A melhor atleta brasileira na São Silvestre do ano passado, Adriana de Souza, 27 anos, que ficou em quarto lugar na classificação geral, tem um sonho ainda maior. Quer participar da maratona da próxima Olimpíada, em 2004, na Grécia. ‘‘A mulher está conquistando cada dia mais espaço no esporte, e ganhando provas antes exclusivas dos homens’’, lembra. Além da maratona, as mulheres agora competem em salto triplo e arremesso de martelo, que antes eram provas masculinas.
Treinando desde o ano passado em Maringá, Adriana está colhendo os frutos da boa colocação na São Silvestre. Além dos patrocinadores tradicionais – a Associação Atlética Ingá para as provas de pista, ou o Saúde São Lucas e a Faculdade de Engenharia de Lins para as provas de rua – começam a surgir novas propostas. ‘‘Bem melhor que há alguns anos’’, compara.
Adriana começou a treinar atletismo ‘‘por acaso’’, em olimpíadas estudantis de Paraguaçu Paulista (SP), onde morava com a família. Apaixonada por futebol e vôlei, no início não levava as corridas a sério. ‘‘Só a partir de 1992 comecei a me dedicar e conseguir resultados’’, diz.
Foram anos de sacrifício, sobrevivendo apenas dos prêmios alcançados em provas de rua. O esforço começou a compensar em 1998, quando foi campeã brasileira de cross country, uma prova de média distância com obstáculos naturais. No mesmo ano participou do mundial da modalidade no Marrocos, e no ano passado repetiu a dose no mundial em Portugal.
O sonho de Adriana, então, passou a ser uma boa colocação na São Silvestre, a principal e maior prova de rua do País. No ano anterior, 1999, ela chegou em 11º e iniciou o sonho de subir ao pódio. Como treina e compete com as principais adversárias brasileiras, sentiu que na época o desempenho das adversárias locais estava alto. Ela lembra que largou com objetivo de chegar entre as três melhores atletas do Brasil.
Durante quase toda prova ficou no segundo pelotão, ‘‘embolado’’ com um monte de corredoras. Quando entrou na Avenida Paulista, nos últimos quilômetros da prova, sentiu que tinha condições de chegar em quarto lugar. ‘‘Corria os últimos metros mas não acreditava que estaria tão bem colocada’’, diz. Mesmo no pódio ela conta que não acreditava no resultado. ‘‘Achava que estava sonhando com tudo aquilo’’.
O prêmio da primeira brasileira classificada, um veículo Gol zero quilômetro, está em uma concessionária de Maringá para ser vendido. O sonho de Adriana é construir uma casa no terreno que comprou com o marido, Cláudio, que também é fundista. ‘‘Não compensa a gente andar de carro zero e pagar aluguel’’, afirma. A meta agora é treinar para provas de longa distância e buscar índice para a Olimpíada.
Adriana nunca correu os mais de 42 quilômetros de uma maratona, mas diz que está se preparando. Ainda este ano ela pretende competir em provas de 30 quilômetros, preparando a musculatura. ‘‘Estou encontrando todas as condições para treinar em Maringᒒ, afirma. Além da pista de atletismo da Universidade Estadual de Maringá, uma das melhores do Estado, e de áreas ideais para corrida, o técnico Humberto Garcia mora na cidade.
A rotina é puxada. ‘‘A mulher, além de atleta, tem que ser também dona de casa, não é igual ao homem atleta, que só se dedica aos treinamentos’’, dispara. Todos os dias Adriana corre entre 20 e 25 quilômetros, além dos exercícios físicos, o trabalho com alteres e os treinos de velocidade.
A mulher que faz provas de rua sofre ainda outro problema com as roupas de corrida. Hoje o material esportivo está melhor adaptado às condições de cada atleta e de cada modalidade, mas nem todo mundo entende isso. ‘‘Muitas provas realizadas em cidades do interior impedem que a gente use a roupa ideal, porque as pessoas acabem achando meio estranho’’, revela. Os tops e os shorts são substituídos pelo calção e a camiseta, sem discriminação por parte das atletas, que apenas suam um pouco mais. ‘‘Mas isso é normal’’, desabafa Adriana.