SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Enfim as lágrimas eram de felicidade. Após quase três semanas isolada e duas idas ao hospital, Karina Correia fez, pela segunda vez, teste para a Covid-19 e o resultado foi negativo. Estava curada.

Apesar dos 23 anos, ela se enquadra no grupo de risco por ter problema cardíaco e asma. Por isso, teve medo do diagnóstico quando começou a suspeitar que poderia ter contraído o novo coronavírus. "É uma coisa que você não espera passar."

A designer de moda, que mora com mãe, irmã e avó, começou a apresentar sintomas de uma gripe normal, febre e tosse, no dia 14 de março. Como já havia um caso confirmado no prédio --um idoso que ela encontrou no elevador-- começou a ficar no quarto isolada do restante da família para se precaver.

Cinco dias depois, os sintomas não haviam cedido, e seu médico a instruiu a ir ao hospital, adiantando que poderia ser coronavírus. "Chegando lá [no Hospital São Luiz], achei estranho porque não só os médicos, todo mundo estava com máscara e roupa de proteção", lembra.

Acompanhada da mãe, ela só conseguiu realizar o exame porque seu médico trabalhava no hospital e explicou que ela estava entre os pacientes que poderiam ter um quadro agravado, por suas condições de saúde. De início, elas foram informadas que não havia testes disponíveis.

"O médico explicou que eles dizem isso porque havia muitas pessoas que iam ao hospital fazer o teste, sem sintoma, só para confirmar que não estavam com o vírus, e quem realmente precisava acabaria por não conseguir fazer", diz.

Ela sentiu um clima de medo no hospital. "Na hora do exame, uma enfermeira me falou: 'Se você for tossir, só peço que vire o rosto, porque estou aqui me arriscando para cuidar e tenho dois filhos que não vejo há uma semana'", conta.

Após o teste --cujo resultado demoraria sete dias para sair-- ela foi encaminhada para casa com medicação para a febre, seus pulmões e coração. A partir daí ficou em isolamento completo, sem sair do quarto, com a máscara o tempo inteiro e trocando-a de três em três horas. A única interação era com sua mãe, que entrava no cômodo para entregar comida usando máscara e luvas.

Como dentro de casa as interações eram mínimas, ela encontrou nas redes sociais uma forma de contar a experiência e expressar como estava se sentindo. "Eu nunca fui de postar muito, mas queria mostrar que não era uma gripezinha. Eu vejo que as pessoas não estão levando muito a sério, eu também não tinha [ideia de que era] essa realidade, mas é sério, sim. Eu mudei muito meu olhar para tudo que está acontecendo no mundo."

Correia conta que muitas pessoas se interessaram pelo relato, tiraram dúvidas e ela até descobriu que uma seguidora também estava infectada --está em tratamento, mas bem, diz.

Três dias após sua primeira ida ao hospital, ela acordou com muita falta de ar, sem conseguir respirar e com batimentos cardíacos acelerados. Então retornou ao São Luiz, onde já havia uma equipe médica com um clínico geral e um cardiologia à sua espera, que solicitaram uma nova série de exames.

Após 24 horas de observação e com batimentos já normalizados, ela foi enviada para casa. Continuou a quarentena e celebrava cada melhora com seus seguidores. "Primeira vez que volto a sorrir de verdade", escreveu após a primeira noite sem febre ou falta de ar, "me sinto abençoada".

Karina Correia conta que o vírus afetou seu coração e pulmão e, por isso, terá que fazer um tratamento, mas já está livre da doença. Recebeu o resultado no último fim de semana.

Depois do susto, ela conta que dá mais valor às coisas simples do cotidiano, como poder voltar a sentar à mesa e jantar com o resto de sua família. Tão acostumada com o confinamento, mesmo depois da alta, teve um dia que levou a refeição para o quarto.

A mãe teve que lembrá-la: "Filha, vem comer na mesa".