China e União Européia amargam fracasso em negociações comerciais
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quinta-feira, 30 de março de 2000
Por Vladimir Goitia
São Paulo, 31 (AE) - As negociações comerciais entre a União Européia e a China para uma maior abertura desses dois mercados e, consequentemente, para o ingresso dos chineses à Organização Mundial do Comércio (OMC) fracassaram hoje (31) em Pequim. De nada adiantaram as consecutivas viagens do comissário (ministro) de Comércio da UE, Pascal Lamy, à China e de sua disposição "flexível", de acordo com ele, para reduzir as divergências de postura entre as duas partes.
Lamy, que esteve a menos de 15 dias no Brasil tentando arrancar um apoio para a preparação de uma nova reunião ministerial da OMC com vistas a lançar a tão sonhada Rodada do Milênio, declarou que voltaria a Bruxelas para fazer consultas aos 15 governos que compõem o bloco europeu e tentar um novo "mandato negociador". Logo depois de encerradas as conversações, Lamy negou-se a informar onde houve avanços ou os pontos onde ainda existem divergências para chegar a um acordo.
Os chineses, por sua vez, limitaram-se a dizer que as conversações foram "construtivas e positivas" e que o governo chinês estendeu um novo convite a Lamy para uma nova rodada de negociações. O governo de Pequim não disse, entretanto, onde e quando seria essa nova rodada. Esse fracasso transformou-se, agora, no principal obstáculo para o ingresso da China à OMC, previsto inicialmente para este ano, já que a União Européia passou a ser um dos poucos blocos de países com os quais a China ainda não conseguiu chegar a um acordo bilateral.
A União Européia é o terceiro maior parceiro comercial dos chineses com um intercâmbio comercial que chega a aproximadamente US$ 56 bilhões. A China, por sua vez, conta com o maior mercado potencial do mundo, com 1,3 bilhão de habitantes. A UE tentou minimizar o rotundo fracasso dos últimos quatros dias negociações afirmando que tanto chineses como europeus tinham conseguido "grandes avanços". No entanto, um dos principais aspectos das negociações, como o acesso aos mercados nas áreas de telecomunicações e serviços financeiros, incluindo seguros, praticamente estagnou. Nem mesmo o encontro entre Lamy e o primeiro-ministro chinês, Zhu Rongji, na quarta-feira, destravou o diálogo comercial.
O fracasso de europeus e chineses passou também a ser um revés para o presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, que luta no Congresso norte-americano pela aprovação do projeto de lei para conceder à China a condição de país com relações comerciais normais e permanentes (NTR). Clinton quer ainda a aprovação do recente acordo comercial assinado entre Washington e Pequim.
Os opositores de Clinton querem, por sua vez, que a China melhore substancialmente a questão dos direitos humanos no país e as condições de vida dos trabalhadores chineses antes de ingressar à OMC.