SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Comerciantes da região de comércio popular do Brás (centro) descumpriram decreto estadual e atenderam a clientes nesta segunda-feira (1º), primeiro dia de funcionamento da nova classificação da capital paulista, mais branda, anunciada pelo governo do estado na semana passada, com o intuito de flexibilizar a reabertura de estabelecimentos não essenciais durante a pandemia da Covid-19.

A autorização para o funcionamento dos locais precisa, porém, ser feita pela Prefeitura de São Paulo, gestão Bruno Covas (PSDB), que começou nesta segunda a analisar pedidos de comerciantes para a reabertura de suas lojas na cidade.

Segundo decreto publicado por Doria na quarta-feira (27), a capital foi colocada na fase 2, identificada como laranja, do chamado Plano São Paulo. Nesta etapa, serão liberados comércio de rua e shoppings (veja a lista completa abaixo), após aprovação de planejamento pela Vigilância Sanitária e com restrições.

Apesar de a prefeitura ainda não ter liberado a reabertura, lojas de roupa comercializavam itens a clientes na manhã desta segunda-feira no Brás. Comerciantes argumentaram à reportagem terem entendido que a liberação para o atendimento ao público já estaria liberada, apesar de eles estarem com seus estabelecimentos de portas fechadas, ou entreabertas, mas mesmo assim atendendo clientes.

Por volta das 12h30, um casal e uma criança entraram em uma loja de artigos infantis, na rua Oriente. Em cerca de cinco minutos, mais sete pessoas ingressaram no mesmo local. O entra e sai no estabelecimento, e em outros vizinhos, foi constante nos cerca de 20 minutos em que a reportagem permaneceu em frente às lojas.

Um casal de auxiliares administrativos saiu de um destes estabelecimentos com várias sacolas cheias de itens infantis. "Agendamos por telefone para vir buscar roupas para o nosso bebê", disse Robson Arrais.

A mulher dele, Camila Arrais, disse que havia dentro da loja duas vendedoras e uma caixa, além de mais três clientes sendo atendidos. "Estava tudo higienizado e os clientes mantidos longe uns dos outros", disse Camila, descrevendo o interior do comércio.

Um fiscal afirmou ter verificado mais estabelecimentos burlando o decreto nesta segunda, em relação à semana passada. Ele não soube, no entanto, mensurar o aumento e atribuiu o maior número de lojas funcionando, irregularmente, à desinformação sobre o anúncio feito pelo governador João Doria (PSDB), na semana passada.

Trânsito intenso O trânsito no Brás também foi intenso entre o fim da manhã e início da tarde desta segunda. Para trafegar por um quarteirão, de carro, a reportagem demorou mais de dez minutos.

O taxista Anilson Tadeu de Resende, 53, afirmou que o fluxo desta segunda, apesar da quarentena, se assemelhou aos vistos por ele em datas comemorativas, como o Dia das Mães. "Tem muito carro aqui hoje. Não tem nem vaga para parar na zona azul", disse.

Ele acrescentou que pretende voltar à região nesta terça-feira (2). "Vou madrugar no Brás. Tenho certeza que farei muitas corridas por aqui, este trânsito de hoje é um sinal", garantiu.

Segundo um policial militar que fazia rondas pelo Brás, não foi registrada nenhuma ocorrência para provocar o congestionamento e lentidão. O trânsito parado, segundo ele, ocorreu por causa de excesso de veículos.

Clientes dão com a cara na porta de lojas na zona sul Clientes foram à região do Largo 13 de Maio, em Santo Amaro (zona sul), acreditando que poderiam realizar compras. Pessoas ouvidas pela reportagem entendiam que o comércio iria reabrir as portas nesta segunda.

Somente comércios essenciais estavam abertos no local, por volta das 14h, onde houve na manhã desta segunda uma ação de fiscalização, com apoio da Polícia Militar.

"Vi na TV que o governador disse que ia poder abrir tudo [lojas em geral] a partir de 1º de junho. Por isso vim para cá para comprar roupas para meus filhos", afirmou a recepcionista de laboratório Karina Nazaré Campos Moura, 38 anos.

Desempregada desde o início da pandemia da Covid-19, ela criticou a falta de equilíbrio entre os discursos dos governos estadual e municipal. "O governador fala uma coisa e o prefeito, outra. Aí o povão fica sem saber o que fazer, como fiz agora vindo para cá, mas sem precisar", afirmou.

Karina se referiu ao fato de Doria ter dado sinal verde para que algumas regiões do estado flexibilizem a reabertura de comércios, a partir desta segunda, e a prefeitura não ter divulgado ainda quando isso pode ocorrer.

Resposta A prefeitura, gestão Bruno Covas (PSDB), afirmou que 20 equipes fiscalizam a região do Brás e Pari, onde mais de 12 mil itens, vendidos irregularmente, foram apreendidos entre abril e maio deste ano. Ações contam com o apoio de policiais militares.

"Além de combater o comércio ilegal, as operações têm o objetivo de conscientizar a população, com foco nas recomendações das autoridades de saúde para minimizar a possibilidade de contágio pelo novo coronavírus", diz trecho de nota.

Lojas que trabalham com venda online, acrescentou a prefeitura, podem ter seus produtos retirados nos locais.

Na região de Santo Amaro, o governo municipal interditou, até a sexta-feira (29), 25 comércios que desrespeitaram a quarentena. Em toda a cidade, durante o mesmo período, foram 508.

FLEXIBILIZAÇÃO - COMO DEVERÁ SER

A partir desta segunda-feira (1º), a Prefeitura de São Paulo começa a receber propostas para reabertura de setores da economia, fechados desde 20 de março por causa da pandemia do novo coronavírus

Estes segmentos terão de esperar pela autorização e precisarão seguir regras

O comércio, por exemplo, espera obter liberação para abrir as portas até o fim da semana

Setores que já podem apresentar planos para reabertura:

- Atividades imobiliárias

- Concessionárias

- Escritórios

- Comércios de rua

- Shoppings centers

Para que possam funcionar, as propostas devem ter:

- Protocolos de distanciamento higiene e sanitização de ambientes

- Protocolos de orientação de clientes e colaboradores

- Compromisso para testagem de colaboradores e/ou clientes

- Horários alternativos de funcionamento (escalas diferenciadas de trabalho) com redução de expediente

- Sistema de agendamento para atendimento

- Protocolo de fiscalização e monitoramento pelo próprio setor (autotutela)

- Esquema de apoio para funcionários que não tenham quem cuide de seus dependentes incapazes no período em que estiverem fechadas as creches, escolas e abrigos (especialmente as mães trabalhadoras)

Como deve ser a abertura restritiva:

- Capacidade de atendimento limitada a 20%

- Horário reduzido (até quatro horas)

- Proibição de praças de alimentação

Se a cidade passar para a classificação amarela, serão liberados:

- Consumo local em bares, restaurantes e similares

- Salões de beleza e barbearias

Passando para a classificação verde, será liberado

- Academias de ginástica

Fonte: Prefeitura e governo de São Paulo