CML abre IPM para investigar agressões a jornalistas no Rio
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segunda-feira, 03 de janeiro de 2000
Por Roberta Jansen
Rio, 03 (AE) - O Comando Militar do Leste (CML) instaurou hoje um inquérito policial-militar (IPM) para investigar quem foram os policiais do Exército responsáveis pelas agressões sofridas por jornalistas na noite de sexta-feira (31), véspera de ano-novo, no Forte de Copacabana, no Rio.
"A única coisa que posso dizer é que, naquela noite, tinha muito mais jornalista e fotógrafo no forte do que policiais", afirmou hoje um oficial lotado no setor de Comunicação Social do CML, que se identificou apenas como major Rogério.
A confusão começou quando os repórteres-fotográficos tentaram fazer fotos de um toldo que havia despencado em função da ventania. Segundo testemunhas, partiu de uma das organizadoras da festa, identificada como Alice Rondon, a ordem para que os policiais impedissem os profissionais de fazer o trabalho. Na noite do réveillon, Alice, que trabalhava como free-lancer para a empresa Job - contratada pela prefeitura do Rio para organizar o evento -, afirmou que se limitou a pedir que os repórteres fossem retirados dali porque havia o perigo de outra parte do toldo cair.
Os soldados começaram a agredir os fotógrafos, em especial Fernando Bizerra Júnior, do "Jornal do Brasil", espancado várias vezes, com tapas, socos e chutes. Ao tentar socorrer o colega, a jornalista Sheila Chagas, repórter-fotográfica free-lancer da Editora Abril, apanhou, foi arrastada pelos cabelos e chamada de vagabunda. Os dois foram levados para um alojamento, onde foram espancados e tiveram os equipamentos danificados.
Na confusão que se formou, outros repórteres também foram agredidos, como Rosa Costa, do "Estado". Um soldado chegou a sacar uma pistola e a apontou para o fotógrafo Ed Ferreira, do Grupo Estado. Bizerra Júnior e Sheila fizeram exame de corpo de delito no Instituto Médico-Legal (IML) e registraram queixa na 13.ª Delegacia de Polícia (Copacabana). Como envolve militares, a agressão terá de ser investigada pelo CML e não pela Polícia Civil, que entregou a documentação ao comando. O CML tem um prazo de 40 dias, renováveis por mais 20, para concluir o IPM.
"O que se espera é que o CML faça uma apuração isenta da autoria porque o fato em si já está documentado", afirmou hoje o advogado Carlos Câmara, que acompanhou Bizerra Júnior à delegacia. "O Boletim de Ocorrência registrou lesões corporais, roubo e abuso de autoridade, mas entendemos que houve também cárcere privado e danos materiais." Na noite do réveillon, o presidente Fernando Henrique Cardoso, que estava no forte, pediu a apuração dos fatos. O governador Anthony Garotinho (PDT), que também estava na festa, criticou a atuação dos militares: "Eles são despreparados para isso; o Exército está preparado para a guerra." O prefeito Luiz Paulo Conde (PFL), anfitrião da festa
afirmou que só irá fazer um novo réveillon no forte, se a prefeitura for responsável pela segurança - que, este ano, ficou a cargo do Exército.
