Santiago, 15 (AE) - O Chile irã neste domingo (16) às urnas para escolher seu presidente na eleição mais disputada em décadas. Os dois candidatos, Joaquín Lavín e Ricardo Lagos, estão praticamente empatados segundo as últimas pesquisas de opinião, e pela primeira vez em sua história o país escolherá um presidente num segundo turno eleitoral.
O esquema de segurança para a votação será reforçado, pelo temor do governo de que haja conflitos entre os partidários dos candidatos, devido à diferença muito pequena que pode frustrar um dos lados nos últimos momentos.
O país está dividido entre Lagos, de 62 anos, candidato da coalizão governista de centro-esquerda Concertación, e Lavín, de 46, da oposição de direita, figuras praticamente opostas tanto por seu estilo político quanto por sua história.
A diferença de preferência do eleitorado entre os dois candidatos é tão pequena que os dois comandos de campanha chegaram a um acordo para evitar a divulgação de resultados parciais antes que saiam os resultados oficiais apurados pelo Ministério do Interior, temendo criar expectativas errôneas nos partidários dos candidatos e eventuais conflitos.
Os dois candidatos estão tentando arregimentar o maior número possível de fiscais para a apuração e terminaram suas campanhas confiantes. No primeiro turno, Lagos venceu Lavín por uma diferença de apenas 0,44% das preferências, ou 30.000 votos. Lagos venceu com 3,38 milhões de votos, ou 47,96%, e Lavín teve 3,35 milhões, ou 47,52%.
Entre votos nulos e abstenções há mais de 1 milhão de eleitores, que serão o fiel da balança. Os dois lados já estudaram nomes e têm prontas equipes para uma eventual transição em caso de vitória. Como se não bastasse a estreita diferença de intenções de voto entre os dois candidatos, também contribui para o clima de tensão e divisão o perfil praticamente oposto dos candidatos.
Lagos é socialista e participou do traumático governo do presidente Salvador Allende, morto no palácio La Moneda durante o golpe de Estado de 1973. Tornou-se conhecido durante a campanha do "não" para o plebiscito de 1988, fazendo um discurso inflamado contra o general Augusto Pinochet num programa na tevê. Foi ministro nos dois últimos governos da Concertación, de Patricio Aylwin e Eduardo Frei. É casado informalmente, porque se separou da primeira mulher e a lei chilena não permite divórcio.
Lavín começou na política como discípulo do principal adversário de Lagos: Pinochet. Com pós-graduação numa universidade norte-americana, trabalhou para o regime militar e criou o caderno de economia do jornal El Mercurio. É casado, tem sete filhos e é contra a lei de divórcio.
Os perfis tão diferentes não impediram que os dois candidatos se afastassem dos extremos ao longo da campanha para conquistar o eleitorado de centro e afastar os fantasmas de Allende e Pinochet.
O episódio mais claro e recente da moderação dos dois lados foi a reação dos candidatos à possível volta de Pinochet ao Chile. A decisão britânica, tomada a apenas a alguns dias das eleições, tomou a cena política e as reações foram as mais contidas possíveis.
Lavín procurou desvincular-se de Pinochet durante a campanha, e assim que soube da decisão britânica disse que o senador deveria deixar a vida pública quando voltar ao país. Afirmou ainda que não tentaria contatar o ex-ditador. A atitude de Lavín desagradou a alguns setores da extrema direita chilena, como o pequeno Movimento Pinochetista Unitário, que anunciou na sexta-feira que não apoiaria sua candidatura.
Lagos, histórico adversário do general, apoiou a atitude do governo de pedir a liberação de Pinochet por razões humanitárias
mas pediu seu julgamento no Chile. Sua atitude também desagradou ao Partido Comunista, que criticou duramente o governo por ajudar o ex-ditador a "escapar da Justiça", segundo a ex-candidata do partido à presidência, Gladys Marín.
As atitudes dos candidatos sobre o assunto Pinochet mostraram que os dois estão pisando em ovos para tentar conquistar novos eleitores sem perder os que já ganharam no primeiro turno. Lagos tenta conquistar os 3% de votos conseguidos no primeiro turno pela candidata comunista, mas também procura não perder a adesão da parte mais conservadora da Concertación, os democrata-cristãos.
Lavín também tenta se desvincular o máximo possível do regime militar para tentar conquistar democrata-cristãos. Lagos conseguiu a adesão de diversas entidades evangélicas, que aderiram à sua candidatura contra Lavín, que pertence à ordem católica Opus Dei.