Covas suspende rodízio radical e pede antecipação de feriados em SP
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domingo, 17 de maio de 2020
VICTORIA AZEVEDO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), anunciou o fim do megarrodízio de veículos na capital paulista a partir desta segunda-feira (18) e um projeto para antecipar para maio os feriados de Corpus Christi (em junho) e do Dia da Consciência Negra (novembro).
A ideia seria "parar" a megalópole na tentativa de desacelerar a disseminação desenfreada do novo coronavírus. Assim, volta nesta segunda a ser aplicado o rodízio comum, em que não circulam 20% dos carros no horário de pico a cada dia da semana, conforme a placa.
"A cidade está chegando ao seu limite de opções", afirmou Covas em entrevista coletiva neste domingo (17). Segundo o secretário municipal da Saúde, Edson Aparecido, a cidade de São Paulo tem cerca de duas semanas até que ocorra um colapso do sistema hospitalar, hoje com 91% de suas UTIs para Covid-19 ocupadas.
"Precisamos decidir se queremos testar nossos limites ou sermos prudentes e nos mantermos firmes em isolamento social pelo tempo necessário para o sistema de saúde não entrar no colapso", disse Covas. "Estamos mais próximos disso do que gostaríamos."
O prefeito afirmou ainda que a capital não pode decretar "lockdown" isoladamente, o que soou como apelo ao governador João Doria, seu correligionário, para adotar o confinamento mais rígido na região metropolitana.
A ação, disse o prefeito, teria de ser coordenada com as cidades limítrofes, que dividem ruas e avenidas com São Paulo, e com o governo estadual, que comanda as polícias e controla o metrô na cidade.
"A prefeitura sozinha não tem todos os principais instrumentos para fechar totalmente a cidade. Não há no mundo caso de autoridade pública sem poder de polícia, sem segurança pública que consiga implantar o 'lockdown'", disse.
"A capital não é uma ilha."
Doria tem reiterado que a opção está na mesa, mas que não vê necessidade iminente de usá-la. Quase 5.000 pessoas morreram por Covid-19 no estado até agora, 85,5% delas na capital e na região metropolitana, que concentram 47,4% da população do estado.
O "lockdown" pressupõe o fim da circulação de pessoas pelas ruas (com exceções apenas para atividades essenciais, como comprar comida ou remédios e executar trabalhos imprescindíveis) e punição para quem violar as regras, geralmente multa ou autuação.
Nas últimas duas semanas, capitais e cidades do interior do país decretaram a medida para tentar frear o avanço da doença, que já matou mais de 15 mil brasileiros em dois meses, sendo 5.000 deles apenas na última semana. É o caso das regiões metropolitanas de São Luís (MA) e Recife (PE), de Belém e Santarém (PA), do estado do Tocantins e de cidades pequenas e médias em ao menos outros três estados (RJ, PR e RN).
A decisão de Covas de cancelar o megarrodízio que tirava das ruas metade da frota e durava todo o período de 24 horas, implementado nesta semana sob controvérsias, foi tomada após a medida não apresentar efeito esperado no índice de isolamento da capital paulista. Antes, ele já havia tentado bloquear ruas e avenidas, também sem sucesso.
"Quando comparamos a média semanal, a gente verifica que permanecemos na mesma linha insuficiente", disse, acrescentando que o isolamento passou de 46% na sexta anterior (8) para 48% nesta última. O consenso dos governos municipal e estadual é que o isolamento deve estar acima dos 50% para desacelerar a disseminação da doença.
O prefeito disse ter enviado projeto de lei à Câmara Municipal propondo a antecipação dos dois últimos feriados municipais deste ano de 2020. "Vamos manter a celebração destas datas [adiante], mas sem o feriado obrigatório."
O presidente da Câmara, o vereador Eduardo Tuma (PSDB), afirmou que o projeto será pautado para votação nesta segunda-feira (18).
Se aprovada, a antecipação deve ocorrer nesta semana.
Até sexta (15), a cidade de São Paulo tinha, sozinha, 2.792 mortos por Covid-19, segundo dados oficiais do estado. O número equivale a quase 1/5 de todos os mortos pela nova doença no país e se concentra nas periferias, onde o isolamento, custoso, é menor.
Somados os casos suspeitos da doença --que apresentaram quadro clínico compatível, mas ainda sem confirmação por teste-- o número chegaria a 5.909. É um salto de 432,34 % entre 9 de abril, quando os dados passaram a ser sistematizados, e sexta.