Imagem ilustrativa da imagem Cresce infecção por HIV entre adolescentes
| Foto: Schutterstock



Enquanto o número de casos de contaminação por HIV vem caindo entre os adultos, entre os adolescentes o contágio cresce ano a ano. A população dessa faixa etária parece não perceber que o vírus causador da Aids representa um risco à vida e se descuida dos cuidados preventivos, facilitando a sua disseminação. Especialmente entre o público feminino, a preocupação se justifica com números assustadores, como o apresentado na semana passada pela Unicef (Fundação das Nações Unidas pela Infância), durante a 22ª Conferência Internacional de Aids, realizada em Amsterdã. Segundo a entidade, a cada três minutos, uma adolescente entre 15 e 19 anos é infectada pelo vírus HIV.

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O encontro é considerado o maior do mundo sobre o tema e reuniu especialistas em ciência, direitos humanos e defesa dos interesses de quem vive com HIV. Os dados revelados pela Unicef e por outras entidades participantes do evento expõem a urgência com que o tema deve ser tratado pelos órgãos de saúde pública.

Na conferência, foram apresentados indicadores que atestam que as meninas na faixa etária dos 15 aos 19 anos são vítimas de dois terços das infecções em todo o mundo. Em 2017, 430 mil pessoas no planeta com idade inferior a 20 anos foram contaminadas pelo vírus HIV enquanto outras 130 mil morreram de causas relacionadas à Aids. Nessa parcela da população mundial, as mortes estão estagnadas, mas em outras faixas etárias, observa-se uma redução gradual nos óbitos desde 2010.

Em relatório, a Unicef denuncia as "relações sexuais precoces, inclusive com homens mais velhos, relações forçadas, a relação de força que não permite dizer não, a pobreza e a falta de acesso aos serviços de aconselhamento e exames" como fatores a serem considerados na análise dos motivos para o aumento da contaminação dos jovens pelo vírus HIV. Também deve ser ponderado o fato desta geração não ter acompanhado o período crítico da Aids no mundo - no final da década de 1980 e início de 1990 -, quando a inexistência de tratamentos antirretrovirais invariavelmente levava à morte os pacientes soropositivos.

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BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO
No Brasil, a alta incidência do vírus HIV entre os jovens também é uma realidade. Dados do Boletim Epidemiológico de Aids 2016, elaborado pelo Departamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, mostram que, de janeiro de 2007 até 30 de junho de 2016, 7.673 pessoas entre 15 e 19 anos de idade foram contaminadas, com uma escalada, ano a ano, do número de infectados pelo vírus da Aids. Em 2007, foram computados 267 novos casos nessa parcela da população, atingindo o pico de 1.956 em 2015, indicando alta de 632% em menos de dez anos. Em 2016, até junho, haviam sido notificados 703 novos casos de adolescentes soropositivos.

No Paraná, a contaminação de pessoas na faixa dos 15 aos 19 anos também é uma preocupação para os profissionais da área de saúde pública. Oito por cento dos casos de Aids no Estado estão nessa parcela da população, segundo o chefe da Divisão Estadual de Controle das Doenças Sexualmente Transmissíveis, Aids, Hepatites Virais e Tuberculose da Sesa (Secretaria Estadual de Saúde), Francisco dos Santos. "Sem distinção entre os sexos, essa faixa etária é a mais preocupante", diz.

Desde 2007, 1.046 meninos e meninas paranaenses de 15 a 19 anos de idade contaminaram-se com o HIV e, dentre eles, mais de 60% eram do sexo feminino. "Elas querem mostrar para os meninos que os amam e, para provar, têm relação sexual sem preservativo. É muito comum também usarem preservativo na primeira relação e, da segunda em diante, não usarem mais. Muitas das pessoas com HIV e Aids não sabem seu estado sorológico. Nas campanhas, temos pegado muita gente nova que nem sabia que tinha o vírus", alertou Santos.

A Sesa sabe que 99% das infecções por HIV ocorrem por via sexual, independentemente da idade, mas entre os adolescentes, acredita Santos, a falta de preocupação com o HIV e a Aids é resultado do desconhecimento em relação às complicações da doença. "A geração anterior viu a morte do Freddie Mercury e do Cazuza (cantores), mas o que os jovens de agora conhecem sobre Aids é o que é passado na escola, na televisão, que não é sinônimo de morte", destacou.

Apesar de constatar a falta de cuidados de adolescentes e jovens com o HIV e a aids, Santos admite não saber de que forma a Sesa poderia enfrentar o problema. "Não sei mais o que se pode fazer ou falar na questão do HIV para introjetar mais a questão do adolescente na prevenção. Existem propagandas voltadas aos adolescentes, não temos falta de preservativos, masculino e feminino. Talvez a comunicação seja um pouco antiquada. Talvez tenhamos que fazer um projeto para ver como trabalhar com os adolescentes para aderirem ao preservativo em todas as relações sexuais", avalia.

ESTRATÉGIA
A Alia (Associação Londrinense Interdisciplina de Aids) estuda uma estratégia em conjunto com o município para atuar na prevenção ao vírus HIV. A entidade defende um trabalho amplo que envolva todos os estratos de vulnerabilidade social, mas afirma que sem passar pela área da educação, um efeito positivo não será alcançado. "As campanhas não têm linguagem adequada aos jovens e tem o (Programa) Escola sem Partido e os críticos da ideologia de gênero, que corroboram para o aumento da epidemia. Pararam de falar sobre o tema nas escolas, os órgãos de saúde não dão conta e, em muitas famílias, falar sobre sexo ainda é tabu", analisou o assessor de comunicação da Alia, Paulo Wesley Faccio, que também ressalta o desmonte do SUS (Sistema Único de Saúde) como um aspecto negativo no trabalho de combate e prevenção ao HIV e à Aids.

Faccio classifica a questão da disseminação do vírus HIV como um "problema sanitário", agravado pelas ondas migratórias observadas recentemente. O assessor da Alia concorda que o caso do contágio em meninas é gravíssimo, mas lembra que o principal grupo de risco são os homens que fazem sexo com homens e os gays. Para cada quatro homens pertencentes a esse grupo, um é soropositivo. Em relação aos gays, destacou Faccio, entre 2011 e 2016 a epidemia triplicou.