Todos os dias órgãos públicos de saúde divulgam boletins com números relacionados à pandemia do coronavírus. A FOLHA também disponibiliza no site gráficos que mostram a evolução da doença em Londrina, no Paraná e em outras cidades. Mas o que realmente significam esses dados? Quais dados e indicadores são mais importantes para avaliar a evolução da pandemia na cidade, no Estado ou no País?

Imagem ilustrativa da imagem Covid-19: o que querem dizer os dados e indicadores da pandemia?
| Foto: Américo Antônio/Sesa/AEN

Gilberto Berguio Martin, mestre em Saúde Coletiva e professor do curso de Medicina da PUCPR, acompanha diariamente a pandemia do coronavírus através dos dados disponibilizados pelos órgãos de saúde. Ele explica que existe uma diferença entre dados e indicadores, e que são os indicadores que permitem analisar a pandemia estabelecendo parâmetros de comparação com outros períodos ou cidades, estados e países. "A melhor forma de conseguir ter parâmetro de análise é através dos indicadores."

Dados são números absolutos - o número de casos confirmados de coronavírus ou de óbitos, por exemplo. Um indicador, ou informação, por sua vez, é criado quando se estabelece um parâmetro de comparação. Exemplo é o número de casos ou de óbitos por milhão de habitantes.

Usando esse parâmetro, é possível visualizar se o número de casos é realmente alto ou não, e comparar com outros municípios, estados ou países. Cinco mortes em uma cidade com 5 mil habitantes e cinco mortes em uma cidade com 250 mil revelam cenários muito diferentes.

O médico também observa que o número de casos confirmados expressa apenas o número de pessoas contaminadas que foram testadas. Esse dado, portanto, pode não revelar a real dimensão da pandemia em uma cidade, estado ou país, já que muitas pessoas podem estar com o vírus, mas não foram testadas.

"Como a gente sabe, esse número em relação a toda a população é um número baixo, ainda que se teste bastante. Tem casos que não são notificados, casos assintomáticos. Isso acontece com toda epidemia. Os casos notificados a gente chama de 'ponta do iceberg'." De qualquer maneira, quando o número é comparado com o número de testes realizados, é possível estabelecer um percentual de resultados positivos dentro do universo de testes.

Um dado que reflete mais a realidade é o de mortes, afirma Martin. "O número de óbitos dá um parâmetro mais preciso de como está o comportamento da doença. A maioria dos óbitos que estão acontecendo por Covid-19 passou pelo crivo de teste, ainda que estejam escapando alguns." O médico se refere aos diagnósticos de Síndrome Respiratória Aguda. Dentre esses casos, pode haver óbitos em que não foi possível definir a causa exata.

O número de casos por dia pode mostrar como está a mobilidade do vírus, explica o médico. "Quando se começa a ter queda na ocorrência de casos quer dizer que a circulação diminuiu. Sempre tem uma variação para cima quando se segue a um período de flexibilização ou feriado."

As curvas médias, ou médias móveis, que calculam a média de casos ou de óbitos ao longo de sete ou 14 dias, por sua vez, permitem analisar a perspectiva da pandemia e revelar tendências de alta ou de queda. "Você consegue ter uma visão mais longitudinal do comportamento da doença. Se você olhar número por número, às vezes tem muitas variações."

Outro dado importante a ser monitorado é a ocupação de leitos de enfermaria e UTI. "O número de pacientes que estão na enfermaria ou UTI com diagnóstico não tem como camuflar", ressalta o médico. A taxa de ocupação, para o médico, também é capaz de refletir a capacidade da cidade, do estado ou do país de enfrentamento da doença.

O número de pacientes recuperados é de se comemorar, mas Martin lembra que a maior parte das pessoas que contraem a Covid-19 se recupera sem apresentar sintomas ou com sintomas muito leves. "É importante ter parâmetro de recuperados do ponto de vista da informação, mas não é um dado que presto muita atenção porque das pessoas que pegam a Covid a maior parte é assintomática ou tem sintomas muito leves. Mesmo pessoas testadas positivas, que não adoecem e que se recuperam estão dentro dessa estatística."

Por outro lado, o número pode expressar a evolução do processo de enfrentamento da doença. "À medida que o tempo passa, os serviços vão se adaptando e melhorando sua capacidade de responder à pandemia. Há uma tendência mesmo de pacientes que ficam mais graves melhorarem ao longo do tempo. Não existe remédio que cura, existe tratamento, cuidados que são feitos. A recuperação vai depender da capacidade da estrutura de atendimento e da resposta de cada paciente. Há uma tentava de ressaltar o número de recuperados como forma de tentar lembrar as limitações dificuldades ao longo do processo."

BOLETIM

O número de mortes pelo novo coronavírus em Londrina chegou a 228 nesta sexta-feira (18), quando foram registradas mais quatro mortes. Os pacientes eram do sexo masculino, com idades entre 50 e 75 anos, e vieram a óbito entre esta quinta (17) e sexta. Os casos confirmados do coronavírus também subiram para 8.462 em Londrina, com 132 novos registros.

No Paraná, o número de óbitos pelo novo coronavírus superou a marca de 4 mil nesta sexta-feira (18). Nas últimas 24 horas, foram confirmadas mais 49 mortes em decorrência da Covid-19. O Estado chegou, então, a 4.024 mortes e 160.228 casos da doença desde o início da pandemia. Só nesta sexta-feira foram registrados mais 2.111 casos positivos do coronavírus.