Crise deixa Equador em estado de emergência
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quinta-feira, 06 de janeiro de 2000
QUITO, 6 (AE-DOW JONES) - O presidente do Equador, Jamil Mahuad, decretou hoje (6)estado de emergência nacional para enfrentar protestos organizados pela oposição, resultado da forte crise econômica que assola o país. A medida foi tomada para impedir que cerca de 800 manifestantes, que exigiam a renúncia de Mahuad, avançassem para o Palácio do Governo.
A polícia reprimiu a passeata lançando gás lacrimogênio sobre os manifestantes. Também houve protestos em Guayaquil, a segunda maior cidade do país, a 270 quilômetros de Quito, e em Cuenca, a terceira metrópole.
Sob o estado de emergência, ficam suspensos vários direitos civis garantidos normalmente pela Constituição; os poderes da polícia e das Forças Armadas são ampliados.
Organizados principalmente por sindicatos e organizações de estudantes, os manifestantes exigiam, além da renúncia de Mahuad
a quem acusam de agravar a péssima situação econômica do país, também o fechamento do Congresso e do Judiciário.
Hoje, o sucre, a moeda equatoriana, que flutua livremente desde fevereiro, caiu 4%, fechando em 24,250 por dólar, acumulando uma desvalorização de 18,3% na primeira semana do ano 2000.
De acordo com operadores, a moeda local continua pressionada pelo nervosismo em relação à crise econômica e política do país. Grandes bancos e empresas estão comprando dólares de forma agressiva para cobrir suas obrigações em moeda estrangeira, em meio ao declínio da confiança em relação ao país.
Caos - É a segunda vez que o presidente Jamil Mahuad decreta estado de emergência, desde que assumiu, em 10 de agosto de 1998. A primeira foi em março do ano passado, quando a Superintendência dos Bancos chegou a decretar feriado bancário por uma semana na tentativa de coibir a alta da moeda norte-americana frente ao sucre.
Com pouco mais de um mês de governo, Mahuad promoveu uma desvalorização de 15% do sucre e aumentou os preços dos combustíveis e da eletricidade em 410%. Essa foi apenas a primeira de uma série de aumentos e desvalorizações, que fizeram com que, em um ano, a popularidade do presidente caísse de 66% para 16%.
Em setembro, o Equador anunciou que só pagaria os juros dos títulos da dívida externa renegociada, os Bradies, tornando-se o primeiro país da América Latina a deixar de honrar esse tipo de papel. Outras dívidas externas também foram incluídas nos planos de reestruturação dos Bradies, apresentado em novembro.
Renúncia - Desde dezembro, de 98, vários setores da sociedade vêm exigindo a renúncia de Mahuad. O próprio presidente reconheceu, em 29 de dezembro passado, que 1999 foi "um ano dos piores anos da história do Equador".
O Equador encerrou o ano com uma inflação anual de 61%, a mais alta da última década, uma desvalorização de 67% do sucre ante o dólar e uma queda de 7,3% no Produto Interno Bruto.
Soma-se a esse cenário desolador um desemprego de 17%, um índice de pobreza de 62,5% e uma moratória da dívida externa de US$ 13 milhões.

