Rio, 18 (AE) - Um cemitério clandestino com várias ossadas humanas foi descorberto hoje pela Polícia Civil, a 120 metros da Estrada das Paineiras, um dos acessos para o Corcovado
no Rio. Os policiais acharam 11 grupos de ossos, que podem ser de oito corpos, roupas, documentos, jóias e bijuterias, segundo informou o chefe da operação, delegado Paulo Souto. Duas das ossadas podem ser de Isaías Andrade de Almeida e de Marcelo Xavier Bastos, cujos documentos estavam no local.
Usando um helicóptero e tendo o apoio de soldados do Corpo de Bombeiros, a polícia chegou ao local depois de receber uma denúncia anônima de que na Estrada das Paineiras estariam os restos mortais do padre Manoel Ruiz, que desapareceu em 1992, depois de uma visita a detentos do Sistema Penal do Rio. Apesar de ser um ponto turístico, o local também é conhecido pela polícia como uma região de desova de cadáveres.
As ossadas foram encaminhadas para o Instituto Médico-Legal (IML) para que fosse iniciado o trabalho de identificação. Uma nova busca será feita para a procura de outras ossadas. Próximo a um dos restos mortais foi achado o documento datado de 1968 de Isaías, que nasceu em 1953. Era uma carteira de estudante emitida pela Secretaria de Educação e Cultura da Divisão Primária, que indica que ele foi aluno da escola de ensino supletivo Doutor Cocio Barcellos.
Os policiais acharam ainda uma carteira com fotos, restos de um cartão bancário do Banco do Estado do Rio de Janeiro (Banerj) e um documento do PIS da Caixa Econômica Federal (CEF) de Marcelo Xaviera Bastos. O delegado acredita que as ossadas devem ser de pessoas assassinados há cerca de dez anos. O inspetor Cláudio Cruz, que participou junto com mais 30 homens da operação, considera, porém, que não pode ser descartada a hipótese de que os ossos sejam de desaparecidos políticos.
"O documento encontrado de Isaias é de 1968, o que leva a pensar que esse cidadão pode ter desaparecido na época da ditadura militar", afirmou Cruz. O médico-legista Abrãao Lincoln de Oliveira disse que deverão ser realizados exames da arcada dentária e de DNA. Mas, para isso, será necessário comparar o material com fichas dentárias e material genético de parentes. "Para fazer essas análises, precisaremos que parentes de pessoas desaparecidas nos procurem", disse Lincoln.
Segundo ele, um dos problemas para começar o trabalho de identificação é que em alguns grupos de ossos não foram achadas nem as arcadas dentárias. "Para o exame de DNA dos ossos, é necessário comparar com o DNA dos pais", disse o legista. Ele não descarta a possibilidade de que as ossadas sejam de mais de 11 corpos humanos, uma vez que os restos mortais estavam na superfície do solo e podem ter sido misturados. O legista explicou que classificou em 11 os grupos de ossos porque foram identificados 11 locais com restos mortais separados a uma distância de 50 metros cada um.