Qual o segredo da longevidade? A questão persegue cientistas há séculos. Na Idade Média, por exemplo, os alquimistas dedicaram anos e anos de suas vidas na tentativa de descobrir um elixir para ''curar'' o envelhecimento. Agora o tema ganhou luz com a descoberta de pesquisadores da Harvard Medical School de Massachusetts (EUA) e do Children's Hospital de Boston (EUA), entre outras instituições. Eles detectaram uma região no cromossomo 4 que traz um conjunto de genes, possivelmente dez, responsáveis pela produção de doenças. Os cientistas acreditam ser esta uma área em comum entre as pessoas pesquisadas - 137.100, com idades entre 91 e 109 anos. Os coordenadores do trabalho, o geriatra Thomas Perls e o geneticista Lou Kunkel, da Howards Hughes Medical Institute, avisam que o objetivo é enveredar por caminhos que possibilitem ao ser humano ficar preservado de doenças típicas da velhice e não apenas prolongar a vida.

Em contrapartida, enquanto a ciência não chega à fonte da vida, alguns especialistas desenvolvem teorias para uma vida mais longa e saudável. ''Sempre se considerou a vida muito curta para tudo o que se pode usufruir dela. Todos desejam a longevidade, e que ela venha de preferência sem rugas, dores nas costas ou cabelos brancos'', diz Helion Póvoa, um dos precursores da medicina ortomolecular no País e especialista na área de nutrição e bioquímica, membro da Academia Nacional de Medicina. ''Hoje, o sonho de viver mais tempo só não é maior do que o de ser eternamente jovem'', explica ele em ''A Chave da Longevidade'' (Editora Objetiva).

Segundo o médico, desde que a ação dos radicais livres foi descoberta, o organismo passou a ser tratado sob a ótica da bioquímica e da fisiologia celular. ''Estamos construindo um modelo preventivo de sa© úde, em que o equilíbrio químico de cada indivíduo é a sua principal defesa contra os fatores que provocam o envelhecimento precoce e as doenças.'' Ele informa que sua teoria não questiona a medicina clássica, pois ''são inegáveis os benefícios trazidos por ela para a humanidade''.

''Mas é também inegável que o enfoque na cura deixou de lado as práticas preventivas. A doença se tornou mais importante que o doente. Até mesmo as mais elementares regras de alimentação, essenciais para manter a saúde, foram sendo negligenciadas dentro de um modelo médico em que os remédios dão conta de tudo'', salienta. Na opinião do médico, a manutenção do bem-estar do corpo e do espírito até o final da vida passa pela prevenção, combatendo os radicais livres e retomando o potencial antioxidante do nosso organismo.

Para entender o processo do envelhecimento, Póvoa verifica que os radicais livres começam a ser produzidos no momento da respiração. Após entrar no organismo, o oxigênio vai para as mitocôndrias (pequenas organelas depositadas no plasma celular) e, dentro delas, passa por mutações até se transformar em água - 70% de nosso organismo é composto de água. No entanto, aproximadamente 2% do oxigênio modifica-se em radicais livres.

''Começam aí nossos problemas. Formamos radicais livres continuamente e, quando em excesso, eles acabam provocando o envelhecimento e as doenças'', aponta o especialista. Todas as células humanas, completa, são vulneráveis à ação desses derivados do oxigênio. A ação do radical livre no corpo é extremamente rápida. Póvoa frisa que o tempo de vida de um radical livre é de apenas cerca de dez microssegundos - um microssegundo é o milésimo do milésimo do segundo. ''Assim, quando não controlada, a reação em cadeia formada pelos radicais livres passa a ser um detonador de problemas no nosso organismo.''