O Comitê Executivo de Saúde de Londrina publicou uma carta aberta às instituições públicas e privadas, aos profissionais que atuam no combate à Covid-19 na região de Londrina e à sociedade em geral. A comissão é formada por representantes de órgãos públicos dos Poderes Executivo e Judiciário, do Ministério Público, da Defensoria Pública, da Ordem dos Advogados do Brasil, de instituições públicas e particulares que atuam na área da saúde, de conselhos profissionais, além de profissionais da saúde e da área jurídica. O Juiz Federal da 3ª Vara Federal de Londrina, Bruno Henrique Silva Santos, afirmou que a carta tem como propósito discutir a judicialização da saúde. “É uma oportunidade de evitar que as demandas cheguem à justiça por meio de um diálogo direto. Se eventualmente elas surgirem, essas discussões devem ser resolvidas de forma harmônica”, declarou.

O Juiz Federal da 3ª Vara Federal de Londrina, Bruno Henrique Silva Santos, afirmou que a carta tem como propósito discutir a judicialização da saúde.
O Juiz Federal da 3ª Vara Federal de Londrina, Bruno Henrique Silva Santos, afirmou que a carta tem como propósito discutir a judicialização da saúde. | Foto: Divulgação/OAB-PR

“Com base nessas discussões encontramos pontos de vista que foram defendidos pela maioria dos representantes do comitê. A carta conclama a cada uma das esferas de responsabilidade a atuar de forma firme, responsável, qualificada, técnica e harmônica”, declarou.

A superintendente do HU de Londrina, Vivian Feijó, destacou que atitudes como esta, do comitê, fortalecem a rede de atenção em saúde no enfrentamento da pandemia, além de qualificar a assistência prestada a todo cidadão acometido pela doença. “Traz luz aos protocolos clínicos validados e evidências científicas. Pode minimizar ruídos que muitas vezes atrapalham e retardam o processo de tratamento da doença”, apontou.

“Este comitê é representativo. Se faz emergente a união de forças entre as autoridades de saúde, judiciário, sociedade civil organizada e população para que possamos de fato fortalecermos esse enfrentamento. Me parece que pedir intensificação das medidas de prevenção não está mais fazendo eco e tememos um crescimento demasiadamente acelerado na nossa região, acarretando pontos de sobrecarga no sistema de saúde. Não podemos correr o risco de não darmos conta da demanda ,acima de tudo somos uma região privilegiada em infraestrutura e por enquanto estamos equilibrados, mas tudo é muito dinâmico em termos de suprimentos e número de contaminados internados, mas pode alterar o cenário a qualquer momento. Este ato do comitê traz concretude às nossas ações e preocupações. Acima de tudo, minimiza o risco de não darmos conta da demanda, trazendo luz a real à situação dos serviços de saúde e seus indicadores apresentados junto às autoridades e população”, destacou.

“A vacina está aí, mas a pandemia não acabou. Prevenção ainda é atitude proativa no combate da pandemia”, destacou a superintendente.

SOBRECARGA

A comissão alerta que o expressivo aumento da demanda por atendimentos médicos e hospitalares causado pela pandemia da Covid-19 vem sobrecarregando de forma bastante preocupante os serviços de saúde da região de Londrina em todos os seus níveis. Ela chama a atenção para a Resolução do Coesp (Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública) resultante da reunião realizada dia 28 , que informa que “os números de casos confirmados e notificações de síndrome gripal nas últimas semanas são os maiores observados desde o início da pandemia em Londrina”, o que colocou o município na condição de “Risco Muito Alto –roxo, dentro da classificação do Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde).

A missiva reforça que os efeitos concretos da recém-iniciada vacinação no Brasil demandarão certo tempo para serem verificados porque a aplicação das doses será progressiva e dependente de questões complexas a serem solucionadas, como disponibilidade de insumos e cronograma de aplicação.

“Para evitar o colapso da saúde pública que já vem sendo observado em outras regiões do país, é indispensável que todas as instituições envolvidas direta ou indiretamente no combate à pandemia assumam as suas responsabilidades de forma integrada e harmônica, e que a sociedade civil contribua ativamente para a prevenção da disseminação do vírus”, ressalta. O texto aponta que diretrizes importantes podem se tornar obsoletas em um curto espaço de tempo. “É necessário que as autoridades sanitárias atualizem os protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas na mesma velocidade com que o conhecimento é produzido pela comunidade científica e que eles sejam lastreados em boas práticas da medicina, em critérios científicos atuais, na medicina baseada em evidências e sob o crivo de agências sanitárias nacionais e internacionais independentes e sem qualquer viés político.”

A publicação reforça ainda que a atuação colaborativa dos agentes públicos e particulares, bem como dos cidadãos em geral, é imprescindível para a defesa da vida e do direito à saúde de cada um e de todos, evitando-se ao máximo a necessidade de judicialização e, quando ela for necessária, tornando-a qualificada e eficaz.

ESFERAS DE RESPONSABILIDADE

O Comitê Executivo de Saúde de Londrina dividiu as sugestões de medidas por esferas de responsabilidade. Santos ressaltou que a ideia foi mostrar que todos esses atores têm que fazer a sua parte e só assim estará legitimado a exigir que o outro faça também. “Elencamos as medidas cruciais para cada grupo e assim é a melhor maneira de enfrentar a pandemia. Não adianta um aguardar que o outro atue. Não adianta solicitar medidas dos órgãos públicos se as pessoas não estão se cuidando de si e dos próximos com as medidas que todos já conhecem", destacou Santos. A carta reforça que somente com a conjugação de esforços por todos os atores sociais - sejam agentes públicos, profissionais da saúde ou cidadãos que agem em seu dever cívico e moral – que a superação deste momento tão difícil poderá ocorrer da forma menos traumática possível.

Aos gestores públicos orientou a observância de critérios técnico-científicos confiáveis na seleção dos tratamentos a serem disponibilizados à população, bem como para a implementação das medidas restritivas necessárias ao controle da propagação da Covid-19. Solicitam a fiscalização efetiva das medidas restritivas impostas pelas autoridades sanitárias e/ou gestores públicos, inclusive mediante solicitação de apoio dos órgãos de polícia administrativa e de segurança pública, bem como a aplicação das sanções cabíveis sempre que as normas administrativas forem violadas. Também pediu transparência e eficiência na divulgação de dados técnicos e estatísticos da pandemia.

Por parte dos profissionais da saúde, o comitê pede que a prescrição de tratamentos médicos seja embasada em evidências científicas seguras, em atenção à saúde do paciente e para evitar que comportamentos que propagam a Covid-19 sejam incentivados com a falsa crença de que os sintomas da doença poderiam ser curados com algum tipo de medicação. A carta alerta que vários tratamentos chamados como “precoces” corriqueiramente disseminados como efetivos já foram analisados em estudos científicos, tendo a sua eficácia afastada. Sobre as vacinas, as recomendações de tratamento medicamentoso para a Covid-19 ratificadas por agências internacionais, como a OMS, devem ser seguidas até que os órgãos sanitários nacionais atualizem os Protocolos Clínicos do SUS e da iniciativa privada e autorizem o uso de tratamentos específicos para esta doença. O texto recomenda a atuação estritamente técnica e livre de pressões políticas ou comerciais na prescrição dos tratamentos aos pacientes, sempre baseada nos princípios éticos da beneficência e da não maleficência, na autonomia e na racionalidade científica.

Por parte dos órgãos de fiscalização e controle e dos conselhos profissionais, o comitê recomenda fortemente o acompanhamento efetivo e contínuo da gestão do SUS em relação à pandemia, dos estabelecimentos de saúde e a da atuação dos profissionais de saúde sujeitos aos respectivos conselhos profissionais; a fiscalização do cumprimento das normas administrativas, técnicas, éticas e disciplinares por parte dos gestores públicos e dos profissionais da saúde; a disponibilização ao público de meios ágeis, seguros e de fácil acesso para o recebimento de denúncias de irregularidades; e o combate à produção e divulgação em massa de informações falsas ou enganadoras relacionadas à prevenção ou tratamento da Covid-19.

Aos órgãos de atuação judicial pede-se a atuação pautada por critérios exclusivamente jurídicos na defesa dos interesses das partes representadas em juízo em demandas relacionadas à pandemia; a especial atenção à medicina baseada em evidências como critério para incorporação e disponibilização de tratamentos de saúde pelo SUS, com especial ênfase à análise da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e da Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde); e o contato constante com os gestores públicos para a obtenção das informações técnicas e regulatórias necessárias para a atuação em juízo.

Por fim, coube à população em geral o pedido de respeito contínuo às medidas administrativas restritivas necessárias à diminuição da propagação da COVID-19; o uso constante e adequado de máscaras em locais públicos e a abstenção de aglomerações; a denúncia aos órgãos de fiscalização sanitária, às autoridades policiais ou ao Ministério Público de todas e quaisquer irregularidades praticadas por terceiros em relação às medidas de cautela destinadas a evitar a propagação do vírus; a análise criteriosa de notícias e informações relacionadas à pandemia antes de repassá-las adiante; a consciência de que o trato com a pandemia não é uma questão individual, mas essencialmente coletiva, de forma que o comportamento descuidado por um indivíduo coloca em risco a vida e a saúde de toda a sociedade; e o comportamento segundo normas éticas de bom senso e respeito ao próximo.