CPI é suspeita de acordo para proteger secretário3/Mar, 17:05 Por Wilson Tosta e Evandro Fadel Curitiba, 03 (AE) - Sob suspeita de fazer um acordo com o governo do Paraná para preservar o secretário da Segurança Pública, Cândido Martins de Oliveira, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Narcotráfico na Câmara dos Deputados encerrou a semana no Estado em ambiente de anticlímax. Após abrir uma crise com a demissão e a decretação da prisão de João Ricardo Keppes de Noronha, ex-delegado-geral da Polícia Civil, e derrubar parte da cúpula da corporação, os deputados assumiram postura protocolar e pouco incisiva no depoimento de Oliveira, ex-chefe dos acusados. Perguntas incômodas foram evitadas, levando o deputado Roque Zimmerman (PT-PR) a denunciar um acerto com o governo Jaime Lerner (PFL). O presidente Magno Malta (PTB-ES) negou."A demora (o depoimento do secretário só ocorreu hoje de madrugada, apesar de a convocação ter saído à tarde) aconteceu porque (o comparecimento) foi negociado", disse o parlamentar petista. O deputado Robson Tuma (PFL-SP) disse que não presenciou nenhum acerto. O deputado Lino Rossi (PMDB-MT) foi incisivo ao negar. "Não vim de Mato Grosso para fazer acordo." O promotor Paulo Kessler, da Procuradoria de Investigações Criminais, protestou ao fim do depoimento do secretário. "Por quê a CPI não indagou com a mesma profundidade que o fez em relação às outras pessoas convocadas?", perguntou. "Parece que essa última postura da CPI não traduziu os seus verdadeiros objetivos." O depoimento aconteceu após quase um dia de conversas dentro do governo, do governador com integrantes da CPI. As negociações foram marcadas por rumores de que Oliveira poderia sair do cargo. O secretário pediu para depor em sessão secreta, o que foi repudiado pelos deputados, sob alegação de que só poderia ocorrer se ele renunciasse ao cargo. Oliveira não renunciou nem foi demitido pelo governador, apesar de a CPI ter sinalizado nesse sentido. "Autoridade pública depõe em sessão pública", disse o deputado Pompeo de Mattos (PDT-RS), que exigiu a demissão de Oliveira, depois que Noronha mandou um documento avisando que estava doente e viajando e, por isso, não poderia depor. A situação do secretário, que estava fragilizada com as denúncias de envolvimento de Noronha com o crime organizado, agravou-se com o desaparecimento de delegados e policiais que tinham sido chamados a depor e tiveram as prisões pedidas, entre eles o ex-delegado-geral da Polícia Civil do Paraná. Somente no início da madrugada Oliveira se apresentou no plenário da CPI, aparentando estar tenso. Estava acompanhado de quase todos os secretários de Estado, que o rodearam durante todo o depoimento, numa manifestação política de apoio do governo. Àquela altura, Mattos, que pedira a saída dele, fora embora, por ter passagem marcada. Sentado na mesa com os parlamentares (testemunhas e acusados não tiveram essa prerrogativa), Oliveira afirmou ter mandado ofício ordenando aos funcionários sob a chefia dele que, se fossem chamados pela CPI, se apresentassem. "O governador Jaime Lerner e o secretário da Segurança jamais transigiram nem jamais transigirão com o narcotráfico", disse. O secretário negou que soubesse, antes das revelações da CPI, que o então delegado-geral da Polícia Civil tivesse envolvimento com criminosos. "Tinha dele as melhores informações", afirmou. Esse ponto, porém, foi pouco explorado pelos parlamentares, que fizeram muitas perguntas sobre aspectos gerais do setor de Segurança no Estado. Zimmerman causou risos ao ler trechos e títulos de entrevistas de Oliveira a jornais locais. Um deles era: "O Paraná é um Estado muito seguro." Mais tarde, em entrevista, Oliveira disse que não houve acordo com os parlamentares, mas confirmou ter tentado depor em sessão secreta, ao longo de negociações que começaram à tarde. Ele disse que dispõe de informações que não podem ser reveladas por motivos de segurança ou por atingir a honra de algumas pessoas, embora ainda sem comprovação. O secretário disse que foram designados três delegados para, no prazo máximo de 30 dias aprofundar as investigações sobre o envolvimento de policiais com traficantes e outros criminosos. Oliveira declarou também que, durante todo o período em que foi secretário, jamais recebeu uma denúncia de envolvimento da 'polícia com narcotraficantes. Ela afirmou que não sabia que Noronha responde a um processo criminal em Foz do Iguaçu (PR), por suposto contrabando de bebida. "O delegado Noronha era tido como um policial operacional, dedicado, bom policial, com lucidez, inteligência e competência", afirmou. "O fato de não ter comparecido, para mim, desmonta toda a imagem que eu tinha dele." Noronha afirmou que não se considera eticamente impedido de continuar no cargo, apesar de um auxiliar direto dele ter sido acusado de crimes graves. "O juízo ético é subjetivo", afirmou.