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Geral 5m de leitura

Com Enem mantido, MPF quer que MEC mostre ações para assegurar ensino na pandemia

Procuradoria dos Direitos do Cidadão cobra cronograma que garanta acesso educacional igualitário

ATUALIZAÇÃO
16 de abril de 2020

Paulo Saldaña - Folhapress
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Brasília - A Procuradoria dos Direitos do Cidadão do MPF (Ministério Público Federal) deu dez dias para o MEC (Ministério da Educação) apresentar - uma vez que manteve o cronograma do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) - as medidas tomadas para garantir acesso educacional igualitário de educação a todos os estudantes em meio à pandemia do coronavírus.  

O Enem é a principal porta de entrada para o ensino superior público
 

 O governo Jair Bolsonaro insiste em manter as datas antes previstas do Enem mesmo com o fechamento das escolas. Secretários estaduais de Educação, que concentram as matrículas do ensino médio, já criticaram a decisão por causa do risco de ampliar a desigualdade em desfavor dos estudantes de escolas públicas e dos mais pobres.  

 O Enem é a principal porta de entrada para o ensino superior público. As provas tradicionais, em papel, estão marcadas para os dias 1º e 8 de novembro. Já a aplicação digital, feita em computador em projeto piloto, está prevista para 11 e 18 de outubro.  

 Em ofício encaminhado ao MEC nesta quarta-feira (15), a Procuradoria pede que a pasta apresente os programas e ações desenvolvidos para garantir acesso universal à educação. O MEC tirou a obrigatoriedade de cumprimento de 200 dias letivos de aulas, e as redes podem se ater à carga horária de 800 horas, com a possibilidade de aulas a distância.  

 O MPF quer que o MEC mostre quais recursos financeiros estão previstos para subsidiar programas de apoio para o acesso à educação durante o período, se há monitoramento federal sobre as ações de estados e municípios com relação às aulas a distância e também se existe capacitação de professores. O documento ainda pede estudos sobre os impactos da pandemia na educação.  

 Assim como os secretários de educação, a Procuradoria também levanta a preocupação com a desigualdade gerada pela interrupção de aulas, uma vez que nem todos os estudantes da rede pública têm acesso a plataformas digitais e à internet.  

 "O aumento da desigualdade gerada pela pandemia no que diz respeito ao acesso à educação tem a potencialidade de falsificar os resultados do Enem, seja quanto à concorrência entre os candidatos, seja na avaliação da política educacional", diz o texto.  

 "O Enem, de um lado, enseja acirrada disputa, dada a sua capacidade de abrir portas para o mercado de trabalho, para programas governamentais e para o ensino superior, e, de outro, é importante ferramenta para avaliação da educação brasileira". 

 O ofício é assinado pela procuradora federal dos Direitos do Cidadão, Deborah Duprat, e por mais sete procuradores do grupo de Educação em Direitos Humanos do órgão.  

 A Procuradoria ressalta ainda que o princípio da Política Nacional de Avaliação e Exames da Educação Básica é a "igualdade de condições para o acesso e a permanência do estudante na escola".  

 O MEC foi consultado, mas não respondeu até a publicação deste texto.  Após a crítica dos secretários, a pasta defendeu a realização do Enem apesar da interrupção das aulas. O PDT ingressou com uma ação para cancelar o cronograma do exame.  

 O ministro da Educação, Abraham Weintraub, tem insistido no argumento de que há interesses políticos pra a prova não ocorra. Segundo disse em entrevista à Rádio Bandeirantes nesta semana, o exame é feito para escolher os melhores e a lei de cotas pode garantir a inclusão. 

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