Começa júri de motorista que atropelou e matou bebê na zona oeste
Família do bebê Rodinaldo, que tinha 1 ano e sete meses, fez protesto com cartazes em frente ao Fórum Criminal, lembrando o atropelamento ocorrido em 2021
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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025
Família do bebê Rodinaldo, que tinha 1 ano e sete meses, fez protesto com cartazes em frente ao Fórum Criminal, lembrando o atropelamento ocorrido em 2021
Heloísa Gonçalves - Especial para a FOLHA

O júri popular de André Eduardo Alves dos Santos, motorista que atropelou e matou o bebê Rodinaldo Matteo em 2021, teve início na manhã desta quinta-feira (13), no Fórum Criminal de Londrina. O crime ocorreu no Jardim Vila Rica, na zona oeste de Londrina, e a família do bebê, que tinha apenas 1 ano e 7 meses, segue esperando por uma conclusão após quase quatro anos.
Parentes da vítima realizaram um protesto em frente ao Fórum antes do júri começar, trajando camisas com o rosto da criança e portando placas com pedidos de justiça. O pai do bebê, Matheus Andrade, contou à FOLHA que o réu é autônomo, realizava serviços para sua sogra e residia no mesmo bairro.
Ele disse que André Eduardo seria pago pelo trabalho no dia do crime, mas que antes disso estava bebendo na mesma rua em que a criança estava com a mãe. “Ele estava bebendo o dia inteiro nos bares lá de baixo, pagou cerveja pra uma das testemunhas que já está aqui (no Fórum), subiu na contramão e pegou meu filho na beira da calçada. Matou meu filho, falou que não viu, ficou dentro do carro”, relembrou Andrade.

Com uma cerveja entre as pernas e completamente “chapado”, segundo o pai, o réu tomou um gole da bebida e perguntou se havia atropelado um cachorro. Desesperada, a mãe, Fernanda Andrade, entrou no carro de André Eduardo para que pudessem ir ao hospital. “Nós temos carro, mas o dele estava ligado ali na hora. Ela obrigou ele a levar ela pra UPA e saiu todo mundo correndo, a população também”.
De acordo com Fernanda, o bebê sofreu politraumatismo. Foi socorrido, mas morreu logo após chegar à UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Jardim do Sol. O homem fugiu após prestar socorro e não foi preso, respondendo o caso em liberdade até hoje. Segundo o pai, o veículo não possuía documentação nem o vidro traseiro, e foi vendido “a preço de banana na zona norte” para que o réu pudesse sair da cidade e “sumir”.
Julgamento
O júri popular teve início às 9h desta quinta-feira (13) no Fórum Criminal de Londrina. Cerca de 13 pessoas da família, incluindo os pais, tios e a avó, foram inicialmente impedidos de entrar no plenário para acompanhar o julgamento. Os familiares reclamaram para a FOLHA que a sessão do Tribunal do Júri já havia começado, mas tinham que assistir pelo YouTube na sala de espera do Fórum.
Segundo Matheus Andrade, a justificativa dada foi que o juiz é responsável por liberar a entrada, e que há um limite de 10 pessoas que podem acompanhar o júri, número já alcançado considerando as testemunhas presentes. Falando em nome do Fórum Criminal, a recepcionista afirmou que não haveria nenhuma declaração a respeito.
Indignado, o pai da vítima chamou a situação de “júri popular sem os populares”. Afirmou que “todos os familiares vieram para assistir a audiência e entraram só as testemunhas e os advogados. A família tá toda aqui apreensiva, querendo ter resposta, saber o que está acontecendo lá, estamos tendo que assistir por celular aqui dentro do fórum. O próprio pai da vítima não pode entrar”.
Aproximadamente 40 minutos após o início da sessão, com a escolha dos sete jurados já concluída, a família pôde adentrar o plenário e presenciar os depoimentos das testemunhas. André Eduardo Alves dos Santos optou por não comparecer presencialmente e será ouvido em videoconferência.
Expectativa de decisão
O advogado da família da criança, Marco Antonio Busto, que atua como assistente de acusação, disse à FOLHA que o réu foi pronunciado por homicídio doloso duplamente qualificado. Por estar dirigindo na contramão em alta velocidade, André Eduardo impediu qualquer reação da vítima, tornando a situação perigosa para um número indeterminado de pessoas. Assim, o crime passa a ser hediondo, com pena de 12 a 30 anos de reclusão.
Em depoimentos, diversas testemunhas do caso afirmaram que o réu realizava “cavalinhos de pau” constantemente na região. A manobra ocorre quando o motorista perde intencionalmente a tração das rodas traseiras do veículo, fazendo com que ele deslize lateralmente, mantendo o controle do carro.
“E todo mundo sempre avisou ele: ‘um dia você vai matar alguém, um dia você vai atropelar uma idosa, um dia você vai atropelar uma criança’. Porque ele era desses que bebe e puxa cavalinho de pau no meio da rua, fica ‘loucão’ e começa a fazer graça pra se aparecer”, relembrou o pai do menino.
O advogado informou que, se necessário, o julgamento pode se estender além desta quinta. Disse ainda que a acusação espera que André Eduardo seja responsabilizado e condenado a uma pena de prisão compatível com o ato que cometeu. “A família está esperando por esse momento desde a época do crime. A expectativa é que a justiça seja feita”, finalizou Busto.
A reportagem acompanha o julgamento e aguarda intervalo para fazer contato com a defesa do réu André dos Santos.

