Censo 2022: brasileiras têm menos filhos e adiam maternidade
Número de filhos por mulher no Brasil é o menor da história; elas também estão ficando grávidas mais tarde
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domingo, 29 de junho de 2025
Número de filhos por mulher no Brasil é o menor da história; elas também estão ficando grávidas mais tarde
Lucas lacerda e Tiago Cardoso - Folhapress

SÃO PAULO, SP - A taxa de fecundidade no Brasil, que estima o número médio de filhos que uma mulher teria ao longo de sua vida reprodutiva, atingiu em 2022 o menor nível da série histórica —1,55 filho por mulher, em meio a uma trajetória de queda mantida após 1960, quando o índice era 6,28.
As brasileiras também têm se tornado mães mais tarde, tendo filhos com uma idade média de 28,1 anos em 2022, ante 26,3 anos em 2000 e 26,8 anos em 2010.
A informação é do Censo Demográfico 2022 e foi divulgada na última sexta-feira (27) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), com dados que remontam a 1940. O recenseamento também indica que mais mulheres na faixa de 50 a 59 anos disseram não ter filhos, contingente que representava 16,1% deste grupo em 2022, 10% em 2000 e 11,8% em 2010.
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A taxa de fecundidade no país está abaixo do chamado nível de reposição, de 2,1 filhos por mulher. Essa é a média necessária para que o tamanho da população se mantenha estável.
No recorte por regiões, Sudeste e Sul tiveram os menores registros desta taxa, com 1,41 filho por mulher e 1,50 filho por mulher, respectivamente. Estados dessas regiões iniciaram esse processo de redução primeiro, segundo técnicos do IBGE, mas o fenômeno já ocorre de forma generalizada. As taxas de fecundidade em 2022 para Norte, Nordeste e Centro-Oeste foram, respectivamente, 1,89, 1,60 e 1,64.
"Esse processo começou na região Sudeste, nas unidades da federação mais desenvolvidas, nas áreas urbanas e na população de nível de escolaridade maior, depois foi se espalhando pelo Brasil. Essa diferença diminuiu bastante, como se pode observar com a convergência dessas taxas, mas ainda existe", afirmou gerente de estudos e análises da dinâmica demográfica do IBGE, Izabel Marri. "Então, o Norte ainda está num momento anterior ao que já passaram o Sudeste e o Sul do Brasil, em termos de queda da fecundidade."
PARANÁ
No Paraná, a taxa de fecundidade, segundo o IBGE, ficou na média nacional, de 1,55 filho por mulher. Em 2010, a taxa no Estado era de 1,74, o que evidencia uma queda em pouco mais de uma década.
Em relação às paranaenses, o censo apontou que elas estão tendo menos filhos e cada vez mais tarde. A idade média de fecundidade no Paraná aumentou 1,4 anos em 12 anos – passando de 27 anos em 2010 para 28,4 anos em 2022.
O Estado segue uma tendência nacional, cuja média avançou de 26,8 para 28,1 anos no período, mas se destaca entre os estados do Sul como aquele em que as mulheres têm filhos mais cedo. Em Santa Catarina, a média é de 28,7 anos, e no Rio Grande do Sul, de 29 anos.
Outro indicativo dessa mudança no comportamento reprodutivo é o aumento do percentual de mulheres que não tiveram filhos. Em 2010, 9,5% das paranaenses entre 50 e 59 anos não eram mães. Doze anos depois, o índice subiu para 13%, em consonância com uma tendência observada em todo o País.
Outros Estados
Entre unidades federativas, a idade média de fecundidade mais alta foi registrada no Distrito Federal (29,3 anos), e a mais baixa, no Pará (26,8 anos). São Paulo, estado mais populoso, registrou idade média em 2022 de 28,9 anos. Em seguida estão Minas Gerais e Rio de Janeiro, ambas com 28,5 anos.
No mesmo recorte, as maiores proporções de mulheres entre 50 a 59 anos que declararam ao IBGE não ter filhos foram registradas no Rio de Janeiro (21%), em São Paulo (17,9%) e no Ceará (17,5%). As três menores, por outro lado, em Tocantins (11,8%), Rondônia (12,7%) e Santa Catarina (12,8%).
A divisão por cor ou raça para taxa de fecundidade total em 2022 indica a maior quantidade de filhos por mulher entre indígenas (2,84). Em seguida estão pardas (1,68), pretas (1,59), brancas (1,35) e amarelas (1,22). A taxa de fecundidade total entre mulheres sem instrução ou com ensino fundamental incompleto era de 2,01 filhos por mulher, acima da média do país, de 1,55. Já as mulheres com ensino superior completo registraram a menor taxa, de 1,19.
Os dois fatores — menos filhos e mais mães engravidando mais tarde— já vêm sendo apontados por outros levantamentos, inclusive um do próprio IBGE, as Estatísticas do Registro Civil, com base em dados de cartório, divulgado em maio deste ano.
A busca por melhores condições de trabalho e por mais educação e os custos para a criação de filhos têm peso nestas mudanças.
Um exemplo é a comparação por nível de instrução: em 2022, a idade média de fecundidade das mulheres sem instrução ou com ensino fundamental incompleto foi de 26,7 anos, e de 30,7 anos para aquelas com nível superior completo.
"Lá atrás a fecundidade começa a cair nesses grupos de mulheres com mais informação e mais acesso", disse Izabel Marri, do IBGE.
O acesso a informação e a métodos contraceptivos, o aumento de renda e a difusão de planejamento familiar são alguns dos fatores que podem ter contribuído para essa queda na fecundidade, diz o IBGE. "Todas esses essas razões para a queda da fecundidade, no mundo, em geral, vão girar juntas, inclusive o tamanho ideal de família que se quer", afirmou a gerente. "Isso é uma ideia que é difundida ao longo do tempo e isso vem também de outros povos, outros países."
No mundo
Na comparação da taxa de fecundidade total do Brasil com outros países, o Brasil fica atrás de Nigéria (4,6 filho por mulher), França (1,8) e Estados Unidos (1,7), e à frente de Argentina (1,5), Chile (1,3) e Itália (1,2).
Para a professora do Rosana Baeninger, do Núcleo de Estudos de População Elza Berquó, da Unicamp, a fecundidade elevada em países como França e Estados Unidos pode ter a influência da participação de mulheres migrantes.
"Se a taxa de fecundidade das nacionais estiver muito abaixo do nível de reposição de população, a fecundidade de mulheres imigrantes é importante na taxa média de fecundidade do país."
Religiões
Em uma comparação isolada por religião, as evangélicas têm as maiores taxas de fecundidade no Brasil, com 1,74 filho por mulher, e são as únicas a superar a média nacional, de 1,55. O grupo fica acima de católicas (1,49), sem religião (1,47), outras religiões (1,39), umbandistas e candomblecistas (1,25) — categoria que abrange outras religiões de matriz africana — e espíritas (1,01). Segundo técnicos do IBGE, no entanto, não é possível fazer relações de causa sem análises com temas como renda, trabalho, escolaridade e e local de residência. (Com Agência Estadual de Notícias)

