Cidades precisam se adaptar às mudanças climáticas
Evento promovido pela UTFPR reuniu pesquisadores e especialistas para debater problemas ambientais
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quarta-feira, 11 de dezembro de 2024
Evento promovido pela UTFPR reuniu pesquisadores e especialistas para debater problemas ambientais
Jéssica Sabbadini - Especial para a FOLHA

Hoje, cada um sente na pele, nos olhos e na garganta os sinais das mudanças climáticas. Queimadas, inundações, ondas cada vez mais intensas de calor. Os efeitos estão presentes no agora e, por isso, é fundamental trabalhar para amenizar o problema, já que não é mais possível reverter o que está em andamento.
A temática das mudanças climáticas e o que as cidades precisam fazer para se adaptar frente aos seus efeitos foi tema de um evento promovido pelo campus de Londrina da UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná) na semana passada. A reportagem conversou com alguns dos pesquisadores para entender o papel de cada um na tentativa de resolução dos problemas.
Professora da UTFPR e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental, Leila Martins explica que o objetivo é discutir os problemas enfrentados pelas cidades e meios para que elas sejam mais resilientes. A palavra, segundo ela, é adaptação frente às mudanças climáticas que já estão em curso, sendo que é papel da academia promover esses debates para que, a partir daí, o poder público possa fazer a sua parte.
Na prática, explica, falar em problemas ambientais é analisar os efeitos que determinadas ações, como a exploração de recursos naturais, causam ao meio ambiente. “É um problema da sociedade. Como lidar com as mudanças climáticas, que é algo que está nos afetando hoje”, aponta. Ela acrescenta que isso ocorre por conta da ação humana, com a emissão de gases pelo uso de combustíveis fósseis e a substituição de florestas por áreas agrícolas.
Um exemplo recente dos impactos é a inundação de diversas cidades no Rio Grande do Sul, que era algo que os pesquisadores já previam. Segundo ela, com o aumento da temperatura, os dados indicavam que a Região Sul poderia enfrentar índices de precipitação mais altos e eventos cada vez mais extremos.
O principal problema, de acordo com Martins, é que o Estado não se preparou para o que poderia acontecer. “Foi um desastre de grandes proporções que poderia ter sido minimizado”, ressalta.
Com as mudanças climáticas em curso, as cidades precisam se adaptar, já que quase 90% da população brasileira vive em áreas urbanas. A nível local, Martins destaca os efeitos que as queimadas tiveram em todo o Paraná e em diversos outros estados, sendo que grande parte das cidades ficou encoberta por conta da nuvem de fumaça.
“Não estava queimando necessariamente aqui do nosso lado, mas nós estávamos sentindo”, explica. A fumaça, segundo ela, carrega componentes químicos que fazem mal à saúde, com efeitos na garganta e nos olhos. “Esse é um grande exemplo dos impactos causados pela atividade humana porque essas queimadas não são naturais”, ressalta.
Ela pontua que as cidades não estão adaptadas aos eventos cada vez mais extremos por conta da mudança do clima, assim como o sistema imunológico dos seres humanos também não está, já que a partir dos 35°C o corpo começa a sentir os efeitos.
LAGO IGAPÓ
Professor de economia da UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná), Marcos Rambalducci explica que é necessário tornar a bacia do Ribeirão Cambé, que forma o Lago Igapó, resiliente às condições climáticas adversas, como fortes chuvas, períodos prolongados de estiagem e temperaturas elevadas ou muito baixas.
O objetivo, explica, é que, em dias de chuva, o volume de água seja diluído ao longo do seu curso, e que o lago possa ser utilizado como reservatório para abastecimento da cidade em períodos de estiagem.
Para isso, o primeiro passo é a proteção da água, com a criação de barreiras de contenção de poluição nas bocas de lobo e na entrada da água no curso, com sistemas de decantação das substâncias sólidas.
APRENDER COM A NATUREZA
A arquiteta urbanista Riciane Maria Reis Pombo trabalha com projetos de regeneração ambiental. Essas soluções, segundo ela, também envolvem inovação, já que é preciso conectá-las com as tecnologias dos dias de hoje. Ela destaca que as lagoas são reservatórios que servem para conter a água da chuva e evitar inundações de áreas urbanizadas. “Em vez de criar reservatórios de concreto, você cria lagoas”, explica, complementando que esse tipo de solução é chamada de infraestrutura híbrida, já que conecta a natureza com o “cinza” do processo de urbanização.
Riciane trabalhou na recuperação das nascentes do Lago Cabrinha, na zona norte, em 2021, que estavam soterradas pelas pedras. Ali, a ideia foi utilizar as soluções baseadas na natureza com apoio da comunidade que vive no entorno. “Hoje é uma área toda verde. Parece outro lugar”, garante. Para as cidades, ela aponta que é fundamental a manutenção de áreas verdes, que ajudam a minimizar os efeitos das ilhas de calor.
Nesse trabalho, o envolvimento da comunidade é essencial, de acordo com Riciane, já que é necessário entender o que as pessoas precisam, assim como permitir com que elas usufruam do espaço e continuem preservando. Foi feito um trabalho de conscientização sobre os tipos de plantas inseridos no Lago Cabrinha e a função de cada uma delas no funcionamento do ecossistema.

