Belém, 10 (AE) - Cerca de 1,5 milhão de romeiros acompanharam hoje, pelos 5 quilômetros das ruas centrais de Belém, no Pará, durante seis horas, o Círio de Nossa Senhora de Nazaré. O detalhe negativo foi a decisão da diretoria do Círio de cortar a corda de 350 metros, desatrelando-a da berlinda onde estava a imagem da santa. A corda é levada por milhares de pessoas que vão à procissão com o único propósito de pagar promessas à santa por graças e curas alcançadas.
Segundo diretores, a corda foi cortada para evitar que, durante o tumulto e a pressão dos fiéis sobre ela, houvesse problemas para a segurança de autoridades e convidados que acompanhavam a procissão no espaço reservado atrás da berlinda. O local normalmente é protegido por 300 homens da guarda da santa. Sem a corda presa à berlinda, diziam eles, a procissão anda mais depressa e sem muitos sacrifícios para todos. Privilégios - A justificativa, porém, não convenceu os romeiros. Eles acusaram os diretores de privilegiar lugares para ricos e poderosos na procissão, alijando os mais pobres, sobretudo os foram pagar suas "promesseiros", de estarem mais próximos da imagem da santa por meio da corda. "Andei 120 quilômetros a pé para pagar promessa de cura de um câncer que tive na garganta, mas fizeram isso comigo", protestou o goiano Hamilton Ferreira.
O ministro do Esporte e Turismo, Rafael Greca, convidado para assistir ao Círio pelo governador Almir Gabriel, afirmou que a procissão revela uma "fé de proporções amazônicas, que arrepia a gente e contagia qualquer pessoa". De acordo com Greca, todo brasileiro, ao menos uma vez na vida, deveria ir a Belém para participar da procissão. "Isso revigora a alma do nosso povo e reacende a esperança numa vida melhor". Acidentes - Os 3 mil voluntários da Cruz Vermelha e os 10 mil homens da Polícia Militar, Exército e Defesa Civil mobilizados para garantir a segurança dos romeiros foram impotentes para evitar os inúmeros acidentes que ocorreram. De acordo com médicos de dez hospitais e pronto-socorros de Belém, cerca de 650 pessoas foram atendidas e medicadas. A maioria apresentava ferimentos provocados por quedas. Descarga - O caso mais grave foi o da estudante Adriana Vieira Santos, de 18 anos. Ela pisou num fio de energia elétrica desencapado recebendo uma forte descarga. Foi levada desacordada pela Cruz Vermelha a um hospital, onde chegou em estado de coma.