Paris, 12 (AE) - Com as reuniões do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional em Washington começa uma longa temporada na qual veremos multiplicar-se os confrontos entre os agentes da globalização e os adversários desta globalização.
O dia 1º de Maio será "uma jornada de ação, de mobilização e de carnaval" em muitos países hostis à OMC (Organização Mundial do Comércio). Nos dias 9 e 10 de junho, em Bruxelas, os patrões se reunirão sob a pressão das manifestações de rua que denunciarão "as multinacionais e a especulação financeira".
De 26 a 30 de junho, em Genebra, a "reunião de cúpula social" da ONU atrairá grande número de manifestantes. Nos dias 11 e 12 de setembro, a "Reunião de Cúpula do Banco Mundial e do FMI", em Praga, fará convergir para a República Checa enormes multidões hostis à "globalização".
O impressionante é a eficácia e a rapidez com a qual grupos do mundo inteiro são alertados, montam suas motivações, fazem consultas entre si e apresentam seus relatórios aos níveis mais elevados.
À globalização da economia se opõe agora uma "globalização do protesto contra a globalização".
Jamais grupos separados por milhares de quilômetros, vivendo sob os trópicos ou nas geleiras polares, souberam chegar a um consenso com tanta rapidez.
A explicação para esta fluidez, esta ubiquidade e esta fulgurância está em um novo instrumento: a Internet. A Internet está transtornando a guerra social de maneira tão brutal quanto o advento do canhão, da bazuca e da bomba atômica tornaram caducas as antigas guerras.
Foi em Seattle que o mundo caiu na conta desta realidade: se a solene reunião da OMC se transformou num grande fracasso, foi sem dúvida por causa das ONGs, mas principalmente por causa da Internet, que ofereceu aos manifestantes uma logística de uma eficácia jamais alcançada.
Durante a reunião de Seattle, houve um intercâmbio de dezenas de milhares de e-mails no mundo inteiro, atualizando as estratégias, comunicando informações, propiciando encontros...
A Internet permitiu que estes grupos dispersos, não estruturados, amadores e desordenados, superassem duas deficiências: por uma parte, como o e-mail é instantâneo e universal, a terra inteira se encontrava presente em Seattle. Por outro lado, como as associações contestatárias eram pobres (e frequentemente funcionavam em países ainda mais pobres), a Net compensava a mediocridade de seus meios financeiros e os colocava em pé de igualdade com as instituições oficiais.
A mesma lição se lê no interior de cada país. Na França, a Internet faz certamente a alegria dos internautas, dos transmissores de mensagens eróticas, dos especuladores da Bolsa, dos financistas, dos governantes e dos banqueiros, mas também dos sindicatos, ou até mesmo dos grupos informais , destas "coordenações de base", que não são sindicalizadas e que atrapalham cada vez mais os grande s sindicatos.
A associação "Attac", que luta entre outras coisas em favor da tributação das operações financeiras, compreendeu que a luta social e política está sendo galvanizada pela Internet. Há oito meses, a Attac trabalha em ritmo de Internet. Seus "forums" permitem aos anônimos, aos mudos, a pessoas que jamais foram militantes, fazer ouvir, pela primeira vez, suas queixas ou seus sonhos.
Frequentemente, os "contestatários" captaram a importância desta arma antes mesmo que as "personalidades oficiais" a compreendessem. Um belo exemplo disso foi a recente greve do "serviço de impostos" na França.
Efetivamente, como o Ministério das Finanças é inteiramente informatizado, os funcionários dos impostos possuíam um instrumento ideal para concentrar o descontentamento de todo o país.
Resultado: uma greve repentina, total e sem falhas. Os responsáveis pelas finanças não entenderam nada. Jamais haviam conhecido um "golpe de sangue" tão instantâneo. A responsável? - A Internet.
E o cúmulo da ironia foi este: somente após esta greve o Ministério das Finanças começou a refletir sobre as possibilidades da Net no campo da "subversão".
Já se sabia que a Internet marca o ingresso das sociedades numa nova "casa". Sabemos agora que a mesma Net pode ser usada contra os que decidem, contra os governantes e mobilizar , numa fração de segundos, as insatisfações de um país inteiro.