Clinton nomeia Greenspan para 4º mandato à frente do Fed Do correspondente Paulo Sotero
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terça-feira, 04 de janeiro de 2000
Washington, 04 (AE) - Com a atual expansão da economia dos Estados Unidos prestes a se tornar a mais longa da história do país, o presidente Bill Clinton creditou parte do sucesso ao presidente do Federal Reserve Board, Alan Greenspan, e o reconduziu por mais um mandato de quatro anos à direção do banco central americano. Greenspan, um economista republicano de 73 anos, foi nomeado para a direção do Fed pelo presidente Ronald Reagan, em 1987. Este será seu quarto mandato.
Ao agradecer, ele elogiou o compromisso de Clinton "com a disciplina fiscal". Greenspan disse que o Fed "é uma instituição notável" e que "gostei de cada minuto" de seus doze anos à frente da instituição.
Perguntado porque aceitou permanecer no Fed, quando poderia se aposentar, ir ganhar dinheiro em Wall Street e ter mais tempo para jogar tênis, esporte que pratica regularmente, Greenspan disse que tira uma grande satisfação intelectual do que faz no Fed. "Há um interesse intelectual inimaginável em se trabalhar num contexto em que você tem que submeter questões teóricas e conceituais bastante amplas e complexas ao teste do mercado", disse. "Em contraste com (o que ocorre em) uma carreira acadêmica, você acaba reconhecendo plenamente que as hipóteses importam, que as idéias e as ações importam", afirmou. "É o tipo da atividade que força economistas como nós a adquirir uma aguda consciência do fato de que nossas ações têm consequências".
A nomeação de Greenspan era amplamente esperada pelo mercado. Tanto que ela não alterou uma tendência de baixa na bolsa de Nova York, onde os investidores continuaram a realizar os ganhos da alta recente, temerosos de um alta de juros no início do mês que vem, que o Fed sinalizou pouco antes do Natal.
Clinton anunciou a recondução de Greenspan durante uma breve cerimônia do salão oval, o gabinete presidencial na Casa Branca. O presidente americano disse que a dedicação de Greenspan ao serviço público e sua aceitação do convite para permanecer no comando do Fed deve ser "motivo e celebração não apenas nos EUA mas em todo mundo".
Clinton lembrou o importante papel que o banco central americano teve, junto com sua administração, na condução da crise financeira asiática "e de muitas outras coisas que enfrentamos nos últimos sete anos".
Clinton elogiou o chefe do Fed por sua capacidade de combinar "análise sofisticada e o velho senso comum" e por seu pioneirismo "como um dos primeiros membros de sua profissão a reconhecer o poder do impacto das novas tecnologias na nossa economia e com elas mudaram as regras e as possibilidades". Mas o líder americano destacou, particularmente, a contribuição de Greenspan na articulação da política econômica que fomentou a extraordinária prosperidade que os EUA vivem há quase nove anos, com os mais baixas taxas de desemprego em três décadas.
"Claramente, a sábia liderança do Federal Reserve desempenhou um papel muito grande na nossa economia", depois de listar os outros fatores que ajudaram a garantir o crescimento: "o grande espírito empreendedor (dos americanos), as impressionantes inovações tecnológicas, empresas bem administradas, o trabalho duro dos homens e mulheres na nossa força de trabalho, a expansão dos mercados para os nossos bens e serviços e um total compromissos com a disciplina fiscal".
O presidente americano enfatizou a importância da autonomia do banco central no sucesso econômico dos EUA, uma tema que deve ter ressonância especial no Brasil numa semana em que o presidente Fernando Henrique Cardoso inadvertidamente limitou a autonomia de ação do Banco Central e criou na cabeça de muitos investidores uma banda cambial informal, indicando sua preferência por um real que flutue na faixa de 1,75 a 1,85 por dólar.
Sob Greenspan, disse Clinton, o Fed "tomou decisões independentes, profissionais e provavelmente sábias de política monetária". O presidente voltou mais de uma vez ao tema da independência do banco central em seu discurso. Logo no início, brincou que estava interferindo pela primeira vez na autonomia do Fed ao instruir Greenspan a ficar do seu lado, durante o anúncio de sua renomeação.
"Embora meus assessores ajam para garantir que eu jamais dê conselho ao presidente Greenspan, eles não foram capazes de me impedir de pedir-lhe conselhos", disse Clinton.
O atual mandato de Greenspan termina em junho e Clinton poderia ter esperado mais algumas semanas para confirmá-lo no posto. Se antecipou o anúncio foi por cálculo político - para negar aos dois principais desafiantes republicanos do vice-presidente Albert Gore na disputa à presidência, o governador do Texas, George W. Bush, e o senador de Arizona, John McCain , espaço para se associarem ao sucesso econômico dos últimos anos defendendo a recondução de Greenspan. Ambos já haviam afirmado que, se eleitos, manteriam Greenspan na presidência do Fed.
A decisão de Clinton depende ainda de confirmação do Senado, mas Greenspan não terá problemas para ser aprovado. "O presidente tomou uma sábia decisão", disse o deputado Jim Leach
republicano de Iowa que preside a Comissão de Finanças da Câmara de Representantes. "Ela sublinha o fato de que o país tem sido bem servido por um Federal Reserve independente e não partidário".

