Integrantes de grupos de ciclismo de Londrina reuniram-se na tarde deste sábado (8), no aterro do Lago Igapó, para protestar contra a retirada da ciclovia da avenida Ayrton Senna, uma das principais vias que cortam a Gleba Palhano (zona sul). A mudança faz parte de um projeto do Ippul (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina) para alargar a faixa de rolamento e melhorar o fluxo de veículos no local. Os ciclistas reivindicam a manutenção do espaço destinado a eles.

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. | Foto: Isaac Fontana/FramePhoto/Folhapress

As mudanças na avenida Ayrton Senna, segundo o município, são necessárias para aumentar a quantidade de pistas de rolamento, que devem passar de duas para três. Com o alargamento do espaço destinado ao tráfego de veículos motorizados, a ciclovia deverá ceder espaço às vagas de estacionamento. O projeto orçado em R$ 600 mil está em fase final e compreende, além da avenida, a rotatória da avenida Maringá.

Os ciclistas já haviam feito protestos anteriormente contra o projeto do município, mas neste sábado a Associação Transporte Ativo, que coordena a mobilização, conseguiu reunir um número maior de participantes que após se concentrarem no aterro, seguiram em direção à avenida Ayrton Senna.

Coordenador da associação, Luiz Afonso Giglio lembrou que o MP (Ministério Público) foi acionado para intermediar as negociações com o município, mas com a pandemia do novo coronavírus, as tratativas foram suspensas e os ciclistas afirmam terem sido surpreendidos com o início das obras. “Tem que incentivar a população a usar a bicicleta, mas em vez disso, anunciam a retirada da ciclovia. A solução seria retirar o estacionamento para poder manter a ciclovia. A avenida Ayrton Senna é um eixo de comunicação com outras regiões da cidade. Tirando a ciclovia daqui, não temos alternativa”, destacou.

Giglio cita a Política Nacional de Mobilidade Urbana, que determina diretrizes para o incentivo do uso do transporte público e de meios alternativos de deslocamento, como a bicicleta. Ele cobra do poder público que os ciclistas sejam priorizados no espaço urbano, uma vez que a bicicleta não é apenas um item de lazer, mas consiste no principal meio de transporta para muitos trabalhadores e estudantes da cidade.

“É um retrocesso essa questão”, avaliou o funcionário público João Batista da Silva, que pedala por lazer, em grupo ou sozinho, de duas a três vezes por semana. Ele lembra da escassez de ciclovias na cidade e da falta de integração entre elas e lamenta que em vez de o poder público implementar medidas para facilitar o deslocamento por meio das bicicletas, decide pôr em prática um projeto que reduz um espaço exclusivo para os ciclistas. “Com a pandemia, aumentou muito o número de pessoas circulando pelas ruas de bicicleta para não ter de usar o transporte público por risco de contaminação. A gente já tem poucos espaços de ciclovia e os poucos que têm, não são integrados. Disputamos com os carros”, comentou.

A assistente social Liz Clara Campos reforça a ideia de retrocesso e analisa que o município, com essa medida, caminha na direção contrária aos países desenvolvidos. “A questão da mobilidade é uma luta antiga. Com menos carros nas ruas, melhora a questão ambiental, melhora a saúde da população. Andar de bicicleta ajuda no processo de envelhecimento. A população envelhece melhor. Olhar para o ciclista, é olhar para as pessoas.”

Procurada pela reportagem, a prefeitura disse apenas que a questão está bem encaminhada com o MP que teria intermediado um acordo, aceito pelos ciclistas. O acordo previa a execução de duas ciclovias para compensar a extinção da atual. Uma ficaria à direita da avenida Ayrton Senna e outra, à esquerda da via. Segundo os ciclistas, no entanto, o acordo não chegou a ser formalizado em razão da suspensão das negociações por causa da pandemia.