Rio, 03 (AE) - Os consórcios que arremataram as empresas do Sistema Telebrás e têm até amanhã para saldar a segunda parcela da compra sofreram modificações importantes desde o leilão, no dia 29 de julho do ano passado. É o caso das operadoras de telefonia fixa, com exceção da Embratel, controlada pela norte-americana MCI. A Tele Norte Leste fez mudanças que, na prática, contrariam as disposições do edital de privatização da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
O caso mais polêmico é o da Telemar, consórcio que comprou a Tele Norte Leste. O bloco original do dia do leilão era formado por Construtora Andrade Gutierrez (21,2%), Inepar Investimentos (20%), Macal (20%), Fiago (18,7%) e as seguradoras BrasilVeículos (10,05%) e Companhia de Seguros Aliança (10,05%). Quando venceu a primeira parcela, no dia 4 de agosto do ano passado, a BNDESPar, empresa de participações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) já era debenturista com direito a converter seus papéis em 25% das ações do consórcio. Em um acordo formal, os acionistas se dispunham a mudar suas participações.
Na semana passada, os sócios anunciaram que o Opportunity estava comprando a nova participação da Inepar, de 10,17%. A La Fonte, de Carlos Jereissati, que não se pré-qualificou para o leilão e havia feito um acordo com os outros sócios para ficar com cerca de 14% das ações, estaria vendendo um total de 3,3% para o Opportunity, a Andrade Gutierrez e a Macal - esta já sem a participação de Antônio Dias Leite Neto, que passou sua parte ao GP Investimentos. Os quatro sócios privados ficariam, então, com 11,27% cada um. Mas a Inepar tem de respeitar a determinação da Anatel de ficar com pelo menos 5% da Telemar durante os cinco anos pós-leilão, a menos que haja uma concessão especial.
Oficialmente, a Inepar ainda é sócia. No início da semana, quando a BNDESPar converteu suas debêntures em 25% das ações, a Inepar configurava na composição acionária com 13,367%, participação equivalente à dos sócios Andrade Gutierrez e Macal. As duas seguradoras, que têm capital do Banco do Brasil, têm 5% cada uma, a Fiago, 19,9% e a La Fonte, 5%.
"Até o final do ano deve haver mais mudanças porque uma operadora estrangeira pode ficar com a parte da BNDESPar", diz o analista de telecomunicações do banco Santander, Eduardo Nunemori. Essa operadora também poderia ficar com as ações da La Fonte.
O Opportunity também pode ter problemas em assumir sua posição na Telemar, porque já faz parte do bloco de controle de outra operadora fixa, a Tele Centro Sul. Em junho, Opportunity e os fundos de pensão reduziram a participação no capital votante de 19% para 11%. A contrapartida veio da Italia Telecom, cuja participação aumentou de 19% para 38%. Fundos de investimento, que tinham 62%, ficaram com 51%.
A Telesp fixa fez sua primeira alteração antes do pagamento da primeira parcela. O consórcio original era formado pela Telefônica (52,93%), RBS (6,34%), Iberdrola (7%), Banco Bilbao Vizcaya (7%) e Portugal Telecom (23%), além das subsidiárias da Telefônica no Chile (2,61) e na Argentina (1 12%). A RBS, por discordar da compra da Telesp, não integralizou sua parte na operadora, e repassou-a à Telefônica. A operadora espanhola também ficou com a parte das subsidiárias. No total, integralizou 10,07% de terceiros.
"Vamos vender nossa parte na Telesp à Telefônica", afirmou o presidente da Portugal Telecom no Brasil, José Roque de Pinho. A operadora portuguesa articula a compra de uma parte da Telefônica na CRT fixa, privatizada antes do leilão, e aguarda autorização da Anatel.
A Telefônica terá de sair da empresa gaúcha por ter entrado na Telesp. Dos 45,09% do controle que detém, terá de se desfazer de pelo menos 25,1%. Portugal Telecom e Telefônica são sócias ainda na Telesp Celular, com, respectivamente, 65% e 35% do consórcio que comprou a operadora. Na Tele Sudeste Celular, a Telefônica reduziu sua participação de 93% do consórcio para 82 3% e a Iberdrola manteve a parcela de cerca de 7%. A Itochu aumentou a participação de 0,0000005% para 3,5%. A NTT, que tinha a mesma fatia, ficou com 7%.
A União Globopar Bradesco (UGB), desfez-se de suas ações na Tele Celular Sul e na Tele Nordeste Celular. Em ambas, era sócia da Italia Telecom, agora única controladora das empresas. Na Telemig Celular, Tele Leste Celular, Tele Centro-Oeste Celular e Tele Norte Celular, não houve mudanças.