A comunidade londrinense tem a oportunidade de dar o último adeus a dom Geraldo Majella Agnelo, arcebispo emérito de Salvador (BA) e ex-presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), que faleceu no último sábado (26), aos 89 anos.

O funeral na Catedral Metropolitana de Londrina começou neste domingo (27) e segue, com missas a cada duas horas, até às 10h de segunda-feira (28), quando será feita a última celebração de exéquias e o sepultamento na cripta da Catedral.

O velório de dom Geraldo acontece na Catedral Metropolitana de Londrina
O velório de dom Geraldo acontece na Catedral Metropolitana de Londrina | Foto: Douglas Kuspiosz

O corpo de dom Geraldo saiu em cortejo da Acesf (Administração dos Cemitérios e Serviços Funerários de Londrina) por volta das 8h30 e seguiu para a Catedral Metropolitana, onde foi feita a Celebração da Palavra com o arcebispo dom Geremias Steinmetz, que também celebrou a primeira missa, às 10h.

`Visão cirúrgica da situação social´

Lembrado como um homem amável e com profunda visão social, dom Geraldo foi nomeado arcebispo de Londrina em 1982 pelo papa João Paulo II, permanecendo na cidade até 1991. Uma de suas principais ações foi a criação, junto da médica sanitarista Zilda Arns, da Pastoral da Criança em Florestópolis, cujo objetivo foi o combate à mortalidade infantil.

Para dom Geremias, a caminhada do cardeal na Igreja Católica mostra a sua importância dentro da instituição religiosa. “Para Londrina, a importância dele é como arcebispo, alguém que esteve aqui praticamente na juventude e que conseguiu colocar em prática muitas de suas ideias, fazendo com que a Igreja caminhasse sempre com bastante disposição”, diz.

Dom Geraldo era arcebispo emérito de Salvador (BA) e ex-presidente da CNBB
Dom Geraldo era arcebispo emérito de Salvador (BA) e ex-presidente da CNBB | Foto: Edson Ruiz/Folhapress

O arcebispo ressalta que dom Geraldo teve uma visão cirúrgica da situação social de muitos municípios paranaenses na década de 1980. A Pastoral da Criança foi apresentada como uma solução que, pouco a pouco, ganhou relevância internacional.

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“Isso reflete bem a missão da Igreja, que não é apenas espiritual. Ela se ocupa sim das realidades temporais e sempre procura ser um laboratório de proposições de soluções para tantas angústias e problemas humanos, inclusive a fome”, acrescenta. “Nesse ponto, acho que dom Geraldo foi um verdadeiro profeta, alguém que conseguiu fazer uma leitura e apresentou soluções cirúrgicas.”

Retorno a Londrina

Após ter seu pedido de renúncia aceito pelo papa Bento XVI, em 2011, e se tornado arcebispo emérito de Salvador, dom Geraldo retornou para Londrina em 2014. Em uma carta de 2020, o cardeal expressou o desejo de ser sepultado na cidade.

A aposentada Vera Lobo, 70, acompanhou as primeiras horas do funeral neste domingo e ressaltou que o arcebispo emérito era “uma pessoa maravilhosa, sempre foi de uma religiosidade muito grande e muito querido por todos aqui”. Ela lembra de acompanhá-lo após seu retorno para Londrina, quando já estava com idade avançada.

“Eu acho que ele cumpriu a sua missão junto com a cidade de Londrina e achei muito bonito ele voltar para cá, achei lindo ele voltar e querer morar aqui”, opina.

Já a pensionista Irene Valarini, 81, conhecia o cardeal há bastante tempo. Ela conta que lembra de dom Geraldo como arcebispo na cidade e que, em uma visita a Roma, na Itália, foi recebida por ele. “Era muito amável e muito querido. Ele salvou muitas crianças no tempo que tinha muita mortalidade”.

‘Legado para a humanidade’

Presente durante o funeral, o prefeito de Londrina, Marcelo Belinati (PP), destaca que dom Geraldo deixa “um legado para a humanidade”. Além de evangelizador, o cardeal foi uma pessoa que disseminou o amor e a palavra de Deus.

“Ele deixa um legado para a humanidade, somos muito gratos. Ele adotou Londrina como sua terra e no final da vida voltou para cá, porque aqui estava o coração dele”, diz.

Belinati também ressalta o trabalho da Pastoral da Criança. “Muitas crianças morriam desnutridas e, pelo trabalho da Pastoral, eles conseguiram diminuir muito os índices de mortalidade na região de Florestópolis. Rapidamente isso, a fórmula do soro caseiro, se disseminou para o Brasil e o mundo, salvando milhares, talvez milhões de crianças.”

O prefeito e o governador Ratinho Junior decretaram luto oficial de três dias pela morte do cardeal.

O aposentado Pedro Alba, 80, costuma levar sua esposa para a mesma clínica de fisioterapia que era frequentada por dom Geraldo. Ele conta que foram muitas as conversas com o religioso, que sempre foi muito simpático com todos.

“Era uma figura importante para a cidade, um exemplo de vida. Muito amável, chegava na clínica e todo mundo queria conversar com ele”, lembra. “Infelizmente, todo mundo tem a sua passagem. Chegou o dia dele e ficam as lembranças.”