Cedae vai à Justiça contra pesquisador por denúncia de contaminação de chumbo na água
PUBLICAÇÃO
segunda-feira, 03 de janeiro de 2000
Por Beatriz Coelho Silva
Rio, 03 (AE) - O presidente da Companhia Estadual de água e Esgoto do Rio de Janeiro, Augusto Gomes (Cedae), vai entrar com uma queixa-crime contra o responsável pelo Laboratório de Análise Ambiental e Mineral (LAM) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), João Alfredo de Medeiros. Segundo o pesquisador, a água que chega às regiões mais antigas da cidade (Botafogo e Santa Tereza, na zona sul, e São Cristóvão
Santo Cristo e Méier, na zona norte) pode estar com chumbo em nível acima do recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Medeiros diz que, no todo, a água servida aos moradores do município e do Estado do Rio de Janeiro é de boa qualidade, e tem nível de chumbo menor do que a metade do limite de 50 partes por bilhão (50bbp) recomendada pela OMS. "O problema é localizado nos bairros antigos, onde os canos ainda são de chumbo e são dissolvidos pelo cloro colocado na água ou pela sua acidez", explicou o chefe do LAM. "O chumbo se acumula no organismo e provoca problemas de saúde que vão da prisão de ventre até a cegueira."
De 1995 até meados do ano passado o laboratório tinha um convênio com a Cedae para análise da água. Desde então, Medeiros acusa a concessionária estatal de não fazer com eficiência o controle da qualidade da água e de colocar cloro de maneira errada. "Eles colocam uma grande quantidade uma só vez ao dia, quando o correto seria pouca quantidade, várias vezes", explicou. "Essa é a causa da alta quantidade de chumbo na água, às vezes até 300 ou 600ppb em lugares onde os canos são antigos."
Retaliação - O presidente da Cedae nega a contaminação e acusa o professor Medeiros de fazer a denúncia em retaliação ao fim do convênio entre a Cedae e o LAM. Atualmente, a análise da água é feita pelo Laboratório de Análises Química, Ambiental e Microbiológica (Laqam) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), que tem dados diferentes do LAM.
Segundo o gerente do Laqam, José Antônio Pires de Mello, o problema da contaminação de água é pontual e não pode ser generalizado para toda a cidade ou Estado. Ele existe nos imóveis contruídos até a década de 60 que não tiveram a instalação de água trocada. "Naquela época, os canos eram de chumbo, mas hoje são de outro material", explicou Mello.
Augusto Gomes lembra que a doença causada pelo excesso de chumbo na água é o faturnismo e não há registro de casos no Estado do Rio. Mesmo assim, ele pretende divulgar a análise da água fluminense feita pelo Laqam para tranquilizar a população. "O laboratório dele não te sequer condições técnicas para uma análise desse tipo", disse Gomes. "E a prova de que ele agiu de má-fé é que os resultados negativos só foram divulgados quando ele perdeu o convênio com a Cedae.