Enquanto a subnotificação de casos de Covid-19 diante da incapacidade de testagem de toda a população faz aumentar a preocupação com o impacto da doença e a importância do isolamento social, o uso inadequado de dados pode colaborar com o ambiente de desinformação virtual e aumentar o pânico. Recentemente, houve polêmica com números do painel para o registro de informações sobre a Covid-19 do Portal da Transparência, mantido pela Arpen Brasil (Associação Nacional dos Registrados de Pessoas Naturais), que desde 2018 concentra dados estatísticos sobre nascimentos, óbitos e casamentos de todos os cartórios do País.

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Em Londrina, na quarta-feira (6), um perfil que chegou a ter mais de 14 mil seguidores no Instagram apontou que a cidade teria contabilizado 41 mortes por Covid-19 entre 16 de março e 6 de maio, ou seja, 27 óbitos a mais que o número oficial informado pela Secretaria Municipal de Saúde.

O perfil no Instagram, que se dedicava a denunciar moradores de Londrina em festas e momentos de desrespeito ao isolamento social, foi retirado do ar. No entanto, não é difícil encontrar no Facebook publicações de usuários que também utilizam dados da Central de Informações do Registro Civil sem a devida apuração sobre a metodologia ou mesmo de forma "enviesada”, avaliou a presidente do Irpen (Instituto de Registro Civil de Pessoas Naturais do Estado do Paraná), Elizabete Regina Vedovatto.

Conforme afirmou à FOLHA, a diferença entre os dados ocorrerá com frequência e por uma série de motivos. O primeiro se dá por conta do prazo de 24 horas que as famílias têm para o registro do óbito em cartório, “prazo que pode chegar até 15 dias e agora 60 com a pandemia”, lembrou.

Em seguida, de acordo com normas do Poder Judiciário, os cartórios contam com prazos de cinco a oito dias para o registro do óbito e envio dos dados à Central de Informações de Registro Civil, respectivamente. “Portanto, os dados são atualizados à medida em que são lançados no portal, inclusive retroativamente”, diz a Arpen em nota.

Outro fator tem origem na ausência do exame laboratorial que comprove ou descarte o diagnóstico de Covid-19 no momento da conclusão da Certidão de Óbito, quando um médico precisa informar a causa da morte do paciente. “Essa semana eu até havia recebido um atestado que dizia ‘suspeita de covid-19, exame encaminhado para laboratório para verificação’. Se vem a confirmação só depois, a consequência é sempre da parte interessada que deve fazer a retificação”, explica a presidente.

Também segundo Vedovatto, enquanto a maioria das famílias costuma registrar a morte com bastante agilidade, pouquíssimas acabam retornando aos cartórios para retificarem a causa da morte sem que haja alguma determinação para isso.

Questionada pela reportagem, a assessoria de comunicação do prefeito Marcelo Belinati informou que outra explicação para a discrepância de números é o fato de o HU (Hospital Universitário) de Londrina ser referência para 97 municípios da região. Desta forma, o boletim oficial da Secretaria Municipal de Saúde contabiliza óbitos de moradores de Londrina ocasionados pela Covid-19 após a confirmação do diagnóstico pelo teste laboratorial. Logo, óbitos de moradores de outros municípios registrados na cidade entram para as estatísticas do município de origem.