Rio, 1(AE)- Contradições marcaram o depoimento de três policiais suspeitos de favorecer um traficante e a acareação do empresário Paulo César Santiago com a testemunha que o acusou de venda de drogas, no fim dos trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Narcotráfico no Rio de Janeiro. Eles depuseram entre a noite de ontem e a madrugada de hoje (1).
Santiago foi acareado com a testemunha que recebeu o nome fictício de Laércio - autor da acusação de que o empresário e seu irmão, o deputado estadual mineiro Arlen Santiago (PTB), mantinham relações com o traficante Luiz Fernando da Costa, Fernandinho Beira-Mar. O empresário mineiro primeiro negou conhecer Laércio, mas a seguir deu indícios de que já o havia encontrado em Montes Claros (MG).
No início da acareação, Laércio, escondido atrás de um biombo, a testemunha tirou o capuz com que estava e mostrou o rosto apenas para Santiago, para que o empresário dissesse se o reconhecia. Ele disse nunca ter visto a testemunha. Para contestá-lo, Laércio contou que os dois se conheceram quando ele comprou um automóvel na concessionário do irmão do deputado em Montes Claros - e Santiago, querendo desmentir a testemunha, corrigiu informações dadas por ele sobre o negócio, dizendo que a marca do veículo comprado era outra.
"O senhor disse com veemência que não conhecia a testemunha e agora está dando até detalhes do carro que ele comprou?", questionou, em seguida, o presidente da CPI, deputado Magno Malta (PTB-ES). Santiago se desculpou com o argumento de que, após ter lido sobre as acusações feitas por Laércio à CPI, durante a semana, lembrou-se de ter sido informado da compra por seu auxiliar, identificado apenas como "Pinduca". "Era um carro que não podia ter sido vendido", afirmou, para justificar porque ainda se recordava da história.
Policiais - O delegado Cidade de Oliveira e os agentes Luiz Carlos Mendonça Santos e Seltio Fabiano Dias, da Polícia Civil fluminense, também confundiram suas versões sobre a prisão do acusado de tráfico Wilson Carlos, ao deporem na CPI do Narcotráfico. A principal contradição foi sobre o tempo em que Carlos ficou preso em Maricá, onde os três trabalhavam, antes de ser transferido para a Divisão de Repressão de Entorpecentes (DRE) de helicóptero.
A forma como Carlos e outro suspeito foram transferidos, ao ser denunciada por Oliveira, motivou a suspensão do delegado Cláudio Vieira, titular da DRE. Hoje, a CPI pediu também o afastamento de Oliveira. A CPI também decidiu quebrar os sigilos telefônicos do delegado e dos outros dois policiais que depuseram ontem, para confirmar se eles fizeram ligações para o Paraná, onde mora a família de Carlos. As ligações seriam um indício de que os três policiais podem ter extorquido a família do preso.
Edson - Além de ser acareado com o empresário mineiro, a testemunha Laércio também deu o nome de outra pessoa que poderia confirmar o relacionamento dos irmãos Santiago com Beira-Mar. Ele foi identificado apenas como Edson - e hoje, o deputado Julio Cesar Gomes dos Santos, o "Cabo Júlio" (PFL-MG), foi para Montes Claros, para encontrá-lo.
A CPI adiou a votação da quebra dos sigilos telefônico, bancário e fiscal de Paulo César Santiago e de Arlen Santiago. O requerimento vai ser apreciado quando a comissão for para São Paulo, o que está previsto para a próxima semana. Ele ainda não havia sido votado por falta de quórum. (Colaborou Gustavo Alves)