SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O ciclone extratropical que se formou entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina na terça (30) trouxe para a região uma grande quantidade de ar frio que deve deixar as temperaturas mais baixas por ao menos dez dias.

Ciclones desse tipo se formam pelo encontro de massas de ar em temperaturas muito diferentes. Ar quente e ar frio têm densidades distintas, e quando se aproximam geram movimentos verticais ascendentes, rajadas de vento e linhas de instabilidade, explica o meteorologista Lucas Alberto Fumagalli Coelho, mestrando na Universidade Federal de Pelotas (UFPel).

No caso do fenômeno da terça, o ar quente que estava sobre a região Sul encontrou uma massa de ar frio vinda das regiões polares. Esse ar entrou no continente pelo oceano.

O encontro produz um centro com pressão atmosférica muito baixa em relação ao seu redor, o que gera o ciclone.

"Ciclones podem acompanhar frentes frias, mas não é comum que tenham essa intensidade", afirma Vladair Morales de Oliveira, meteorologista do Centro de Pesquisas e Previsões Meteorológicas (CPMET), da UFPel.

Em Santa Catarina e no Paraná, os ventos chegaram a 120 km/h, segundo a Defesa Civil. Em Santa Catarina, as cidades mais afetadas foram Morro da Igreja (120 km/h), Tangará (111 km/h) e Chapecó (108 km/h).

Segundo os meteorologistas, a intensidade do ciclone depende de quão diferentes eram as temperaturas das massas de ar quando se encontraram, entre outros fatores. Medições futuras poderão confirmar se esse foi, de fato, um ciclone-bomba, que acontece quando a pressão atmosférica tem queda muito brusca num período de 24 horas.

Os ventos mais fortes acontecem na parte leste de onde o ciclone se forma, o que explica que as cidades mais próximas da costa estejam entre as mais afetadas.

Após a formação, ciclones se deslocam sobre o oceano no sentido sudeste, se afastando cada vez mais do continente. Eles deixam para trás uma grande quantidade de ar frio que leva mais tempo para se deslocar em direção ao oceano. As temperaturas na região sul devem despencar e permanecer assim por alguns dias, segundo meteorologistas.

O Simepar (Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná) informou que não há mais riscos de tempestade no estado, mas as temperaturas devem ficar bem baixas nos próximos dez dias, com temperaturas mínimas próximas de 0º C.

Em Santa Catarina, a defesa civil alertou para a possibilidade de marés muito altas e ressaca até esta quinta (2).

O Sudeste também deve sentir efeitos do ciclone nos próximos dias, com ventos e quedas na temperatura.

O último grande ciclone que atingiu o Sul, o Catarina, passou por RS e SC em 2004, com ventos de quase 180 km/h.