscuaski é uma das criadoras do projeto brasileiro Parent in Science (do inglês, Parentalidade na Ciência), movimento que surgiu para debater a paternidade e, claro, a maternidade entre cientistas no Brasil - e que organizou o simpósio sobre maternidade e ciência de 2018.