Crianças produzem made in USA
PUBLICAÇÃO
sábado, 25 de outubro de 1997
France Presse
Washington
As roupas e os artigos esportivos made in USA de marcas como Reebok e Nike procedem, na realidade, de fábricas do Terceiro Mundo que costumam empregar crianças, às vezes de cinco e seis anos.
O fenômeno, que as empresas não desmentem, causou tal impacto na opinião pública norte-americana que a Casa Branca lançou uma campanha para melhorar as condições de trabalho nas fábricas de confecção e proibir o trabalho infantil.
Certas roupas e calçados comprados nos Estados Unidos são fabricados em condições deploráveis de trabalho, em geral no exterior, embora, algumas vezes, também em nosso país, por mais incrível que isto possa parecer, declarou o presidente norte-americano, Bill Clinton, ao lançar esta iniciativa no início do ano passado.
Mais de dez fabricantes norte-americanos, como Nike e Reebok (esportes), Liz Claiborne (prêt-à-porter) e Patagonia (lazer) se comprometeram a respeitar um código de boa conduta que prevê uma idade mínima para o trabalho (15 anos).
Enquanto um operário norte-americano custa 8 dólares por hora, um vietnamita que trabalha para a Nike recebe um salário mensal de 47 dólares, segundo os dados divulgados pela firma Beaverton (Oregon).
Segundo a associação militante Made In USA, um menino paquistanês que faz bolas de futebol recebe seis centavos de dólar por hora. No Paquistão, o primeiro fabricante mundial de bolas costuradas à mão, elas custam seis dólares, enquanto que nas lojas norte-americanas seu preço pula para 20 a 30 dólares.
Ante o aumento do repúdio da opinião pública e das campanhas de boicote, as empresas contra-atacaram a partir de 1996. Até o jogador de basquete Michael Jordan, garoto-propaganda exclusivo da Nike que recebe uma fortuna por isso, foi algumas vezes duramente criticado.
A Reebok foi a primeira a lançar no mercado, em novembro de 1996, uma bola que traz um aviso: sem recorrer ao trabalho infantil. A Nike seguiu o exemplo, que depois se estendeu a toda a indústria do futebol.
O Departamento norte-americano do Trabalho acaba de conceder 756 mil dólares a um fundo, no qual participa o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), a fim de erradicar o trabalho infantil na elaboração de bolas no Paquistão e favorecer ainda a volta das crianças às escolas.
Contudo, as bolas de futebol, principalmente nos Estados Unidos, onde o soccer continua sendo um esporte não tão popular, representa uma mínima soma do volume global de vendas. Para a Reebok, por exemplo, as bolas de futebol representam apenas 1 % de suas vendas.
Preocupada como sempre com sua imagem, a Nike está tentando provar sua boa fé ante a opinião pública e declarou que nenhuma das 350 fábricas que fazem seus artigos em 30 países são de sua propriedade.
Os defensores dos direitos da criança reiteram que os menores não são apenas explorados nos países em desenvolvimento. Nos Estados Unidos, além da confeção, os restaurantes populares utilizam esta mão-de-obra e, recentemente, a cadeia Pizza Hut foi condenada a pagar 200 mil dólares de multa por infringir as leis sobre o trabajo infantil.