Clinton espera que parentes de Elián respeitem a lei
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terça-feira, 28 de março de 2000
Washington, 29 (AE-AP) - Enquanto funcionários do Departamento de Justiça e do Serviço de Imigração e Naturalização (INS) dos Estados Unidos tentavam convencer os parentes de Elián González em Miami a acelerar o desfecho da disputa pela custódia do garoto cubano, o presidente norte-americano Bill Clinton afirmava, em entrevista coletiva concedida em Washington, esperar que eles respeitassem "a decisão da lei".
As autoridades do INS ameaçam cassar amanhã (30), às 9h de Washington (11h em Brasília), a guarda provisória concedida a um tio-avô de Elián, Lázaro González, caso ele não concorde em firmar um compromisso de entregar imediatamente o garoto se for derrotado na apelação que impetrou na segunda-feira num tribunal de Atlanta.
Hoje à tarde, pelo segundo dia consecutivo, os representantes legais de González recusaram-se a assinar o compromisso. Mas a referência de Clinton à decisão da Justiça foi interpretada em Miami como uma indicação de que o governo não tem a intenção de repatriar o garoto à força antes de o Tribunal de Apelações de Atlanta manifestar-se - o que não deve ocorrer antes de três semanas.
"Essa opção (de respeitar a decisão judicial) deve ser tão válida para eles (os parentes de Elián) como é para qualquer outra pessoa", disse Clinton. "Se ganham no tribunal, os outros terão também de aceitar isso."
O INS considera que a Justiça já se manifestou sobre o caso Elián quando, na semana passada, um juiz da Flórida rejeitou um pedido dos advogados de Lázaro González para que fosse concedido asilo político ao garoto.
Tanto para a imigração quanto para a secretária de Justiça dos Estados Unidos, Janet Reno, a estratégia dos parentes de Elián na Flórida é a de postergar indefinidamente a decisão da imigração de janeiro, de devolver o garoto ao pai, Juan Miguel González, que vive em Cuba.
A repatriação forçada de Elián poderia ter consequências sérias para a candidatura presidencial do democrata Al Gore, apoiado por Clinton, na Flórida - um dos principais colégios eleitorais dos EUA, fortemente influenciado pela comunidade cubano-americana. Esse fato poderia explicar a cautela de Clinton em relação ao caso Elián.
Ante a possibilidade de uma rápida repatriação do garoto, a rede de TV ABC recuou de sua decisão de não transmitir as imagens de Elián declarando, numa entrevista à repórter Diane Sawyer, que não queria voltar à Cuba. Na véspera a emissora anunciou que não divulgaria a imagem para evitar que ela fosse explorada politicamente.
Na terceira e última parte da extensa entrevista, a jornalista também perguntou ao menino se gostaria que seu pai o visitasse em Miami. A princípio, ele não respondeu. Perguntado de novo, ele murmurou "não". Sawyer pergunta a ele por que não. Os lábios de Elián se movem no vídeo, mas apenas a tradução para inglês de suas palavras na voz de Sawyer é ouvida: "Porque ele vai me levar para Cuba e eu não quero ir para Cuba."
E apesar de o garoto ter dito que não gostava de nada em Cuba, ele também disse que não gostava de nada em Miami.
Num indício de que o desfecho do caso Elián ainda não é iminente, a Seção de Interesses Americanos em Havana informou que nenhum parente de Elián em Cuba tinha pedido visto de entrada nos Estados Unidos para ir buscar o garoto. O prefeito do condado de Miami-Dade, Alex Penelas, disse que ordenou aos policiais locais que não ajudem aos federais, caso eles se disponham a repatriar o menor à força.