Condenados na Argentina acusados de assassinato de fotógrafo
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quinta-feira, 03 de fevereiro de 2000
Buenos Aires, 03 (AE-AP) - Três ex-policiais, um guarda-costas e quatro cúmplices foram sentenciados na quarta-feira à noite à prisão perpétua por um tribunal de apelações argentino pelo assassinato, em 25 de janeiro de 1997, do repórter fotográfico José Luis Cabezas.
A corte de três juízes acusou os oito de matar o jornalista por ordem de Alfredo Yabrán, empresário com fortes laços com o governo do ex-presidente Carlos Menem, que aparentemente se suicidou em 1998.
Os executores materiais do assassinato de Cabezas foram o ex- policial Gustavo Prellezo e o ex-segurança do empresário, Gregorio Rios.
A fase final do julgamento, em Dolores, a 200 quilômetros de Buenos Aires, foi acompanhada pela TV por milhões de argentinos em todo o país. Embora o governo centro-esquerdista de Fernando de la Rúa tenha considerado o veredicto "um avanço para a Justiça argentina", associações de jornalistas do país e parentes do fotógrafo qualificaram de "incompleto" o resultado do julgamento.
"É provável que os oito sentenciados tenham participado do crime, mas está claro que não foram eles os máximos responsáveis e a sentença não apresentou alegações irrefutáveis nem sobre as motivações nem sobre as circunstâncias verdadeiras do episódio", queixava-se, em nota oficial, a Associação de Defesa do Jornalismo Independente. Pesquisas têm mostrado que a maior parte dos argentinos não crê que Yabrán tenha morrido.
O cadáver de Cabezas foi encontrado queimado nos arredores do balneário de Pinamar com dois tiros na cabeça e sem as mãos. O fotógrafo, que tinha 36 anos, fora sequestrado quando saía de uma reunião social na cidade, 300 quilômetros ao sul de Buenos Aires.
Semanas antes do crime, Cabezas tinha conseguido fotografar, pela primeira vez, Yabrán - cuja imagem os argentinos não conheciam. A foto, publicada na capa da revista Noticias, irritou o empresário, que preferia agir nas sombras do poder.
Envolvido diretamente no assassinato por uma testemunha, Yabrán - apontado pelo ex-ministro da Economia Domingo Cavallo como "o chefe de todas as máfias da Argentina" - disparou um tiro de calibre 12 contra a própria boca ao ver-se cercado por policiais. Antes, tinha vendido a maior parte de seus negócios por US$ 605 milhões.
Durante o período em que vinha sendo investigados, Yabrán recebeu dezenas de telefonemas do então ministro da Justiça, Elías Jassan. A descoberta dessas chamadas causaram a renúncia do ministro.