O júri popular de André Eduardo Alves dos Santos, motorista que atropelou e matou o bebê Rodinaldo Matteo em 2021, teve início na manhã desta quinta-feira (13), no Fórum Criminal de Londrina. O crime ocorreu no Jardim Vila Rica, na zona oeste de Londrina, e a família do bebê, que tinha apenas 1 ano e 7 meses, segue esperando por uma conclusão após quase quatro anos.

Parentes da vítima realizaram um protesto em frente ao Fórum antes do júri começar, trajando camisas com o rosto da criança e portando placas com pedidos de justiça. O pai do bebê, Matheus Andrade, contou à FOLHA que o réu é autônomo, realizava serviços para sua sogra e residia no mesmo bairro.

Ele disse que André Eduardo seria pago pelo trabalho no dia do crime, mas que antes disso estava bebendo na mesma rua em que a criança estava com a mãe. “Ele estava bebendo o dia inteiro nos bares lá de baixo, pagou cerveja pra uma das testemunhas que já está aqui (no Fórum), subiu na contramão e pegou meu filho na beira da calçada. Matou meu filho, falou que não viu, ficou dentro do carro”, relembrou Andrade.

Matheus Andrade, pai do bebê morto no atropelamento
Matheus Andrade, pai do bebê morto no atropelamento | Foto: Heloísa Gonçalves

Com uma cerveja entre as pernas e completamente “chapado”, segundo o pai, o réu tomou um gole da bebida e perguntou se havia atropelado um cachorro. Desesperada, a mãe, Fernanda Andrade, entrou no carro de André Eduardo para que pudessem ir ao hospital. “Nós temos carro, mas o dele estava ligado ali na hora. Ela obrigou ele a levar ela pra UPA e saiu todo mundo correndo, a população também”.

De acordo com Fernanda, o bebê sofreu politraumatismo. Foi socorrido, mas morreu logo após chegar à UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Jardim do Sol. O homem fugiu após prestar socorro e não foi preso, respondendo o caso em liberdade até hoje. Segundo o pai, o veículo não possuía documentação nem o vidro traseiro, e foi vendido “a preço de banana na zona norte” para que o réu pudesse sair da cidade e “sumir”.

Julgamento

O júri popular teve início às 9h desta quinta-feira (13) no Fórum Criminal de Londrina. Cerca de 13 pessoas da família, incluindo os pais, tios e a avó, foram inicialmente impedidos de entrar no plenário para acompanhar o julgamento. Os familiares reclamaram para a FOLHA que a sessão do Tribunal do Júri já havia começado, mas tinham que assistir pelo YouTube na sala de espera do Fórum.

Segundo Matheus Andrade, a justificativa dada foi que o juiz é responsável por liberar a entrada, e que há um limite de 10 pessoas que podem acompanhar o júri, número já alcançado considerando as testemunhas presentes. Falando em nome do Fórum Criminal, a recepcionista afirmou que não haveria nenhuma declaração a respeito.

Indignado, o pai da vítima chamou a situação de “júri popular sem os populares”. Afirmou que “todos os familiares vieram para assistir a audiência e entraram só as testemunhas e os advogados. A família tá toda aqui apreensiva, querendo ter resposta, saber o que está acontecendo lá, estamos tendo que assistir por celular aqui dentro do fórum. O próprio pai da vítima não pode entrar”.

Aproximadamente 40 minutos após o início da sessão, com a escolha dos sete jurados já concluída, a família pôde adentrar o plenário e presenciar os depoimentos das testemunhas. André Eduardo Alves dos Santos optou por não comparecer presencialmente e será ouvido em videoconferência.

Expectativa de decisão

O advogado da família da criança, Marco Antonio Busto, que atua como assistente de acusação, disse à FOLHA que o réu foi pronunciado por homicídio doloso duplamente qualificado. Por estar dirigindo na contramão em alta velocidade, André Eduardo impediu qualquer reação da vítima, tornando a situação perigosa para um número indeterminado de pessoas. Assim, o crime passa a ser hediondo, com pena de 12 a 30 anos de reclusão.

Em depoimentos, diversas testemunhas do caso afirmaram que o réu realizava “cavalinhos de pau” constantemente na região. A manobra ocorre quando o motorista perde intencionalmente a tração das rodas traseiras do veículo, fazendo com que ele deslize lateralmente, mantendo o controle do carro.

“E todo mundo sempre avisou ele: ‘um dia você vai matar alguém, um dia você vai atropelar uma idosa, um dia você vai atropelar uma criança’. Porque ele era desses que bebe e puxa cavalinho de pau no meio da rua, fica ‘loucão’ e começa a fazer graça pra se aparecer”, relembrou o pai do menino.

O advogado informou que, se necessário, o julgamento pode se estender além desta quinta. Disse ainda que a acusação espera que André Eduardo seja responsabilizado e condenado a uma pena de prisão compatível com o ato que cometeu. “A família está esperando por esse momento desde a época do crime. A expectativa é que a justiça seja feita”, finalizou Busto.

A reportagem acompanha o julgamento e aguarda intervalo para fazer contato com a defesa do réu André dos Santos.

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