Rio, 06 (AE) - A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Narcotráfico vai convocar para depor os policiais civis Carlos Macedo e Alexandre Faria, presos na carceragem Ponto Zero, em Benfica, zona norte do Rio. Os dois são suspeitos de crime de extorsão após denúncia feita pelo traficante Luis Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, em uma conversa telefônica com a promotora Marcia Velasco. O diálogo entre o traficante e a promotora foi gravado pelo Ministério Público Estadual.
Segundo o sub-relator da CPI do narcotráfico, deputado Wanderley Martins (PDT-RJ), o depoimento dos dois policiais pode acrescentar novas e importantes informações para o relatório que a CPI está fazendo sobre a organização do esquema de tráfico de drogas comandado por Beira-Mar.
Macedo e Faria eram lotados na Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) e há cinco anos investigavam os negócios de Fernandinho Beira-Mar. Com a gravação da conversa telefônica entre o traficante e a promotora, a Polícia Federal começou a investigar a ação dos dois policiais. Para isso, conseguiu na Justiça autorização para quebra de sigilo telefônico, e, assim, foi possível provar o envolvimento de Macedo e Faria com outros traficantes. Os policiais podem ser processados por extorsão.
Em um trecho de seu diálogo com a promotora, Beira-Mar afirmou que, em 1995, foi obrigado a dar um apartamento para Macedo e assim garantir a sua liberdade. "Esse apartamento eu perdi pro Macedo na primeira mineira(extorsão na linguagem policial) que ele me fez. Ele não era o chefe da equipe na época. Ele era apenas um dos detetives envolvidos no caso", informou o traficante à promotora.
Beira-Mar contou também que a dupla exigiu R$ 1 milhão de resgate para soltar primos seus, que teriam sido sequestrados pelos policiais. "A gente quer um milhão de real. Se você não der um milhão de real, você nunca mais vai ver seus primos", disse Beira-Mar, reproduzindo a ameaça que recebera dos policiais.
Segundo versão do traficante, Macedo e Faria estiveram, com outros policiais, na cidade de Dourados, no Mato Grosso do Sul, o prenderam e só o soltaram após o pagamento de R$ 250 mil. "Fiquei três dias preso, consegui juntar R$ 250 mil, paguei a eles, e aí me liberaram", disse Beira-Mar.
No final da conversa, o traficante diz que não pretende se entregar para a polícia pois teme ser assassinado. "Eu não sou louco de me apresentar. Eu sou um arquivo morto doutora, hoje."
Agora, o Ministério Público vai apurar se os fatos relatados por Fernandinho Beira-Mar são verdadeiros. Serão analisados o patrimônio dos policiais, suas contas-correntes e movimento bancário.