Onze anos depois, o caso de Vanessa Cristiane Batista Gomes será julgado em Londrina nesta quarta-feira (23). O acusado pela tentativa de homicídio duplamente qualificado contra sua ex-companheira, José Laurentino da Silva Primo, é acusado também de ter cometido o crime de lesão corporal contra sua ex-sogra, Cenira Batista Gomes, atacada quando tentou defender a filha. A motivação para o crime foi a tentativa de Vanessa de pôr fim ao relacionamento abusivo que vivia com o réu havia dez anos. Primo cortou sua ex-sogra na noite do dia 6 de outubro de 2010, no Jardim San Rafael, na zona leste. O caso irá a julgamento no Tribunal do Júri de Londrina, às 9 horas, e poderá ser assistido ao vivo, pelo Youtube, no canal do Tribunal de Júri TJPR. Por ter ocorrido antes da lei do feminicídio, de 2015, o crime foi tipificado, na acusação, como homicídio qualificado tentado.

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TRÂMITE LONGO

A advogada Isabeau Lobo, uma das responsáveis pela redação dos informes do Néias (Observatório de Feminicídio de Londrina), ressaltou que o que mais gerou surpresa foi o trâmite de mais de dez anos. “Só o inquérito teve uma duração de seis anos. É um tempo enorme. Outra coisa que chamou a atenção é que, analisando os documentos, houve um agito judiciário de uma forma antes e de outro modo depois da lei de feminicídio. Como esse crime foi cometido em 2010, o reú vai se enquadrar dentro do homicídio duplamente qualificado por motivo torpe e por pegar a vítima de surpresa. Se ele cometesse esse crime depois de 2015 ele cairia na qualificadora de feminicídio e ficaria triplamente qualificado. A gente consegue ver a importância que o judiciário passa a dar a esses casos depois de 2016. O caso começou a fluir e ser levado mais a sério. Antes a mulher era vista como uma vítima comum e quando esses crimes aconteciam não tinham uma especificidade no trato, não tinha um agir mais cauteloso, coisa que hoje tem. Para se ter uma ideia, a vítima demorou 12 dias para ter uma medida protetiva”, afirmou. A reportagem tentou entrar em contato com o advogado do réu, mas ele não respondeu.

EDUARDA SHIGEMATSU

Já o julgamento do caso de Eduarda Shigematsu, que estava previsto para ir ao Tribunal do Júri no dia 24 de março, foi adiado para 26 de maio. Segundo o Ministério Público, ainda não houve uma notificação oficial da decisão de postergar o julgamento. O pedido de adiamento foi feito pela defesa dos dois réus, Ricardo Seidi, pai da vítima, que será julgado por feminicídio, ocultação de cadáver e falsidade ideológica; e da avó da garota, Teresinha de Jesus Guinaia, que responde por ocultação de cadáver e falsidade ideológica. O crime ocorreu em abril de 2019, quando Eduarda foi encontrada morta, enterrada no fundo de uma casa que pertence ao pai dela.

Segundo o advogado de Teresinha, Mauro Valdevino da Silva, de sua parte uma das testemunhas alegou que não poderia comparecer. "Para indicar outra testemunha pedimos mais prazo. O MPPR entende que a testemunha chave da defesa não poderia participar. Não foi informado o motivo, mas o Batalhão informou que naquela data o PM que seria testemunha não estaria disponível. Já a defesa anterior do Ricardo desistiu do processo e o réu foi obrigado a contratar um novo advogado, que acabou pedindo prazo para estudar o processo que possui mais de de 900 movimentos, com laudos e perícias a serem analisadas, e viu que não teria tempo para fazer toda essa análise a tempo até o dia 24 de março."

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Mauro Valdevino da Silva ressaltou que Teresinha foi absolvida em primeiro grau pelo Juizo da 1ª Vara de Justiça de Rolândia, que não verificou crime algum da parte dela. "O Tribunal de Justiça reformou a decisão para ser julgado no Tribunal do Júri, mas ela não tinha conhecimento do homicídio. Quando ela registrou o boletim de ocorrência, ela o fez cumprindo o que determina a lei de informar as autoridades, para a partir disso elas começassem a trabalhar. A informação no BO de que a Eduarda tinha desaparecido é verdadeira." Quanto a ocultação de cadáver, o advogado ressaltou que a acusação não tem o menor cabimento. "O Ricardo que tirou ela de casa e ele que ocultou o cadáver. Só ele estava lá. A denúncia contra a Teresinha é vazia. A justiça decidiu e estamos preparados para exercer a inocência dela.", declarou Silva. A reportagem tentou entrar em contato com a defesa de Ricardo Seidi, mas não obteve sucesso.

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